Pular para o conteúdo principal

Fundo do poço ainda não apareceu

Pode parecer uma visão simplista, mas para que uma crise – qualquer uma, econômica, política, ou mesmo pessoal – termine, é preciso que seus efeitos sejam plenamente conhecidos, que se enxergue o tal fundo do poço. Na crise política do mensalão, por exemplo, foram dois "turning points", momentos de virada: a saída de José Dirceu do governo e, meses depois, de Antonio Palocci. Nos dois casos, o presidente Lula mostrou que a figura forte do seu governo não eram os dois auxiliares, mas ele próprio, desorientando a ação da oposição, que mirava nos ministros para "derrubar Lula".

No caso da atual crise financeira global, o fundo do poço não apareceu. O pânico vai continuar até o momento em que os agentes econômicos tenham conhecimento das perdas na economia real, especialmente nos Estados Unidos e na Europa, para poder dimensionar a recessão que vem pela frente. As medidas já anunciadas, é óbvio, começarão a fazer efeito em breve e podem acalmar um pouco os mercados, mas existe um nervosismo que não pode ser combatido com pacotes porque se trata de uma questão de confiança. Até que o fundo do poço seja realmente visto e explorado, todo mundo está aguardando justamente saber se a crise já bateu no fundo ou não. Assim, qualquer informação ruim sobre a economia real repercute como uma catástrofe de grandes proporções. E neste caso em particular, nem é a mídia a culpada, pois antes mesmo da divulgação da informação concreta os mercados reagem, muitas vezes a partir de boatos e rumores, como foi o caso, ontem, das mega-perdas da GM e Ford, que ainda não foram divulgadas.

E quanto tempo isto ainda vai durar? Ninguém sabe. A situação tanto pode se assentar em um prazo curto como levar alguns meses, talvez até a posse do próximo presidente norte-americano, em janeiro - a própria indefinição sobre a futura política econômica acaba sendo um fator de stress nos mercados. Definitivamente, esses não serão bons dias para cardíacos lerem os jornais ou assistirem os noticiários na televisão. Melhor esperar 2009.

Comentários

  1. Magalhães

    Qual é o risco REAL que o Brasil corre com essa crise ? você tem alguma idéia ?

    saída de capital estrangeiro é uma delas, que já está acontecendo, mas você acha que a diminuição da produção pode afetar forte o crescimento da nossa economia ?

    Exportação de commoditie serão afetadas ? acho que não, apenas de produtos manufaturados, e ainda assim em pequena escala.

    você acha que haverá uma diminuição da oferta de crédito ? ou um sistema mais criterioso na hora de ofere-lo ?

    você sempre tem umas análises legais e uns textos de fácil compreensão, explique pra nós, qual é o verdadeiro, e sério risco que corremos.

    um abraço

    Allan

    ResponderExcluir
  2. CONCORDO!! O HOMEM FORTE DO GOVERNO O PROPRIO PRESIDENTE LULA!!! QUE SAIRA FORTALECIDISSIMO EM 2009....2010!! LULA ESTADISTA.. TERA APOIO DE OBAMA.... SE ESTE SE TORNAR PRESIDENTE DOS EUA... CERTEZA QUE OBAMA CHAMARA LULA.... APOS ELEIÇÃO... NOS STATES.....

    ResponderExcluir
  3. Eu acho que o presidente Lula vem saindo-se muito bem, ao contrário do que dizem vários "especialistas" econômicos na grande mídia. Veja que a "figura forte" de Lula continua - e ele ainda se dá ao luxo de ironizar o FMI ( gostei!).

    Até porque ninguém sabe até onde essa crise irá e quais as conseqüências que ficarão, uma coisa é certa: o que o país menos precisa é de um presidente que demonstre "pânico".

    ResponderExcluir

Postar um comentário

O Entrelinhas não censura comentaristas, mas não publica ofensas pessoais e comentários com uso de expressões chulas. Os comentários serão moderados, mas são sempre muito bem vindos.

Postagens mais visitadas deste blog

No pior clube

O livro O Crepúsculo da Democracia, da escritora e jornalista norte-americana Anne Applebaum, começa numa festa de Réveillon. O local: Chobielin, na zona rural da Polônia. A data: a virada de 1999 para o ano 2000. O prato principal: ensopado de carne com beterrabas assadas, preparado por Applebaum e sua sogra. A escritora, que já recebeu o maior prêmio do jornalismo nos Estados Unidos, o Pulitzer, é casada com um político polonês, Radosław Sikorski – na época, ele ocupava o cargo de ministro do Interior em seu país. Os convidados: escritores, jornalistas, diplomatas e políticos. Segundo Applebaum, eles se definiam, em sua maioria, como “liberais” – “pró-Europa, pró-estado de direito, pró-mercado” – oscilando entre a centro-direita e a centro-esquerda. Como costuma ocorrer nas festas de Réveillon, todos estavam meio altos e muito otimistas em relação ao futuro. Todos, é claro, eram defensores da democracia – o regime que, no limiar do século XXI, parecia ser o destino inevitável de toda

Abaixo o cancelamento

A internet virou o novo tribunal da inquisição — e isso é péssimo Só se fala na rapper Karol Conká, que saiu do BBB, da Rede Globo, com a maior votação da história do programa. Rejeição de 99,17% não é pouca coisa. A questão de seu comportamento ter sido odioso aos olhos do público não é o principal para mim. Sou o primeiro a reconhecer que errei muitas vezes. Tive atitudes pavorosas com amigos e relacionamentos, das quais me arrependo até hoje. Se alguma das vezes em que derrapei como ser humano tivesse ido parar na internet, o que aconteceria? Talvez tivesse de aprender russo ou mandarim para recomeçar a carreira em paragens distantes. Todos nós já fizemos algo de que não nos orgulhamos, falamos bobagem, brincadeiras de mau gosto etc… Recentemente, o ator Armie Hammer, de Me Chame pelo Seu Nome, sofreu acusações de abuso contra mulheres. Finalmente, através do print de uma conversa, acabou sendo responsabilizado também por canibalismo. Pavoroso. Tudo isso foi parar na internet. Ergue

OCDE e o erro do governo na gestão das expectativas

O assunto do dia nas redes é a tal negativa dos Estados Unidos para a entrada do Brasil na OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Enquanto os oposicionistas aproveitam para tripudiar, os governistas tentam colocar panos quentes na questão, alegando que não houve propriamente um veto à presença do Brasil no clube dos grandes, a Série A das nações. Quem trabalha com comunicação corporativa frequentemente escuta a frase "é preciso gerenciar a expectativa dos clientes". O problema todo é que o governo do presidente Bolsonaro vendeu como grande vitória a entrada com apoio de Trump - que não era líquida e certa - do país na OCDE. Ou seja, gerenciou mal a expectativa do cliente, no caso, a opinião pública brasileira. Não deixa de ser irônico que a Argentina esteja entrando na frente, logo o país vizinho cujo próximo governo provavelmente não será dos mais alinhados a Trump. A questão toda é que o Brasil não "perdeu", como o pobre Fla-Flu que impe