Pular para o conteúdo principal

Politizar a vacina, uma estratégia de Bolsonaro

Abre da News da LAM Comunicação desta semana. Boa leitura a todos.


Agora a crise é a vacina: o presidente Jair Bolsonaro, pressionado pela sua base de apoio, declarou nesta semana que não vai autorizar a compra de doses da vacina chinesa, que havia sido autorizada na véspera pelo governador João Doria, de São Paulo, e pelo terceiro ministro da Saúde de seu governo. No fundo, Bolsonaro sabe que mais tarde ou mais cedo os brasileiros serão vacinados, está apenas jogando para sua galera, aplicando a si uma vacina política, qual seja a de marcar posição sobre a obrigatoriedade de sua aplicação no país.

Bolsonaro precisa ser compreendido pelo que é, não pelo que gostaríamos que ele fosse. Ao se posicionar contra a vacina, o que parece ser um absurdo lógico, algo como ser contra luz elétrica e água encanada, ele está na verdade se diferenciando de Doria e todos os demais políticos que serão possíveis adversários em 2022. Não é uma bravata, uma frase de efeito tirada do nada, mas uma estratégia, provavelmente discutida com seu núcleo duro. A mensagem é destinada aos 30% que seguem apoiando o governo e que constituem a esperança da reeleição, tarefa que não será tão simples quanto em 2018, já que o antipetismo tende a ser menos importante após meia década sem o partido no poder.

Jornalistas e cientistas políticos tendem a escrever sobre o presidente Bolsonaro baseados em suas próprias perspectivas e não as de seu eleitorado, de maneira que até o ajudam a manter o status de única direita possível no Brasil, coisa que ele inclusive não representa, embora de fato hoje seja quem ocupe este espaço.

Os projetos do DEM de poder, aliás, sempre foram mais expressivos, porém o partido nunca se projetou como agora, com Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre nas presidências da Câmara e Senado. Poucos perceberam, mas é bastante possível que o partido apresente um candidato com chances reais de emplacar uma grande votação e até disputar a presidência em 2022. Nomes não faltam, o prefeito de Salvador, ACM Neto, por exemplo, poderia ser um nome forte nas urnas, vai deixar a cidade com alta popularidade, é jovem e hábil, tem capacidade de diálogo e sabe fazer política.

Desta forma, Bolsonaro, que de burro não tem nada, age de acordo com a leitura que faz da sociedade brasileira, que se já elegeu a esquerda, hoje parece apreciar lideranças conservadoras radicais, como é o caso não apenas de Bolsonaro, mas também de Crivella ou Celso Russomano, que disputam as prefeituras de São Paulo e Rio de Janeiro. Cada um faz sua aposta, só as esquerdas continuam dependentes de Lula, sem sinalizar nada de novo para os brasileiros.  (por Luiz Antonio Magalhães em 25/10/20)



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Rogério Andrade, o rei do bicho

No dia 23 de novembro do ano passado, o pai de Rodrigo Silva das Neves, cabo da Polícia Militar do Rio de Janeiro, foi ao batalhão da PM de Bangu, na Zona Oeste carioca, fazer um pedido. O homem, um subtenente bombeiro reformado, queria que os policiais do quartel parassem de bater na porta de sua casa à procura do filho — cuja prisão fora decretada na semana anterior, sob a acusação de ser um dos responsáveis pelo assassinato cinematográfico do bicheiro Fernando Iggnácio, executado com tiros de fuzil à luz do dia num heliporto da Barra da Tijuca. Quando soube que estava sendo procurado, o PM fugiu, virou desertor. Como morava numa das maiores favelas da região, a Vila Aliança, o pai de Neves estava preocupado com “ameaças e cobranças” de traficantes que dominam o local por causa da presença frequente de policiais. Antes de sair, no entanto, o bombeiro confidenciou aos agentes do Serviço Reservado do quartel que, “de fato, seu filho trabalhava como segurança do contraventor Rogério And...

No pior clube

O livro O Crepúsculo da Democracia, da escritora e jornalista norte-americana Anne Applebaum, começa numa festa de Réveillon. O local: Chobielin, na zona rural da Polônia. A data: a virada de 1999 para o ano 2000. O prato principal: ensopado de carne com beterrabas assadas, preparado por Applebaum e sua sogra. A escritora, que já recebeu o maior prêmio do jornalismo nos Estados Unidos, o Pulitzer, é casada com um político polonês, Radosław Sikorski – na época, ele ocupava o cargo de ministro do Interior em seu país. Os convidados: escritores, jornalistas, diplomatas e políticos. Segundo Applebaum, eles se definiam, em sua maioria, como “liberais” – “pró-Europa, pró-estado de direito, pró-mercado” – oscilando entre a centro-direita e a centro-esquerda. Como costuma ocorrer nas festas de Réveillon, todos estavam meio altos e muito otimistas em relação ao futuro. Todos, é claro, eram defensores da democracia – o regime que, no limiar do século XXI, parecia ser o destino inevitável de toda...

Dúvida atroz

A difícil situação em que se encontra hoje o presidente da República, com 51% de avaliação negativa do governo, 54% favoráveis ao impeachment e rejeição eleitoral batendo na casa dos 60%, anima e ao mesmo tempo impõe um dilema aos que articulam candidaturas ditas de centro: bater em quem desde já, Lula ou Bolsonaro?  Há quem já tenha a resposta, como Ciro Gomes (PDT). Há também os que concordam com ele e vejam o ex-presidente como alvo preferencial. Mas há quem prefira investir prioritariamente no derretimento do atual, a ponto de tornar a hipótese de uma desistência — hoje impensável, mas compatível com o apreço presidencial pelo teatro da conturbação — em algo factível. Ao que tudo indica, só o tempo será capaz de construir um consenso. Se for possível chegar a ele, claro. Por ora, cada qual vai seguindo a sua trilha. Os dois personagens posicionados na linha de tiro devido à condição de preferidos nas pesquisas não escondem o desejo de se enfrentar sem os empecilhos de terceira,...