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Dora Kramer aposta em Sarney e Aldo

Em comentário escrito aqui no dia 14 de janeiro, este blog apostava na eleição de José Sarney (PMDB-AP) e Aldo Rebelo (PCdoB-SP) nas eleições do próximo dia 2 para o comando das mesas do Senado e Câmara Federal. Nesta quinta-feira, a colunista política Dora Kramer escreve no Estadão um ótimo artigo analisando a disputa no Congresso e aposta exatamente na mesma dupla. Dora pode ser muito conservadora, alinhada com os tucanos, mas é uma das jornalistas mais bem informadas sobre os bastidores da política nacional, especialmente os de Brasília. Ninguém está dando bola para Aldo, mas a verdade é que o bom mineiro come quieto. E a cada semana que passa a turma que apóia Michel Temer (PMDB-SP) diminui a previsão de votos que ele terá na segunda-feira - já foram 400, agora são 300.

A pergunta básica que se deve fazer sobre as candidaturas no Congresso é a seguinte: a quem interessa a vitória de sicrano ou beltrano? A de Sarney interessa a Lula e ao governo, ao DEM (pela boa relação que o ex-presidente mantém com os democratas, de onde no fundo é oriundo, e pela promessa da vice-presidência) e a uma parte do tucanato, pelos mesmos motivos dos democratas. Não interessa apenas a José Serra, desafeto de Sarney e que preferia ver Tião Viana na presidência do Senado. Não é difícil prever o que vai acontecer...

E a quem, afinal, interessa a vitória de Michel Temer? Nos bastidores da Câmara o que se diz é que a vitória interessa apenas e tão somente a Michel Temer... Mesmo no PMDB, partido de Temer, há quem diga que a vitória do atual presidente concentraria nele mais poder do que seria prudente concentrar em uma só pessoa. Já a vitória de Rebelo deixaria contentes os petistas, hoje assustados com o apetite do PMDB por mais poder, praticamente todo o chamado "bloquinho" de esquerda (PSB, PCdoB e parte do PDT), uma parcela significativa do PMDB que luta há anos para tirar Temer da presidência (Geddel Vieira Lima à frente), e também ao tucanato serrista – para quem não sabe, Aldo mantém excelentes relações com o governador José Serra: ambos começaram a carreira no movimento estudantil, foram presidentes da UNE e se respeitam.

É óbvio que no caso da Câmara o compromisso partidário das 12 agremiações que selaram apoio a Temer reforça o favoritismo de Michel Temer, mas convém botar as barbas de molho. Como diz o ditado, "trair e coçar, é só começar", e o que tem de deputado se coçando na Câmara é até difícil de contar...

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