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Emprego e desemprego: o Brasil que avança

A notícia reproduzida abaixo está na Agência Brasil. Desde meados do ano passado, mês após mês os editores dos cadernos de economia tem noticiado os sucessivos recordes nas taxas de emprego - cada vez melhores - e de desemprego - cada vez mais baixas. Ninguém até agora se animou a fazer uma análise mais detida sobre o que se passa no mercado de trabalho do Brasil, mas a julgar pelos números deste início de ano, é bastante provável que a situação seja até melhor do que a do período do milagre econômico, nos tristes anos da ditadura militar. No caso da série do Dieese, o título engana: o desemprego é o menor desde 1998 porque só em 1998 o departamento começou a fazer a aferição. Portanto, é possível e provável que a taxa seja a menor em um período muito mais longo.

De fato, há dois movimentos em curso, simultâneamente - a formalização de vagas que já existiam (dado atestado pelo Caged, que mede a evolução do emprego com carteira assinada) e a criação de novos postos de trabalho - formais e informais. No caso da formalização, o movimento é salutar porque os trabalhadores que estavam na informalidade ficam mais protegidos e começam a contribuir para a Previdência Social. Uma iniciativa do ministro José Pimentel (Previdência) para ampliar o Super Simples e incluir os prestadores de pequenos serviços no regime tributário, com a cobrança dos impostos em conta de luz ou água, deve ampliar ainda mais a formalidade a colaborar para o aumento da arrecadação da Previdência. Tudo isto é muito bom.

Já a criação de novos postos de trabalho é reflexo direto do nível de crescimento da economia e do mercado interno. Provavelmente a alta da taxa de juros e a crise internacional terão algum efeito aqui, a menos que o Brasil esteja tão descolado do que acontece lá fora que continue sustentando o vigoroso crescimento dos últimos anos.

Tudo isto é fundamental para explicar a altíssima popularidade do presidente Lula - não tem mensalão, dossiê, Caso Dantas ou aloprado que faça o ex-operário descer dos 70% de aprovação popular. É simples: o povão compara. No tempo de FHC, o príncipe da sociologia, todo mundo conhecia alguém que perdeu o emprego ou que estivesse desempregado. Nos anos Lula, todo mundo conhece alguém que conseguiu um trabalho ou foi efetivado com a velha e boa carteira de trabalho.

De fato, tudo isto é muito simples. O que espanta é ninguém ter se dado ao trabalho de juntar lé com cré e fazer uma boa matéria sobre os efeitos deste mercado de trabalho "bombando", como gostam de dizer os jovens, na política nacional.

A seguir, os números do Dieese.

Desemprego em junho tem a menor taxa para o período desde 1998, revela pesquisa

Marli Moreira

São Paulo - A taxa de desemprego em junho foi de 14,6% da população economicamente ativa, nas seis regiões metropolitanas pesquisadas pela Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados e do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos (Seade-Dieese). Essa foi a menor taxa para o período desde 1998, quando foi criada a pesquisa. No mês anterior, o desemprego havia sido de 14,8%.

A população economicamente ativa compreende todas as pessoas com 10 anos ou mais de idade, empregados, empregadores, os trabalhadores autônomos e os que estão temporariamente desempregados. A pesquisa Seade-Dieese é feita em seis regiões metropolitanas do país: Belo Horizonte, Porto Alegre, Distrito Federal, são Paulo. Salvador e Recife

Na virada de maio para junho, foram criadas 74 mil vagas, número superior à entrada de pessoas no mercado de trabalho (24 mil). O total de ocupados foi de 1,004 milhão. Segundo a coordenadora da pesquisa pelo Dieese, Patrícia Lino Costa, o dinamismo da construção civil continua impulsionando as contratações, que cresceram 9,6% em junho, na comparação com igual período de 2007.


Comentários

  1. Luis,
    Só em 1998 o Dieese passou a fazer pesquisas em todas as seis regiões metropolitanas. Até há pouco mais de dois anos ela nem divulgava esse relatório "nacional", somente os regionais. Além disso, é bom destacar que os 300.000 empregos formais criados em Junho desse ano, representam 40% do saldo de empregos formais de todo o governo FHC (pouco mais de 700.000) Na verdade, trata-se de uma revolução silenciosa, pois emprego formal significa, além de um aumento imediato na renda, benefícios e acesso ao crédito.

    A análise econômica geralmente é muito simplista e sempre quando aparece um dado novo costuma-se se buscar na memória as conseqüências desses dados num passado remoto ou recente. Ocorre que a conjuntura econômica não pode ser avaliada apenas por um dado específico. Há que se avaliar, se ele contamina ou é contaminado por outros fatores.

    Hoje o mercado projeta uma desaceleração com a SELIC em alta, como ocorreu em outros períodos. O Brasil cresce hoje com o aumento da renda, do emprego, dos investimentos e do crédito. Será que irá desacelerar como em 2005 quando o país crescia quase que exclusivamente pela demanda externa? Mas a FIESP se surpreendeu com o aumento do INA de 8% em Junho. Não foi por falta de aviso certamente.

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