Janet Yellen, Alejandro Mayorkas, Avril D. Haines, Linda Thomas-Greenfield... A maioria dos nomes anunciados até agora pelo presidente eleito americano, Joe Biden, para compor seu primeiro escalão mostra que, já na largada, o novo governo terá como característica a diversidade. Yellen será a primeira mulher a assumir o Tesouro. O mesmo vale para Haines na área de inteligência. Mayorkas, escalado para ser o chefe do Departamento de Segurança Interna, que, entre outras coisas, cuida de imigração, nasceu em Cuba e foi para os Estados Unidos com os pais depois da tomada de poder por parte de Fidel Castro. Thomas-Greenfield, uma diplomata negra, será embaixadora nas Nações Unidas, escreve Filipe Barini na Época desta semana. Vale a leitura, continua a seguir.
Todos os nomes apresentados são de profissionais experientes e reconhecidos em suas áreas. Yellen, casada com o ganhador do Nobel de Economia George Akerlof, é uma economista com brilho próprio, respeitada por uma produtiva carreira acadêmica e pelo tempo que ficou à frente do Federal Reserve, o banco central americano. Mayorkas atuou como vice do Departamento de Segurança Interna no segundo mandato de Barack Obama. Haines já foi a número dois da CIA e também da área de inteligência como um todo. Thomas-Greenfield conta no currículo com o posto de principal diplomata americana para a África.
Para cuidar do Departamento de Estado, Biden escolheu Antony Blinken, seu confidente há décadas, com larga experiência no Congresso e também na área externa. Depois de quatro anos de Donald Trump dando caneladas em aliados históricos, muitos dos quais lutaram em guerras lado a lado com os Estados Unidos, depois de uma administração marcada pelo desprezo a órgãos internacionais, o nome de Blinken é uma virada. “Vamos começar o trabalho para curar e unir os Estados Unidos e o mundo”, disse Biden, já em tom presidencial, na terça-feira 24, quando anunciou os primeiros nomes. “Os Estados Unidos estão de volta.”
No dia seguinte, em um novo pronunciamento para marcar o feriado de Ação de Graças, Biden falou da necessidade de união para que o país consiga vencer os desafios impostos pela pandemia. Biden também precisará de união dentro de seu próprio partido, onde as diferenças estão longe de serem sanadas. Não por coincidência, seu futuro chefe de gabinete, Ron Klain, foi um dos responsáveis por fazer a ponte com a ala mais progressista dos democratas, alinhada ao senador Bernie Sanders.
Biden confirmou que o meio ambiente terá lugar central em seu governo ao indicar John Kerry, ex-secretário de Estado, como representante permanente, um cargo novo. Em sua apresentação, Kerry, que foi um dos articuladores do Acordo de Paris, um tratado internacional sobre aquecimento global, sugeriu que vai defender metas mais ambiciosas na Conferência da ONU para Mudanças Climáticas marcada para o ano que vem, na Escócia.
Ainda há uma série de indicações a serem feitas, como para o Pentágono e para o Departamento de Saúde, mas uma certeza é a que o caminho até que todos assumam postos, no final de janeiro, não será tão simples. Todos precisam ser aprovados pelo Senado, hoje controlado pelos republicanos e cuja liderança, Mitch McConnell, prometeu dificultar ao máximo o processo, como fez com indicados no segundo mandato do governo Obama. Além disso, o percurso depende do resultado do segundo turno das disputas por duas cadeiras da Georgia marcadas para o dia 5 de janeiro.
Depois das eleições gerais do começo do mês, os republicanos ficaram com 50 senadores, enquanto os democratas têm 48. Se o partido de Biden vencer as duas corridas, terá o mesmo número da oposição. Nesse cenário, a lei diz que Kamala Harris, a vice-presidente, tem direito ao voto de minerva. Mas, se pelo menos um dos dois candidatos republicanos sair vitorioso, a vida de Biden promete ser bem complicada, até pelo menos a eleição legislativa de 2022.
Trump parece disposto a continuar quebrando as normas não escritas da política americana até seu último dia na Casa Branca. É verdade que ele deu início ao processo de transição, permitindo que os democratas tivessem acesso a documentos e verbas para preparar a próxima administração. Mas fez isso com 16 dias de atraso. Em plena pandemia, os democratas estavam no escuro até mesmo sobre o tamanho dos estoques de medicamentos nos hospitais.
Diante das derrotas de seus advogados, incapazes de apresentar nos tribunais evidências de fraudes em larga escala, Trump se viu obrigado a ceder. Não que haja qualquer sinal de que o republicano planeje fazer um discurso de concessão, caminho seguido por todos os candidatos que perderam nas urnas desde o século XIX. A expectativa é que siga com a narrativa de que houve uma ampla conspiração para tirá-lo da Casa Branca. Uma vez populista, sempre populista.
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