Problemas de conexão impediram a atualização deste blog nos últimos e quentíssimos dias. De volta à base, na paulicéia, já é possível retomar o ritmo normal. Fim de férias, portanto. Bem, impossível não começar pelo episódio que sacudiu o país nos últimos dias - as detenções e libertações do banqueiro Daniel Dantas, do "investidor" Naji Nahas (isto lá é profissão?) e do ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta, os dois últimos presos e soltos uma única vez.
Bem, há vários aspectos complexos na trama, de modo que é preciso analisar as coisas com calma e tentar resumir o que de realmente importante existe no enredo. É o que vamos tentar fazer a seguir.
1. Aspectos jurídicos
O fato do presidente do Supremo Tribunal Federal, no período em que a Corte está em recesso, ter decidido pela libertação de Dantas, duas vezes em menos de 24 horas causa certo espanto e sem dúvida é uma ação bem pouco popular, para dizer o mínimo. Independentemente do acerto jurídico da decisão, que foi questionada por mais de uma centena de magistrados, a ação de Gilmar Mendes criou um constrangimento político ao STF. É óbvio que o povão vai achar que Mendes facilitou a vida de Dantas e dar razão ao juiz federal Fausto Martin De Sanctis, titular da 6ª Vara Federal Criminal, especializada em crimes financeiros e em lavagem de valores, que por duas vezes tentou colocar o dono do Opportunity atrás das grades. O problema todo aqui é que a guerra jurídica está só começando. Este blog, ao contrário de outros concorrentes mais afortunados e afinados, digamos assim, com a turma da Polícia Federal, não teve acesso ao relatório da PF sobre o inquérito – documento este que, é bom lembrar, deveria ser sigiloso. Pelo que saiu na grande imprensa, porém, é possível perceber que Dantas está bem encrencado, pois os policiais conseguiram reunir provas consistentes de que o banqueiro tentou (e de fato conseguiu) subornar um delegado - talvez o menor dos crimes que ele tenha cometido ao longo de sua controversa trajetória. Se o Ministério Público e a Polícia Federal conseguirão, mais à frente, colocar Daniel Dantas na cadeia já é uma outra história, bem diferente, mas os próximos capítulos da novela jurídica prometem muita emoção.
2. Apectos Políticos
Está havendo uma certa confusão no noticiário sobre o caso Daniel Dantas. Do jeito que os jornalões estão publicando a história, parece que o banqueiro começou a brincar de homem mau a partir do momento em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva venceu a eleição de 2002. Dantas teria, desde então, agido com o objetivo de rachar o núcleo duro do governo, a fim de garantir os seus próprios e milionários negócios. Além disto, Dantas seria uma espécie de mentor oculto do mensalão, operando por trás de Marcos Valério. A verdade, infelizmente para os Civitas, Frias, Mesquitas e Marinhos, não é bem esta. Dantas se fez mesmo durante os dois governos de Fernando Henrique Cardoso, período em que passou de executivo de bancos para a condição de empresário notavelmente bem sucedido. Foi durante a gestão FHC que Dantas realizou o grande negócio de se tornar sócio de uma empresa de telecomunicações, após a privatização do sistema Telebrás – processo até hoje bem nebuloso, para dizer o mínimo.
É evidente que Dantas não parou de "trabalhar" no governo Lula, ao contrário, se mostrou muito atuante na defesa de seus interesses. Tão atuante que montou uma espécie de bancada pluripartidária na Câmara e no Senado, agiu para cooptar quadros do primeiro escalão do novo governo, enfim, continuou "trabalhando" nas sombras do poder a fim de manter ou ampliar os seus negócios.
Assim, não é por acaso que oposição e situação, PT, PSDB e DEM, especialmente, tenham reagido de forma até semelhante diante da prisão do banqueiro: com cautela, falando o óbvio, sem maiores críticas à atuação de Daniel Valente Dantas, salvo uma ou outra exceção que só comprova a regra.
Politicamente, Daniel Dantas é uma espécie de homem-bomba. Se falar o que sabe, pode destruir reputações. E pode escolher as reputações que pretende destruir. Frio e calculista, pode preservar quem lhe dê guarida e focar a sua munição nos que não fazem o seu jogo. Ele sabe muito, sem dúvida, de maneira que seu silêncio não deve sair barato. Também neste aspecto, o jogo está em aberto. A PF e o Ministério Público mostraram suas cartas, talvez não todas, mas agora é a vez do banqueiro decidir se paga para ver, se aumenta a aposta ou se busca uma solução que lhe permita sair desta situação com o menor prejuízo possível. Por trás de tudo está um negócio bilionário - a fusão da OI e Brasil Telecom, e o tempo corre para que a operação seja (ou não) concretizada.
3. Aspectos paralelos: mídia e a guerra na blogosfera
Não deixa de ser interessante, por fim, analisar o caso pelo aspecto na repercussão do caso na imprensa, especialmente na blogosfera (leia também comentário do autor destas Entrelinhas para o Observatório da Imprensa). Os blogueiros vinculados ao pensamento conservador, Reinaldo Azevedo e Diogo Mainardi à frente, tiveram certa dificuldade de defender Daniel Dantas, mas saíram logo em defesa de Gilmar Mendes, especialmente Azevedo. É até engraçado ver um outro blogueiro direitista, que não tem coragem nem sequer de assinar seu nome, o tal "Coronel", vociferar contra a PF e o MP por não terem pedido a prisão de Gilberto Carvalho, chefe de gabinete do presidente Lula, e logo em seguida defender a decisão de Mendes no caso Dantas. Ora, se Gilberto tivesse sido preso e Gilmar Mendes ordenado a soltura, certamente o debilóide estaria urrando e acusando o presidente do Supremo de "petista"...
Excrescências à parte, é possível ler nas entrelinhas dos comentários de Azevedo e Mainardi um movimento de defesa envergonhada do banqueiro, cada um da sua maneira. Enquanto Reinaldão dá total apoio ao presidente do Supremo por uma decisão que está sendo tecnicamente contestada por gente boa que entende do riscado, Mainardi parte para ignorância e apela à agressão, atacando em sua coluna na revista Veja o jornalista Luis Nassif, que o acusou de ser "lobista de Dantas".
Por outro lado, basta ir ao blog de Paulo Henrique Amorim, que desde sempre se colocou explicitamente contra Daniel Dantas, para perceber que a prisão do banqueiro também provocou certa perplexidade na esquerda. Segundo PHA, a grande imprensa está abandonando a defesa de Dantas por julgar que ele "já caiu". Já o ex-ministro José Dirceu tem se mostrado bem crítico da operação da Polícia Federal e de certa forma também apóia o ministro Gilmar Mendes. A esquerda, portanto, também está bem confusa com o episódio.
Tudo somado, a novela pode estar só começando ou se encaminhando para o final, a depender do que aconteça em relação à fusão da Oi com a Brasil Telecom e do que faça Daniel Dantas nos próximos dias. Emoção, de qualquer forma, não irá faltar nos próximos dias ou nos próximos meses... Agora sem férias, este blog promete acompanhar de perto os novos capítulos da novela.
Bem, há vários aspectos complexos na trama, de modo que é preciso analisar as coisas com calma e tentar resumir o que de realmente importante existe no enredo. É o que vamos tentar fazer a seguir.
1. Aspectos jurídicos
O fato do presidente do Supremo Tribunal Federal, no período em que a Corte está em recesso, ter decidido pela libertação de Dantas, duas vezes em menos de 24 horas causa certo espanto e sem dúvida é uma ação bem pouco popular, para dizer o mínimo. Independentemente do acerto jurídico da decisão, que foi questionada por mais de uma centena de magistrados, a ação de Gilmar Mendes criou um constrangimento político ao STF. É óbvio que o povão vai achar que Mendes facilitou a vida de Dantas e dar razão ao juiz federal Fausto Martin De Sanctis, titular da 6ª Vara Federal Criminal, especializada em crimes financeiros e em lavagem de valores, que por duas vezes tentou colocar o dono do Opportunity atrás das grades. O problema todo aqui é que a guerra jurídica está só começando. Este blog, ao contrário de outros concorrentes mais afortunados e afinados, digamos assim, com a turma da Polícia Federal, não teve acesso ao relatório da PF sobre o inquérito – documento este que, é bom lembrar, deveria ser sigiloso. Pelo que saiu na grande imprensa, porém, é possível perceber que Dantas está bem encrencado, pois os policiais conseguiram reunir provas consistentes de que o banqueiro tentou (e de fato conseguiu) subornar um delegado - talvez o menor dos crimes que ele tenha cometido ao longo de sua controversa trajetória. Se o Ministério Público e a Polícia Federal conseguirão, mais à frente, colocar Daniel Dantas na cadeia já é uma outra história, bem diferente, mas os próximos capítulos da novela jurídica prometem muita emoção.
2. Apectos Políticos
Está havendo uma certa confusão no noticiário sobre o caso Daniel Dantas. Do jeito que os jornalões estão publicando a história, parece que o banqueiro começou a brincar de homem mau a partir do momento em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva venceu a eleição de 2002. Dantas teria, desde então, agido com o objetivo de rachar o núcleo duro do governo, a fim de garantir os seus próprios e milionários negócios. Além disto, Dantas seria uma espécie de mentor oculto do mensalão, operando por trás de Marcos Valério. A verdade, infelizmente para os Civitas, Frias, Mesquitas e Marinhos, não é bem esta. Dantas se fez mesmo durante os dois governos de Fernando Henrique Cardoso, período em que passou de executivo de bancos para a condição de empresário notavelmente bem sucedido. Foi durante a gestão FHC que Dantas realizou o grande negócio de se tornar sócio de uma empresa de telecomunicações, após a privatização do sistema Telebrás – processo até hoje bem nebuloso, para dizer o mínimo.
É evidente que Dantas não parou de "trabalhar" no governo Lula, ao contrário, se mostrou muito atuante na defesa de seus interesses. Tão atuante que montou uma espécie de bancada pluripartidária na Câmara e no Senado, agiu para cooptar quadros do primeiro escalão do novo governo, enfim, continuou "trabalhando" nas sombras do poder a fim de manter ou ampliar os seus negócios.
Assim, não é por acaso que oposição e situação, PT, PSDB e DEM, especialmente, tenham reagido de forma até semelhante diante da prisão do banqueiro: com cautela, falando o óbvio, sem maiores críticas à atuação de Daniel Valente Dantas, salvo uma ou outra exceção que só comprova a regra.
Politicamente, Daniel Dantas é uma espécie de homem-bomba. Se falar o que sabe, pode destruir reputações. E pode escolher as reputações que pretende destruir. Frio e calculista, pode preservar quem lhe dê guarida e focar a sua munição nos que não fazem o seu jogo. Ele sabe muito, sem dúvida, de maneira que seu silêncio não deve sair barato. Também neste aspecto, o jogo está em aberto. A PF e o Ministério Público mostraram suas cartas, talvez não todas, mas agora é a vez do banqueiro decidir se paga para ver, se aumenta a aposta ou se busca uma solução que lhe permita sair desta situação com o menor prejuízo possível. Por trás de tudo está um negócio bilionário - a fusão da OI e Brasil Telecom, e o tempo corre para que a operação seja (ou não) concretizada.
3. Aspectos paralelos: mídia e a guerra na blogosfera
Não deixa de ser interessante, por fim, analisar o caso pelo aspecto na repercussão do caso na imprensa, especialmente na blogosfera (leia também comentário do autor destas Entrelinhas para o Observatório da Imprensa). Os blogueiros vinculados ao pensamento conservador, Reinaldo Azevedo e Diogo Mainardi à frente, tiveram certa dificuldade de defender Daniel Dantas, mas saíram logo em defesa de Gilmar Mendes, especialmente Azevedo. É até engraçado ver um outro blogueiro direitista, que não tem coragem nem sequer de assinar seu nome, o tal "Coronel", vociferar contra a PF e o MP por não terem pedido a prisão de Gilberto Carvalho, chefe de gabinete do presidente Lula, e logo em seguida defender a decisão de Mendes no caso Dantas. Ora, se Gilberto tivesse sido preso e Gilmar Mendes ordenado a soltura, certamente o debilóide estaria urrando e acusando o presidente do Supremo de "petista"...
Excrescências à parte, é possível ler nas entrelinhas dos comentários de Azevedo e Mainardi um movimento de defesa envergonhada do banqueiro, cada um da sua maneira. Enquanto Reinaldão dá total apoio ao presidente do Supremo por uma decisão que está sendo tecnicamente contestada por gente boa que entende do riscado, Mainardi parte para ignorância e apela à agressão, atacando em sua coluna na revista Veja o jornalista Luis Nassif, que o acusou de ser "lobista de Dantas".
Por outro lado, basta ir ao blog de Paulo Henrique Amorim, que desde sempre se colocou explicitamente contra Daniel Dantas, para perceber que a prisão do banqueiro também provocou certa perplexidade na esquerda. Segundo PHA, a grande imprensa está abandonando a defesa de Dantas por julgar que ele "já caiu". Já o ex-ministro José Dirceu tem se mostrado bem crítico da operação da Polícia Federal e de certa forma também apóia o ministro Gilmar Mendes. A esquerda, portanto, também está bem confusa com o episódio.
Tudo somado, a novela pode estar só começando ou se encaminhando para o final, a depender do que aconteça em relação à fusão da Oi com a Brasil Telecom e do que faça Daniel Dantas nos próximos dias. Emoção, de qualquer forma, não irá faltar nos próximos dias ou nos próximos meses... Agora sem férias, este blog promete acompanhar de perto os novos capítulos da novela.
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