O que vai abaixo é o artigo do sempre lúcido Julio Gomes de Almeida, professor de economia da Unicamp, sobre a brecada da atividade industrial no país. Originalmente publicado no cada vez melhor portal Terra Magazine, que ganhou colunistas do porte de Noam Chomsky, Paul Krugman e Umberto Eco, o texto merece ser lido na íntegra.
O significado da retração da indústria
Julio Gomes de Almeida
A última pesquisa industrial do IBGE confirma a gravidade e a amplitude dos efeitos da atual crise externa sobre o setor industrial brasileiro. Este ainda é o eixo dinâmico da economia e é também - apesar de ter expressão muito menor no PIB do que o setor de serviços - quem dita o desempenho do crescimento econômico como um todo do país.
A queda de 5,2% na produção industrial em novembro com relação a outubro, associada ao recuo de 2,7% no mês anterior, resulta em um revés acumulado de quase 8%, o que já faz com que a indústria retroceda sua produção para o nível equivalente a maio do ano passado. Em nenhum outro início de retrações dos últimos 15 anos a indústria brasileira acumulou em tão pouco tempo declínio semelhante.
Esses resultados não parecem confirmar projeções da OECD para 35 países, divulgadas nessa segunda-feira, segundo as quais o Brasil será o único a escapar de uma forte desaceleração econômica nos próximos seis meses. A nosso ver, uma forte desaceleração, ou mais do que isso, uma significativa retração da economia deflagrada por uma recessão industrial, já está em curso.
As causas desse resultado industrial negativo devem ser cuidadosamente explicitadas para que se tenha presente os instrumentos de política adequados para minimizar o impacto da crise. Em primeiro lugar, é preciso observar que a restrição do crédito que se abateu sobre a economia brasileira foi dramática, seja pela escassez de financiamento externo, seja também pelo enorme conservadorismo com que as instituições financiadoras internas (exceção para o BNDES) repercutiram a crise externa.
O Banco Central não atuou bem em minimizar esses impactos sobre o crédito, limitando-se a ampliar a liquidez do sistema bancário como se isso bastasse para reativar o crédito. Este continua raro e muitíssimo mais caro do que há poucos meses atrás. São requeridas medidas mais diretas e mais arrojadas, nos moldes em que os bancos centrais de outros países vêm realizando, para reabastecer a economia de seu financiamento corrente. Isso talvez não faça com que o setor industrial recupere a produção já perdida, mas pode reduzir a intensidade de sua trajetória negativa e conter as repercussões da retração industrial sobre os demais setores da economia.
Em segundo lugar, as expectativas dos agentes internos, quais sejam investidores e consumidores com acesso ao crédito, acusaram um verdadeiro colapso, em parte porque a política monetária e cambial foi passiva diante dos efeitos internos da crise internacional.
Reduzir rapidamente a taxa básica de juros, atuar para neutralizar a instabilidade do mercado de câmbio motivada por ondas especulativas, reafirmar ou mesmo potencializar os investimentos públicos e garantir os recursos de longo prazo com que as agências de fomento contam para financiar os investimentos privados, seriam ações importantes de um "pacote" anti-recessão do Brasil. Seria relevante ainda premiar com um super incentivo de depreciação acelerada os projetos de inversão em 2009.
Essas medidas talvez também não consigam recuperar o terreno já perdido na indústria, mas, conjugadas às ações no crédito, poderão contribuir para conter a tendência descendente da economia.
Júlio Gomes de Almeida é professor da Unicamp e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda.
O significado da retração da indústria
Julio Gomes de Almeida
A última pesquisa industrial do IBGE confirma a gravidade e a amplitude dos efeitos da atual crise externa sobre o setor industrial brasileiro. Este ainda é o eixo dinâmico da economia e é também - apesar de ter expressão muito menor no PIB do que o setor de serviços - quem dita o desempenho do crescimento econômico como um todo do país.
A queda de 5,2% na produção industrial em novembro com relação a outubro, associada ao recuo de 2,7% no mês anterior, resulta em um revés acumulado de quase 8%, o que já faz com que a indústria retroceda sua produção para o nível equivalente a maio do ano passado. Em nenhum outro início de retrações dos últimos 15 anos a indústria brasileira acumulou em tão pouco tempo declínio semelhante.
Esses resultados não parecem confirmar projeções da OECD para 35 países, divulgadas nessa segunda-feira, segundo as quais o Brasil será o único a escapar de uma forte desaceleração econômica nos próximos seis meses. A nosso ver, uma forte desaceleração, ou mais do que isso, uma significativa retração da economia deflagrada por uma recessão industrial, já está em curso.
As causas desse resultado industrial negativo devem ser cuidadosamente explicitadas para que se tenha presente os instrumentos de política adequados para minimizar o impacto da crise. Em primeiro lugar, é preciso observar que a restrição do crédito que se abateu sobre a economia brasileira foi dramática, seja pela escassez de financiamento externo, seja também pelo enorme conservadorismo com que as instituições financiadoras internas (exceção para o BNDES) repercutiram a crise externa.
O Banco Central não atuou bem em minimizar esses impactos sobre o crédito, limitando-se a ampliar a liquidez do sistema bancário como se isso bastasse para reativar o crédito. Este continua raro e muitíssimo mais caro do que há poucos meses atrás. São requeridas medidas mais diretas e mais arrojadas, nos moldes em que os bancos centrais de outros países vêm realizando, para reabastecer a economia de seu financiamento corrente. Isso talvez não faça com que o setor industrial recupere a produção já perdida, mas pode reduzir a intensidade de sua trajetória negativa e conter as repercussões da retração industrial sobre os demais setores da economia.
Em segundo lugar, as expectativas dos agentes internos, quais sejam investidores e consumidores com acesso ao crédito, acusaram um verdadeiro colapso, em parte porque a política monetária e cambial foi passiva diante dos efeitos internos da crise internacional.
Reduzir rapidamente a taxa básica de juros, atuar para neutralizar a instabilidade do mercado de câmbio motivada por ondas especulativas, reafirmar ou mesmo potencializar os investimentos públicos e garantir os recursos de longo prazo com que as agências de fomento contam para financiar os investimentos privados, seriam ações importantes de um "pacote" anti-recessão do Brasil. Seria relevante ainda premiar com um super incentivo de depreciação acelerada os projetos de inversão em 2009.
Essas medidas talvez também não consigam recuperar o terreno já perdido na indústria, mas, conjugadas às ações no crédito, poderão contribuir para conter a tendência descendente da economia.
Júlio Gomes de Almeida é professor da Unicamp e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda.
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