Pular para o conteúdo principal

Rodini: pesquisas e a volta da inflação

Em mais uma colaboração para o blog, Jorge Rodini, diretor do instituto de pesquisas Engrácia Garcia, comenta alguns aspectos que poucos analistas ressaltaram no último levantamento do Ibope sobre a popularidade presidencial, realizado no final de junho. A seguir, a íntegra do comentário.

A última pesquisa CNI/IBOPE, realizada entre os dias 20 e 23 de junho, retrata com fidelidade as pesquisas qualitativas realizadas pelo nosso instituto em várias cidades do Estado de São Paulo e Maranhão nos últimos 30 dias (capitais, região metropolitana paulista e interior).

Nesses grupos de foco, realizados principalmente com as classes menos favorecidas, Lula continua sendo defendido ardorosamente pelos homens, porém começa a ser questionado pelos jovens e pelas mulheres.

Os jovens reclamam da falta de oportunidades, de qualificação e do ensino público. As mulheres estão preocupadas com o aumento da cesta básica, como arroz, feijão, óleos e cimento e com a deterioração da saúde.

Frases como "nós não nos alimentamos de biodiesel" e "mesmo com empresas vindo para cá, não empregam gente sem experiência", são recorrentes entre os jovens.

Os homens explicitam a defesa do presidente afirmando "a culpa dos preços estarem altos não é do Lula, é da inflação", "Lula viaja muito para trazer negocios para o Brasil" ou ainda "o problema é dos outros países".

As mulheres, que já foram reticentes com Lula e se renderam aos encantos dos preços estáveis relatam: "o Presidente deu com uma mão no primeiro mandato e tirou com as duas no segundo" ou " a saúde está doente no Brasil" e "minha vida tinha melhorado, mas agora..." .

A base de sustentação de alta popularidade de Lula é a região Nordeste e os homens. Suas vulnerabilidades podem começar a serem mostradas neste desenho novo e ao mesmo tempo antigo da megera inflação.

Como se percebe, em geral as pesquisas qualitativas antecipam as quantitativas. O medo da inflação antecipa sua percepção que por sua vez antecipa o fato concreto das gôndolas.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Rogério Andrade, o rei do bicho

No dia 23 de novembro do ano passado, o pai de Rodrigo Silva das Neves, cabo da Polícia Militar do Rio de Janeiro, foi ao batalhão da PM de Bangu, na Zona Oeste carioca, fazer um pedido. O homem, um subtenente bombeiro reformado, queria que os policiais do quartel parassem de bater na porta de sua casa à procura do filho — cuja prisão fora decretada na semana anterior, sob a acusação de ser um dos responsáveis pelo assassinato cinematográfico do bicheiro Fernando Iggnácio, executado com tiros de fuzil à luz do dia num heliporto da Barra da Tijuca. Quando soube que estava sendo procurado, o PM fugiu, virou desertor. Como morava numa das maiores favelas da região, a Vila Aliança, o pai de Neves estava preocupado com “ameaças e cobranças” de traficantes que dominam o local por causa da presença frequente de policiais. Antes de sair, no entanto, o bombeiro confidenciou aos agentes do Serviço Reservado do quartel que, “de fato, seu filho trabalhava como segurança do contraventor Rogério And...

Dica da semana: Nine Perfect Strangers, série

Joia no Prime traz drama perturbador que consagra Nicole Kidman  Dizer que o tempo não passou para Nicole Kidman seria tão leviano quanto irresponsável. E isso é bom. No charme (ainda fatal) de seus 54 anos, a australiana mostra que tem muita lenha para queimar e escancara o quanto as décadas de experiência lhe fizeram bem, principalmente para composição de personagens mais complexas e maduras. Nada de gatinhas vulneráveis. Ancorando a nova série Nine Perfect Strangers, disponível na Amazon Prime Video, a eterna suicide blonde de Hollywood – ok, vamos dividir o posto com Sharon Stone – empresta toda sua aura de diva para dar vida à mística Masha, uma espécie de guru dos novos tempos que desenvolveu uma técnica terapêutica polêmica, pouco acessível e para lá de exclusiva. Em um lúdico e misterioso retiro, a “Tranquillum House”, a exotérica propõe uma nova abordagem de tratamento para condições mentais e psicossociais manifestadas de diferentes formas em cada um dos nove estranhos, “...

No pior clube

O livro O Crepúsculo da Democracia, da escritora e jornalista norte-americana Anne Applebaum, começa numa festa de Réveillon. O local: Chobielin, na zona rural da Polônia. A data: a virada de 1999 para o ano 2000. O prato principal: ensopado de carne com beterrabas assadas, preparado por Applebaum e sua sogra. A escritora, que já recebeu o maior prêmio do jornalismo nos Estados Unidos, o Pulitzer, é casada com um político polonês, Radosław Sikorski – na época, ele ocupava o cargo de ministro do Interior em seu país. Os convidados: escritores, jornalistas, diplomatas e políticos. Segundo Applebaum, eles se definiam, em sua maioria, como “liberais” – “pró-Europa, pró-estado de direito, pró-mercado” – oscilando entre a centro-direita e a centro-esquerda. Como costuma ocorrer nas festas de Réveillon, todos estavam meio altos e muito otimistas em relação ao futuro. Todos, é claro, eram defensores da democracia – o regime que, no limiar do século XXI, parecia ser o destino inevitável de toda...