Vale a pena ler a reportagem do El País, excelente jornal espanhol que publica uma versão em português na internet.
Soledad Gallego-Díaz, Carmen Aristegui e Pedro Doria abordam, no Festival Gabo, os desafios de informar em um mundo complexo
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CATALINA OQUENDO
Medellín - 04 OCT 2019 - 17:55 BRT
O jornalismo, com frentes abertas no mundo todo, é atualmente mais necessário do que nunca para dar sentido a uma informação fragmentada. Em tempos de crise e de grande incerteza nas democracias, narrativas profissionais que informem e integrem as sociedades se tornam indispensáveis. Esse foi o diagnóstico compartilhado nesta quarta-feira pela diretora do EL PAÍS, Soledad Gallego-Díaz, pela jornalista mexicana Carmen Aristegui e pelo brasileiro Pedro Doria, que participaram de uma mesa-redonda em Medellín (Colômbia) dentro das atividades do Festival Gabo.
Jaime Abello Banfi, diretor da Fundação Gabo —criada em 1994 pelo escritor Gabriel García Márquez para promover o jornalismo ibero-americano—, atuou como moderador e abriu o debate com uma questão provocadora: “Jornalismo para quê?”. Aristegui, diretora e apresentadora do programa de entrevistas que leva seu nome no canal CNN em espanhol, foi a primeira a responder. Na opinião dela, “o jornalismo é uma ferramenta essencial e insubstituível para uma sociedade que exige estar informada. Então, perguntar-se jornalismo para que equivale a perguntar respirar para que, porque a comunicação é algo essencial. O jornalismo é uma parte substancial dos cidadãos”, disse a profissional, que mencionou vários dos colegas ali presentes, acrescentando que são por si mesmos a melhor resposta a essa pergunta.
Para Aristegui, o jornalismo serve para “investigar a ditadura de Pinochet, como faz a chilena Mónica González” ou “para falar de [Jair] Bolsonaro e não tolerar coisas que não podem ser toleradas numa sociedade”; “jornalismo para denunciar, como se tem feito na Nicarágua, as atrocidades que eles vivem”, acrescentou.
Gallego-Díaz mostrou-se convicta de que o jornalismo é “o único instrumento capaz de formar cidadãos”. O jornalismo fornece contexto, comprovação e informação, não uma mera notícia. "Isso precisa ser feito com instrumentos profissionais”, e mais ainda em uma etapa como a atual, marcada por uma forte incerteza internacional, acrescentou a diretora do EL PAÍS. Redes sociais como Facebook, Instagram e Twitter servem como instrumentos de comunicação, mas não são jornalismo, alertou. Para Gallego-Díaz, “notícias falsas existiram sempre. O que é novo é que não se produzem de maneira esporádica ou não intencional. Agora é uma estratégia de desinformação que precisa, em primeiro lugar, desprestigiar o jornalismo”.
Doria, editor do jornal digital Meio e colunista dos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo, citou a campanha presidencial de Bolsonaro como exemplo dos desafios atuais do jornalismo. “A técnica foi essencialmente fragmentar a informação”, afirmou. Assim, cada brasileiro que votou nele se decantou por um Bolsonaro diferente.
Os debatedores abordaram também a crise das democracias e o papel dos grupos tecnológicos na atual situação da mídia. “Bolsonaro e outros políticos querem transformar aos meios de comunicação em seu inimigo; temos que lutar contra isso”, advertiu com preocupação a diretora deste jornal. Políticos e partidos devem enfrentar outros políticos e partidos, não os meios de comunicação, acrescentou. A isso se soma a enorme capacidade de um reduzido grupo de empresas tecnológicas para controlar a informação e, eventualmente, acabar com o jornalismo, que tem o dever de contribuir para formar a população num momento em que ele tem mais ferramentas do que nunca para fazer seu trabalho. “Se você só lê o que lhe interessa, não fica por dentro”, enfatizou Gallego-Díaz. “Precisamos de grandes veículos capazes de fazer frente a esses grandes grupos tecnológicos.
REDES E DADOS PESSOAIS
Carmen Aristegui falou também sobre o papel das empresas tecnológicas e o uso que fazem de dados pessoais dos cidadãos: “Se há algo grave para as democracias é a apropriação da informação pessoal dos cidadãos e seu uso pelas grandes corporações”. Entretanto, existe hoje uma “acessibilidade à informação da própria sociedade que não existia até recentemente. Isso é algo a comemorar, tomando cuidado para que esse valor fundamental não seja posto em risco. A rede é nossa”, disse.
Soledad Gallego-Díaz, Carmen Aristegui e Pedro Doria abordam, no Festival Gabo, os desafios de informar em um mundo complexo
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CATALINA OQUENDO
Medellín - 04 OCT 2019 - 17:55 BRT
O jornalismo, com frentes abertas no mundo todo, é atualmente mais necessário do que nunca para dar sentido a uma informação fragmentada. Em tempos de crise e de grande incerteza nas democracias, narrativas profissionais que informem e integrem as sociedades se tornam indispensáveis. Esse foi o diagnóstico compartilhado nesta quarta-feira pela diretora do EL PAÍS, Soledad Gallego-Díaz, pela jornalista mexicana Carmen Aristegui e pelo brasileiro Pedro Doria, que participaram de uma mesa-redonda em Medellín (Colômbia) dentro das atividades do Festival Gabo.
Jaime Abello Banfi, diretor da Fundação Gabo —criada em 1994 pelo escritor Gabriel García Márquez para promover o jornalismo ibero-americano—, atuou como moderador e abriu o debate com uma questão provocadora: “Jornalismo para quê?”. Aristegui, diretora e apresentadora do programa de entrevistas que leva seu nome no canal CNN em espanhol, foi a primeira a responder. Na opinião dela, “o jornalismo é uma ferramenta essencial e insubstituível para uma sociedade que exige estar informada. Então, perguntar-se jornalismo para que equivale a perguntar respirar para que, porque a comunicação é algo essencial. O jornalismo é uma parte substancial dos cidadãos”, disse a profissional, que mencionou vários dos colegas ali presentes, acrescentando que são por si mesmos a melhor resposta a essa pergunta.
Para Aristegui, o jornalismo serve para “investigar a ditadura de Pinochet, como faz a chilena Mónica González” ou “para falar de [Jair] Bolsonaro e não tolerar coisas que não podem ser toleradas numa sociedade”; “jornalismo para denunciar, como se tem feito na Nicarágua, as atrocidades que eles vivem”, acrescentou.
Gallego-Díaz mostrou-se convicta de que o jornalismo é “o único instrumento capaz de formar cidadãos”. O jornalismo fornece contexto, comprovação e informação, não uma mera notícia. "Isso precisa ser feito com instrumentos profissionais”, e mais ainda em uma etapa como a atual, marcada por uma forte incerteza internacional, acrescentou a diretora do EL PAÍS. Redes sociais como Facebook, Instagram e Twitter servem como instrumentos de comunicação, mas não são jornalismo, alertou. Para Gallego-Díaz, “notícias falsas existiram sempre. O que é novo é que não se produzem de maneira esporádica ou não intencional. Agora é uma estratégia de desinformação que precisa, em primeiro lugar, desprestigiar o jornalismo”.
Doria, editor do jornal digital Meio e colunista dos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo, citou a campanha presidencial de Bolsonaro como exemplo dos desafios atuais do jornalismo. “A técnica foi essencialmente fragmentar a informação”, afirmou. Assim, cada brasileiro que votou nele se decantou por um Bolsonaro diferente.
Os debatedores abordaram também a crise das democracias e o papel dos grupos tecnológicos na atual situação da mídia. “Bolsonaro e outros políticos querem transformar aos meios de comunicação em seu inimigo; temos que lutar contra isso”, advertiu com preocupação a diretora deste jornal. Políticos e partidos devem enfrentar outros políticos e partidos, não os meios de comunicação, acrescentou. A isso se soma a enorme capacidade de um reduzido grupo de empresas tecnológicas para controlar a informação e, eventualmente, acabar com o jornalismo, que tem o dever de contribuir para formar a população num momento em que ele tem mais ferramentas do que nunca para fazer seu trabalho. “Se você só lê o que lhe interessa, não fica por dentro”, enfatizou Gallego-Díaz. “Precisamos de grandes veículos capazes de fazer frente a esses grandes grupos tecnológicos.
REDES E DADOS PESSOAIS
Carmen Aristegui falou também sobre o papel das empresas tecnológicas e o uso que fazem de dados pessoais dos cidadãos: “Se há algo grave para as democracias é a apropriação da informação pessoal dos cidadãos e seu uso pelas grandes corporações”. Entretanto, existe hoje uma “acessibilidade à informação da própria sociedade que não existia até recentemente. Isso é algo a comemorar, tomando cuidado para que esse valor fundamental não seja posto em risco. A rede é nossa”, disse.
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