Depois dos protestos que viraram o Chile de cabeça para baixo e levaram seu presidente a propor a renúncia coletiva do ministério inteiro, a Argentina amanhece nesta segunda-feira com um novo presidente eleito e a ex-presidente Cristina Kirchner de vice-presidente. É dela o principal mérito da vitória de Alberto Fernández já no primeiro turno, fazendo encerrar o ciclo liberal de Macri, para espanto de muitos analistas.
No Uruguai, a eleição será decidida no segundo turno entre a Frente Ampla de esquerda, que está no poder há 15 anos, e o candidato Luis Lacalle Pou, do Partido Nacional, que superou 29% dos votos e irá disputar a segunda rodada em novembro com chances de vencer, caso a direita e extrema direita o apoiem.
Mas o mais surpreendente no último final de semana foi a eleição da prefeita de Bogotá: lésbica assumida, a ex-senadora Claudia López, da Aliança Verde, fez história ao vencer o pleito na capital da Colômbia. A prefeita, que passou a última década denunciando a aliança entre política, narcotráfico e paramilitares, derrotou Carlos Fernando Galán, filho do candidato presidencial assassinado em 1989. Defensora do processo de paz com as FARC, assume o cargo em um país considerado muito conservador e profundamente católico. O maior derrotado, na verdade, não foi Galán, mas o atual mandatário Iván Duque, que representa o ex-presidente Álvaro Uribe, cacique da direita colombiana moderna.
Vale lembrar que na semana passada Evo Morales foi reeleito na Bolívia, também em primeiro turno, em uma eleição que está sendo contestada. Morales, representante da esquerda local, está no poder desde 2006 e segue para o seu terceiro mandato presidencial em meio a polêmica sobre fraude no processo eleitoral, que será auditado pela OEA. E no Equador, desde o início de outubro tem ocorrido protestos contra as medidas econômicas e reformas trabalhistas implementadas pelo presidente Lenín Moreno a pedido do Fundo Monetário Internacional (FMI) como garantia para empréstimos de mais de US$ 4 milhões.
Com todos esses movimentos ocorrendo ao mesmo tempo, fica nítida a tendência de rápido esgotamento da onda de direita que varreu os governos de esquerda, Bolívia e Uruguai à parte, de toda a América Latina. E quem está voltando ao poder é justamente a esquerda que havia sido derrotada, mas desta vez em disputas cada vez mais acirradas em todos os países. Se esta tendência vai atingir também o Brasil é algo que saberemos em 2020, com as eleições municipais. O que sair das urnas em São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e nas capitais nordestinas mais importantes será um indicativo do que nos espera em 2022.
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