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Dica da Semana: O Gambito da Rainha, Netflix, série

Da Newsletter da LAM Comunicação.

Vida de enxadrista se torna fenômeno de público em minisssérie 

Não dá para não maratonar com O Gambito da Rainha. O autor desta coluna passou a madrugada de sábado assistindo os sete episódios da minissérie, encantado com a história de Beth Harmon, a protagonista, interpretada de forma sensacional por Anya Taylor, Isla Johnston, que faz o papel da enxadrista quando jovem e Annabeth Kelly, a Beth criança. A rigor, todos os atores e atrizes que atuam na série, lançada no final de outubro pela Netflix, estão muito bem, em especial Bill Camp como Mr. Shaibel, Moses Ingram como Jolene e Christiane Seidel como Helen Deardoff. 

Baseada no livro homônimo do escritor norte-americano Walter Tevis, já falecido, a série acompanha a história de Elizabeth desde pequena, quando fica órfã após o falecimento da mãe em um acidente de automóvel a que milagrosamente sobrevive. Levada a uma espécie de orfanato apenas para meninas, se torna viciada nas “vitaminas” dadas pela direção do estabelecimento a todas as garotas, a fim de manter a tranquilidade e foco do grupo, na verdade substâncias experimentais e que logo foram proibidas pelo governo.

A trama se passa nos anos 1960, em plena guerra fria, e outras duas virtudes são o figurino e reconstituição de época, impecáveis. Scott Frank e Allan Scott foram os desenvolvedores da série, dirigida pelo primeiro, também em um trabalho impecável, em especial na condução dos atores, que não são poucos, e na edição ágil e inteligente, que justamente faz o espectador ter dificuldade de parar de assistir quando o capítulo termina.

Não é fácil fazer um jogo com as características do xadrez parecer emocionante, e isto a série consegue, revelando diversas estratégias e histórias saborosas de antigos mestres. Claro, há a disputa entre norte-americanos e russos, ou melhor, jogadores da antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, a URSS, exatamente no contexto de grande tensão entre os dois países. 

Essa mistura de história pessoal complicada da enxadrista Beth, seu desenvolvimento, com a trajetória vitoriosa no esporte que escolheu, faz com que O Gambito da Rainha seja mais do que um drama água com açúcar. Outra personagem que cresce ao longo da trama é a mãe adotiva de Beth, que não apenas passa a acreditar no talento da jovem como a acompanha pelos vários torneios, Estados Unidos afora, inclusive mentindo para a escola em que ela ainda estudava, acobertando as viagens. Seu final trágico, sem spoilers aqui, marca também um novo começo para Beth, agora sozinha e autônoma em relação ao seu futuro.

De acordo com reportagens já publicadas, a série já foi vista por 60 milhões de contas do canal de streaming, o que significa um público ainda maior. Nas últimas semanas, as buscas no Google pela palavra chess e suas variadas traduções explodiram, revelando o interesse de quem assistiu pelo jogo, o que deve resultar em um boom de novos jogadores amadores, vendas de livros relacionados ao tema, tabuleiros, além do aumento de torneios online. 

Não deixa de ser, ao fim e ao cabo, uma bela contribuição, o xadrez é dos jogos da mente, como são chamados (poker também é considerado assim), o mais complexo e instigante. Não é fácil jogar xadrez bem, também não é fácil fazer uma minissérie tão empolgante sobre um tema considerado frio, que requer muito cálculo mental e capacidade de previsão de lances, além de estudo. Mesmo para quem não tem o menor interesse pelo jogo, vale muito ver O Gambito da Rainha. #ficaadica (Por Luiz Antonio Magalhães em 22/11/2020)





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