No dia 23 de novembro do ano passado, o pai de Rodrigo Silva das Neves, cabo da Polícia Militar do Rio de Janeiro, foi ao batalhão da PM de Bangu, na Zona Oeste carioca, fazer um pedido. O homem, um subtenente bombeiro reformado, queria que os policiais do quartel parassem de bater na porta de sua casa à procura do filho — cuja prisão fora decretada na semana anterior, sob a acusação de ser um dos responsáveis pelo assassinato cinematográfico do bicheiro Fernando Iggnácio, executado com tiros de fuzil à luz do dia num heliporto da Barra da Tijuca. Quando soube que estava sendo procurado, o PM fugiu, virou desertor. Como morava numa das maiores favelas da região, a Vila Aliança, o pai de Neves estava preocupado com “ameaças e cobranças” de traficantes que dominam o local por causa da presença frequente de policiais. Antes de sair, no entanto, o bombeiro confidenciou aos agentes do Serviço Reservado do quartel que, “de fato, seu filho trabalhava como segurança do contraventor Rogério And
O sistema policial e penal brasileiro reflete, com perfeição, a desigualdade social do país. É concebido, e principalmente operado, para proteger as castas superiores, e intimidar os pobres. Temos regras prescricionais que garantem a impunidade de quem tem dinheiro suficiente para garantir manobras judiciais protelatórias, sempre esgrimadas por advogados bem pagos. Quando isso não é suficiente, entra em campo a inexplicável lentidão no julgamento dos processos, que às vezes ficam anos engavetados em algum gabinete, esperando fluir o prazo prescricional que irá livrar o réu. Existem três tipos de delitos que potencialmente atingem as castas superiores: os de colarinho branco, os contra a honra, e os de trânsito. Morrem, por ano, no Brasil, 35.000 pessoas em acidentes de trânsito. Os culpados por essas mortes pertencem, quase sempre, à classe média, a mesma classe que opera o sistema penal. Qualquer um que dirija um automóvel está exposto à prática de um eventual homicídio culposo, e às vezes doloso. Mas o sistema de auto-proteção funciona bem: ninguém vaii para a cadeia. Diariamente os programas de notícias sensacionalistas que infestam a televisão mostram a prisão de pobres, desde logo classificados como "bandidos", com presunção de culpa já devidamente estabelecida sem que sequer tenha sido iniciado o processo judicial. São algemados, maltratados e expostos à execração pública e linchamento moral. E nunca ouvi, em lugar algum, uma voz sequer condenando tais atos.
ResponderExcluirNa raiz de tudo isso está a característica mais indigna das elites brasileiras: o profundo preconceito de classe.