Serotonina é um livro instigante, faz pensar e deixa a sensação de que vivemos e vamos viver tempos muito estranhos pela frente. O autor, Michel Houellebecq (foto abaixo), se tornou uma sensação nos meios literários da França após a publicação de Submissão, uma espécie de 1984 francês, retratando a situação política e social do país europeu em 2022, com a ascensão da Fraternidade Mulçumana, novo partido que chega ao poder batendo socialistas e a Frente Nacional da família Le Pen em meio a conflitos sociais com identitários, que descambam inclusive para a violência aberta em uma Paris decadente.
À diferença de Orwell em 1984, Houellebecq escreve com um humor corrosivo, presente em Submissão e também em Serotonina, em que o protagonista abre o seu relato expondo o ridículo de seu próprio nome – Florent-Claude Labrouste. O primeiro capítulo, em que ele se apresenta, aliás, é um primor. Ao longo do romance, o leitor vai acompanhar a trajetória de Labrouste sabendo que ele, consultor do Ministério da Agricultura francês, tem 46 anos e um bom dinheiro no banco, começou a tomar um novo antidepressivo, o Captorix, que libera serotonina e provoca, como efeitos colaterais, náusea, perda de libido e impotência. Como pano de fundo, a mesma França decadente – desta vez o autor retrata principalmente a situação dramática dos agricultores locais, incapazes de competir sem a proteção da União Europeia (uma curiosidade, Brasil e Argentina aparecem citados neste contexto como os “predadores” na produção de frutas, carne e leite).
Labrouste toma a decisão de “desaparecer”: pede demissão de seu emprego, transfere todo dinheiro para uma nova conta, encerra o contrato de aluguel, abandona o apartamento em que mora com uma namorada com uma única mala e poucos pertences e se estabelece em um hotel em outro bairro de Paris. A partir daí, tem início uma saga do protagonista para reencontrar dois antigos amores, passando por uma visita a um grande amigo, agricultor e aristocrata que ele descobre ter sido abandonado pela mulher e em condições pré-falimentares.
O mais interessante no livro não é o enredo em si, são os devaneios e reflexões de Labrouste, marcados por autoironia, sarcasmo e lucidez sobre a realidade que o cerca e a sua própria condição. No fundo, sua história é a de um fracasso retumbante, já que ele não deu certo em coisa alguma – mesmo o bom dinheiro que possui é fruto de herança. Não conseguiu fazer seus pontos de vista sobre a agricultura francesa prevalecerem no ministério, fracassou nos amores que teve e aos 46 anos abdica da vida sexual.
Michel Houellebecq surpreende o leitor com um final que faz pensar – sem spoilers aqui. Se em Submissão a trama é encerrada com uma mensagem clara e coerente com o desenvolvimento do enredo, Serotonina termina trazendo elementos que não estavam presentes na narrativa, mas que fazem sentido no desfecho.
Tudo somado, Serotonina é uma leitura densa, que apresenta uma reflexão interessante sobre o futuro do projeto de civilização gestado no Ocidente e sobre as perspectivas dos indivíduos neste mundo de novos valores e em constante mutação.
À diferença de Orwell em 1984, Houellebecq escreve com um humor corrosivo, presente em Submissão e também em Serotonina, em que o protagonista abre o seu relato expondo o ridículo de seu próprio nome – Florent-Claude Labrouste. O primeiro capítulo, em que ele se apresenta, aliás, é um primor. Ao longo do romance, o leitor vai acompanhar a trajetória de Labrouste sabendo que ele, consultor do Ministério da Agricultura francês, tem 46 anos e um bom dinheiro no banco, começou a tomar um novo antidepressivo, o Captorix, que libera serotonina e provoca, como efeitos colaterais, náusea, perda de libido e impotência. Como pano de fundo, a mesma França decadente – desta vez o autor retrata principalmente a situação dramática dos agricultores locais, incapazes de competir sem a proteção da União Europeia (uma curiosidade, Brasil e Argentina aparecem citados neste contexto como os “predadores” na produção de frutas, carne e leite).
Labrouste toma a decisão de “desaparecer”: pede demissão de seu emprego, transfere todo dinheiro para uma nova conta, encerra o contrato de aluguel, abandona o apartamento em que mora com uma namorada com uma única mala e poucos pertences e se estabelece em um hotel em outro bairro de Paris. A partir daí, tem início uma saga do protagonista para reencontrar dois antigos amores, passando por uma visita a um grande amigo, agricultor e aristocrata que ele descobre ter sido abandonado pela mulher e em condições pré-falimentares.
O mais interessante no livro não é o enredo em si, são os devaneios e reflexões de Labrouste, marcados por autoironia, sarcasmo e lucidez sobre a realidade que o cerca e a sua própria condição. No fundo, sua história é a de um fracasso retumbante, já que ele não deu certo em coisa alguma – mesmo o bom dinheiro que possui é fruto de herança. Não conseguiu fazer seus pontos de vista sobre a agricultura francesa prevalecerem no ministério, fracassou nos amores que teve e aos 46 anos abdica da vida sexual.
Michel Houellebecq surpreende o leitor com um final que faz pensar – sem spoilers aqui. Se em Submissão a trama é encerrada com uma mensagem clara e coerente com o desenvolvimento do enredo, Serotonina termina trazendo elementos que não estavam presentes na narrativa, mas que fazem sentido no desfecho.
Tudo somado, Serotonina é uma leitura densa, que apresenta uma reflexão interessante sobre o futuro do projeto de civilização gestado no Ocidente e sobre as perspectivas dos indivíduos neste mundo de novos valores e em constante mutação.
Comentários
Postar um comentário
O Entrelinhas não censura comentaristas, mas não publica ofensas pessoais e comentários com uso de expressões chulas. Os comentários serão moderados, mas são sempre muito bem vindos.