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Vinicius Torres Freire: economia não tem bala para enfrentar o coronavírus

O colunista da Folha analisou em 28/2 as consequências da epidemia mundial - o primeiro caso no Brasil foi registrado esta semana. Escreve o jornalista: medidas econômicas para enfrentar efeito de epidemia maior são frágeis ou lerdas. Não se sabe se os governos do mundo terão capacidade de conter o avanço do novo coronavírus, é óbvio dizer. Teriam capacidade de evitar que a epidemia ou pandemia derrubem o crescimento das economias? Hum.
Fora da China, o efeito mais evidente da doença é o pânico nos mercados financeiros, que pode vir a ter impacto na economia real, mas é apenas uma parte do problema ou seu mero começo.
Como já deve estar claro para qualquer leitor de jornais, a parada chinesa limita o fornecimento de materiais para indústrias mundo afora, fábricas que podem vir a produzir menos ou mesmo parar.
As notícias sobre a doença podem também baixar a confiança de consumidores e levar empresas a colocar o pé no freio de novos negócios. Os tombaços no mercado financeiro induzem as pessoas a pouparem mais: veem seu patrimônio diminuir ou pelo menos sentem o cheiro de queimado.
O recurso mais imediato de que os governos dispõem para conter uma desaceleração econômica é a redução da taxa básica de juros. Mas o que a política monetária (mexer nos juros) pode fazer a respeito de choques negativos de oferta (redução e/ou encarecimento abrupto da produção, para simplificar) e de quedas abruptas na confiança? Muito pouco.
Além do mais, as taxas de juros em todo mundo rico estão em nível zero ou abaixo de zero, afora nos Estados Unidos, onde de qualquer modo estão muito baixas. Existem malabarismos monetários para fazer com que as taxas de juros fiquem ainda mais negativas, mas o efeito disso, ainda mais nesta situação, parece ser pífio.
Os governos podem gastar mais, é verdade, a fim de dar um empurrão na economia. Como é tão sabido, aprovar gastos, planejar investimentos e tocar o início das obras é um processo lento.
É atualmente ainda mais lento devido à grande resistência ao aumento das dívidas públicas. Seria melhor do que nada, no entanto. Talvez antecipasse a uma recuperação mais rápida da economia, tudo mais constante.
Mas o mundo gira e a epidemia roda: pode haver mais novidades ruins. Uma parada súbita em economias centrais teria impacto no emprego, abatendo ainda mais ou decisivamente o ânimo dos consumidores.
Pânicos em mercados financeiros também podem provocar acidentes (muita gracinha dos donos do dinheiro grosso apenas é descoberta quando há variações grandes de preços na finança).
De resto, a parada longa dos negócios tem obviamente implicações financeiras para as empresas da economia “real”, que podem simplesmente ver o caixa vazio, o que agora já uma preocupação na China.
É verdade também que uma desaceleração da epidemia pode inverter ou conter a espiral negativa da confiança. Quanto ao ritmo de expansão da doença, os chutes são parecidos com os dos “economistas de mercado”.
Há quem aposte em uma desaceleração (ao menos na China) já na virada para março; para outros, a coisa fica menos feia apenas lá por maio, graças às quarentenas e barreiras e à chegada do tempo mais quente.
A especulação esperançosa menos irrealista é torcer para que os governos do mundo sejam capazes de desacelerar a epidemia. Esse seria o meio mais eficaz de conter o impacto da doença na atividade econômica, muito mais que a política econômica, para nem falar, obviamente, na contenção do desastre humanitário. Ênfase no “seria”.
Por ora, a julgar pelo que dizem entendidos médicos e economistas mais razoáveis, ainda se trata de uma questão de fé.



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