Pular para o conteúdo principal

Pedágio no Rodoanel e o estilo Serra

Quem não é de São Paulo talvez não entenda muito bem o absurdo que é a cobrança de pedágio no Rodoanel, uma das obras mais caras (e importantes) que vem sendo tocada no Estado. Idealizado pelo falecido governador Mário Covas, o Rodoanel, como o nome diz, é um anel viário que quando estiver totalmente pronto vai ligar todas as rodovias que chegam à capital paulista, formando um círculo em volta da cidade. A intenção é desafogar o trânsito de caminhões que desnecessariamente cruzam a cidade vindo de uma das estradas e com rumo a outra - por exemplo, da BR 116 à via Dutra (eixo sul-norte) ou de Santos, via Anchieta ou Imigrantes, para as rodovias que seguem para o interior. A idéia básica é que os caminhões e eventualmente veículos de passeio utilizem o anel e deixem de passar pelas marginais Tietê e Pinheiros e vias importantes e hoje totalmente saturadas da cidade. Em funcionamento hoje está o trecho Oeste, que liga rodovias importantes, como a Castelo Branco, Raposo Tavares e Regis Bittencourt, entre outras. Ainda é pouco, mas já fez efeito, ajudando a minimizar o caótico trânsito paulistano.

Pois bem, o governador José Serra (PSDB) decidiu conceder à iniciativa privada a exploração do Rodoanel, com consequente cobrança de pedágio. A decisão contraria a lógica e o objetivo da obra idealizada por Covas, que prometeu, por sinal, jamais cobrar um centavo de quem trafegasse no anel viário paulista. Ora, se é para tirar carros e caminhões do centro de São Paulo, não faz sentido cobrar pedágio justamente na via que se construiu como alternativa ao trânsito na capital. Claro, o governo alega que o preço baratinho compensa, na ponta do lápis, o tempo parado dispendido ao cruzar a cidade e evita também os inconvenientes do rodízio urbano. Pode até ser que a conta na ponta do lápis esteja certa, mas além do absurdo lógico, há outro probleminha: o ato do governador foi ilegal, pois a cobrança iniciada no último dia 17/12 desrespeita a lei estadual 2.481, de 1953, que veta a instalação de pedágio em um raio de 35 km a partir do marco zero da capital.

Agora, um juiz de primeira instância concedeu uma liminar suspendendo a cobrança. A concessionária diz que ainda não foi notificada e manteve o pedágio funcionando normalmente hoje. Evidentemente, será uma longa batalha jurídica, com provável ganho de causa para o governo do Estado de São Paulo, mas o que interessa aqui são duas observações sobre o "estilo Serra" de governar e fazer política. Bem ao velho estilo, o governador procura criar "fatos consumados", passando por cima dos ritos legais e atropelando a legislação vigente. A mesma truculência se verifica em sua pré-candidatura presidencial, tida como certa antes mesmo de seu partido se reunir para discutir a questão. A segunda observação diz respeito ao caráter de seu governo: Serra não perde tempo quando o assunto é privatizar e apertar a goela do contribuinte. São os dois marcos da administração tucana em São Paulo até aqui: a sanha arrecadatória e a venda do patrimônio do Estado. Dá para prever como seria um governo de José Serra na presidência do País...

Comentários

  1. Esse careca ordinário, boca de caçapa, safado, candidato á ser o maior entreguista do patrimonio publico que o Brasil jamais viu em sua história (isso se for eleito em 2010) tem a cara de pau de por a propaganda do Rodoanel aqui na cidade de Campinas. O QUE ESSE CARA, COMO GOVERNADOR FEZ PELA CIDADE? NADA. Pegou uma beiradinha na inauguração da nova rodoviáriade mãos dadas com o PDT do prefeito daqui. Vai por propaganda de Rodoanel lá na ****ariu seu safado.

    ResponderExcluir
  2. Mas há muito cinismo nessa história, Luiz Antônio. Canso de ver a classe média paulistana elogiando as vias pedagiadas ou, a exemplo de Paulo Rabello de Castro, vendo sagacidade e inteligência em tudo que Serra faz. Ora, sob esse viés, deveriam achar válidos os "sacrifícios" para se desafogar o trânsito da cidade, ou para se ter a garantia de uma via funcionando bem, já que, segundo eles, tudo o que fica nas mãos do Estado não presta. Noutras palavras, são poucos os que têm alguma moral para descer a lenha no governador por mais uma das suas. A maioria dos que, por exemplo, reelegeram Kassab ou votaram em Alckmin para presidente têm mais é que ficar bem quietinha e pagar!

    ResponderExcluir
  3. Cobrar pedagio afeta somente ao usuario, enquanto que se o governo nao cobra-lo (ou a iniciativa privada), acabara tendo que cobrar de todos via impostos incluindo os que nunca farao uso da rodoanel.
    Quanto a privatizar e' outra questao muito controversa. Ha' aqueles, como acredito ser alguns dos que fizeram comentarios, que sao contra mais por questao politica (acreditam que o Estado deve ser grande e tutelador) do que por questao de eficiencia. Basta dizer que nao vejo um so servico que seja provido pelo Estado que funcione com a melhor eficiencia possivel, assim que tambem por posicao politica e economica, acredito que o Estado deve sim provatizar tudo que for possivel, o que diminui a carga tributaria e principalmente, reduz a corrupcao.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

O Entrelinhas não censura comentaristas, mas não publica ofensas pessoais e comentários com uso de expressões chulas. Os comentários serão moderados, mas são sempre muito bem vindos.

Postagens mais visitadas deste blog

Um pai

Bruno Covas, prefeito de São Paulo, morreu vivendo. Morreu criando novas lembranças. Morreu não deixando o câncer levar a sua vontade de resistir.  Mesmo em estado grave, mesmo em tratamento oncológico, juntou todas as suas forças para assistir ao jogo do seu time Santos, na final da Libertadores, no Maracanã, ao lado do filho.  Foi aquela loucura por carinho a alguém, superando o desgaste da viagem e o suor frio dos remédios.  Na época, ele acabou criticado nas redes sociais por ter se exposto. Afinal, o que é o futebol perto da morte?  Nada, mas não era somente futebol, mas o amor ao seu adolescente Tomás, de 15 anos, cultivado pela torcida em comum. Não vibravam unicamente pelos jogadores, e sim pela amizade invencível entre eles, escreve Fabrício Carpinejar em texto publicado nas redes sociais. Linda homenagem, vale muito a leitura, continua a seguir.  Nos noventa minutos, Bruno Covas defendia o seu legado, a sua memória antes do adeus definitivo, para que s...

Dica da Semana: Tarso de Castro, 75k de músculos e fúria, livro

Tom Cardoso faz justiça a um grande jornalista  Se vivo estivesse, o gaúcho Tarso de Castro certamente estaria indignado com o que se passa no Brasil e no mundo. Irreverente, gênio, mulherengo, brizolista entusiasmado e sobretudo um libertário, Tarso não suportaria esses tempos de ascensão de valores conservadores. O colunista que assina esta dica decidiu ser jornalista muito cedo, aos 12 anos de idade, justamente pela admiração que nutria por Tarso, então colunista da Folha de S. Paulo. Lia diariamente tudo que ele escrevia, nem sempre entendia algumas tiradas e ironias, mas acompanhou a trajetória até sua morte precoce, em 1991, aos 49 anos, de cirrose hepática, decorrente, claro, do alcoolismo que nunca admitiu tratar. O livro de Tom Cardoso recupera este personagem fundamental na história do jornalismo brasileiro, senão pela obra completa, mas pelo fato de ter fundado, em 1969, o jornal Pasquim, que veio a se transformar no baluarte da resistência à ditadura militar no perío...

Dica da semana: Nine Perfect Strangers, série

Joia no Prime traz drama perturbador que consagra Nicole Kidman  Dizer que o tempo não passou para Nicole Kidman seria tão leviano quanto irresponsável. E isso é bom. No charme (ainda fatal) de seus 54 anos, a australiana mostra que tem muita lenha para queimar e escancara o quanto as décadas de experiência lhe fizeram bem, principalmente para composição de personagens mais complexas e maduras. Nada de gatinhas vulneráveis. Ancorando a nova série Nine Perfect Strangers, disponível na Amazon Prime Video, a eterna suicide blonde de Hollywood – ok, vamos dividir o posto com Sharon Stone – empresta toda sua aura de diva para dar vida à mística Masha, uma espécie de guru dos novos tempos que desenvolveu uma técnica terapêutica polêmica, pouco acessível e para lá de exclusiva. Em um lúdico e misterioso retiro, a “Tranquillum House”, a exotérica propõe uma nova abordagem de tratamento para condições mentais e psicossociais manifestadas de diferentes formas em cada um dos nove estranhos, “...