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Época: Sergio Moro, cada vez mais presidenciável

Claro que 2022 ainda demora, muita água vai rolar por baixo da ponte, inclusive há a possibilidade de Bolsonaro nomear Moro para o STF apenas para reduzir o risco da candidatura de seu ministro, mas vale a leitura da reportagem da revista Época, que traz vários elementos sobre o apetite de Moro para a vida política nacional. Na íntegra, abaixo.

Por Guilherme Amado, Marco Grillo, Bruno Góes e Gustavo Maia
Advogados que lidam com Sergio Moro desde os tempos do Banestado, o primeiro caso que o notabilizou, há quase duas décadas, sempre se incomodavam com uma de suas características mais marcantes — e que segue intacta em sua temporada em Brasília: a habilidade de não deixar que seu interlocutor perceba o que ele de fato está pensando. Sem esboçar esforço, o ex-juiz é capaz de dizer frases com significados totalmente opostos valendo-se da mesma expressão facial e do mesmo tom monocórdico. É dessa maneira que ele responde à pergunta sobre uma eventual candidatura política. O conteúdo segue o mesmo script: sempre com uma negativa, mas que deixa em aberto um “talvez”, um “e se”. A postura indecifrável, entretanto, vem sendo traída por algumas atitudes e decisões que têm levado quem lida diretamente com ele a acreditar que, lá no fundo, escondido sob camadas e camadas de respostas prontas e expressões enigmáticas, já existe um candidato.
Moro recebe há cinco meses pesquisas eleitorais feitas por um instituto e não divulgadas publicamente em que seu nome é colocado como uma opção para concorrer à Presidência da República em 2022. A sondagem é composta das chamadas “perguntas estimuladas”, em que os pesquisadores citam para o entrevistado quais são as opções de resposta. Desde o primeiro levantamento recebido pelo ministro, ele já aparecia muito bem colocado, com mais de 15% de intenções de voto. Moro passou a se debruçar sobre a análise mensal de seu potencial eleitoral, buscando entender os dados dos que, apresentados a uma lista que inclui Jair Bolsonaro, afirmaram que votariam nele para ser o novo inquilino do Planalto.
Uma dessas pesquisas motivou o ministro a aceitar o convite para participar do programa Pânico, da rádio Jovem Pan, e a criar uma conta no Instagram — neste caso, ele também atendeu à insistência da esposa, Rosângela, uma ativa usuária da rede. Em menos de uma semana, Moro angariou quase 1 milhão de seguidores. Ao tomar conhecimento, por meio do levantamento, de que a percepção dos mais jovens sobre a queda dos indicadores de criminalidade era incipiente, o ex-juiz viu como necessidade premente manter uma melhor comunicação com essa parcela da população, que é justamente quem mais faz uso da rede social de imagens. Seus seguidores no Twitter, rede da qual o ministro é usuário desde abril de 2019, têm uma faixa etária mais elevada. E, diante da pouca disposição do presidente Jair Bolsonaro em encampar a agenda anticorrupção defendida por seu gabinete, Moro viu-se compelido a usar como cartão de visitas a redução das taxas de criminalidade para mostrar os resultados de sua gestão.
O passo relatado, ainda que sutil, é o mais recente de uma série de episódios que revelam o desgaste entre o Palácio do Planalto e o Ministério da Justiça. O último deles ocorreu há duas semanas, quando o ministro quase ficou sem a área de Segurança Pública, que também compõe o título de sua pasta. Pilotada pelo ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Jorge Oliveira, uma reunião com secretários de Segurança de todos os estados foi organizada no Palácio sem a participação de Moro. O articulador do encontro, o secretário de Segurança do Distrito Federal, Anderson Torres, é amigo de Oliveira. Depois do evento, e diante do desconforto que se armou com a possibilidade de desidratação da pasta, Oliveira se apressou em tentar desfazer o clima. Disse a interlocutores que foi pego de surpresa pelo chamado de Bolsonaro para comparecer à reunião e tentou diminuir sua importância ao afirmar que outros quadros palacianos estavam presentes, como Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) e Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional).
Um dos poucos nomes de fora da família Bolsonaro ouvidos pelo presidente, Oliveira vem tentando pacificar a situação. Pediu uma agenda com o ministro da Justiça e passou uma hora discutindo a relação na terça-feira 28. Em evento com cantores sertanejos no Planalto na quarta-feira 29, os dois foram vistos conversando na primeira fileira da plateia. Moro chegou atrasado, no meio do discurso de Bolsonaro. Os ânimos entre o ministro e seu chefe também ficaram tensionados. Moro se irritou com a declaração de Bolsonaro sobre a possível cisão de sua pasta e ligou para o presidente quando ele ainda estava na Índia para conversarem. Sinalizou que tudo estava resolvido, mas, por serem complexas, as indisposições ainda não submergiram.
No final de dezembro, um desgaste entre presidente e ministro já se formara depois que Bolsonaro disse, durante um café da manhã, que Oliveira seria um “bom nome” para o Supremo Tribunal Federal (STF). Na ocasião, ele também voltou a elogiar outro possível indicado, o ministro da Advocacia-Geral da União (AGU), André Mendonça. Mas, quando questionado sobre Moro, respondeu que é preciso ver como está sua relação com o Senado, a quem cabe aprovar as indicações para o Supremo. Como só há duas vagas a serem preenchidas nos próximos anos, ficou implícito que o ministro da Justiça talvez tenha de se contentar com seu posto — ou alçar outros voos.
Picuinhas menores também têm incomodado Moro, que enxerga em Anderson Torres, secretário do DF e delegado da Polícia Federal (PF), um adversário. Torres é próximo do ex-deputado Alberto Fraga, um dos melhores amigos de Bolsonaro, que vem bombardeando o ex-juiz com críticas e já se colocou à disposição para ser o ministro da Segurança Pública, caso surja a vaga. Nesse cenário, com Fraga como ministro, Torres seria o diretor-geral da PF. O secretário também se queixou publicamente do ministro ao dizer que a pasta não fornecia informações suficientes sobre o presídio federal de Brasília. O governo do DF se queixa com frequência da presença de líderes de facções criminosas na unidade prisional, argumentando que isso traz risco para Brasília. Moro já respondeu publicamente afirmando que, entre todas as unidades da Federação onde estão sediadas penitenciárias federais, só há reclamações do governo na capital federal.
Ao retornar da Índia, no início da manhã da terça-feira 28, Bolsonaro fez um gesto incomum ao se dirigir a jornalistas no Palácio da Alvorada. Decidiu falar mesmo sem que houvesse uma claque a sua espera. “Eu vou conduzir aqui”, começou o presidente, falando espontaneamente sobre os resultados da viagem. Ao ser confrontado com o assunto da recriação do Ministério da Segurança Pública e questionado sobre se a medida realmente estava descartada, não deu uma resposta muito enfática. “Não existe isso aí. É só eu viajar e tem um problema”, disparou o presidente, antes de prosseguir. “O pessoal quer é a luta pelo poder, o tempo todo tem alguém beliscando um ministério. Agora, pelo que eu vi, o Moro não mordeu a isca, nem eu. Continua ele com o ministério, sem problema nenhum”, declarou Bolsonaro.
Enquanto o chefe retomava a agenda em Brasília, Moro fazia uma “visita institucional” à 7ª Vara da Justiça Federal do Rio, onde despacha outro expoente da Lava Jato, o juiz federal Marcelo Bretas, como fez questão de registrar no Instagram. Foi providencialmente acompanhado de outra estrela lavajatista: o diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo, pivô de crise com Bolsonaro, que, no ano passado, ameaçou demiti-lo. A foto divulgada por Moro mostra o trio à vontade. Depois, Moro e Valeixo seguiram para a Superintendência da Polícia Federal no Rio de Janeiro, onde foram recebidos pelo delegado Carlos Henrique Oliveira de Sousa, alçado à chefia da corporação no estado em dezembro do ano passado, em outra troca de comando que suscitou ruído, já que o órgão é responsável por conduzir parte da investigação sobre o esquema de rachadinhas na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) — caso em que estão envolvidos Flávio Bolsonaro e seu ex-assessor, o policial aposentado Fabrício Queiroz.
Entre a figura de juiz da Operação Lava Jato e a de um ministro popular que não descartaria uma empreitada política, houve um hiato de profunda transformação. Ao aceitar o convite de Jair Bolsonaro para integrar seu ministério, Moro levou alguns tombos antes de entender que sua agenda para combater a corrupção, a violência e o crime organizado só escaparia do fracasso inclemente se a articulação com o Congresso passasse a fazer parte de sua rotina. A tramitação do pacote anticrime é o emblema desse aprendizado. No início de 2019, o projeto foi levado à Câmara sem nenhum diálogo com parlamentares, na aposta de que o apoio popular catapultaria seus planos das gavetas de sua mesa diretamente para a letra da lei. Não foi assim. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), reagiu com ironia à pouca familiaridade do ministro com a liturgia do processo legislativo. Chamou o conjunto de propostas de “copia e cola” e se referiu a Moro como “funcionário do presidente Bolsonaro”. O ministro entendeu que, se quisesse navegar naquelas águas, teria de mudar sua conduta. Foi o que fez — e, ainda assim, o pacote só foi aprovado em dezembro de 2019, com mudanças propostas pelo Congresso.
Na reta final de tramitação do texto na Câmara, a transformação chegaria ao ápice. Moro participou de jantares promovidos por bancadas partidárias, adiou reuniões internas do ministério para receber parlamentares e se envolveu até o limite do cargo para minimizar as mudanças promovidas por deputados — não quis, portanto, forçar nenhum recuo. No dia 4 de dezembro, saiu de uma audiência pública no Senado sobre a prisão em segunda instância direto para um café com parlamentares do DEM. No fim da tarde, deixou outro evento em direção a um encontro com deputados do Republicanos, partido do vice-presidente da Câmara, Marcos Pereira (SP). As duas agendas foram fechadas em cima da hora. “Se houve falha, foi falha minha de não conseguir convencê-los (os deputados, sobre a aprovação do pacote anticrime)”, disse Moro, em dezembro, em um evento organizado pela Frente Parlamentar Evangélica.
Mesmo com grande parte de suas propostas derrotadas — como o “plea bargain”, espécie de acordo entre duas partes sem passar por um tribunal, e a ampliação das hipóteses de aplicação do excludente de ilicitude —, preferiu destacar itens aprovados, como o cumprimento imediato da pena imposta pelo Tribunal do Júri, desde que superior a 15 anos. Outro item foi a proibição de que presos que permaneçam vinculados a facções do crime organizado tenham direito a benefícios de progressão de pena. Sobre esse ponto específico, Moro chegou a debater com a equipe se não seria melhor adiar a votação do texto, caso os deputados insistissem em mantê-lo fora. O ministro firmou posição, argumentando que combater a criminalidade violenta era a essência do pacote anticrime, e os parlamentares acabaram convencidos. “Ele está mais leve, mais confortável no ambiente de Brasília, meio como se tivesse aprendido o jogo como é”, percebeu um senador, a quem Moro já telefonou, a pedido de Paulo Guedes, para pedir votos para temas de interesse da equipe econômica. “A política é um trunfo que o Moro tem para lidar com o Bolsonaro. Se ele não for respeitado, se não tiver espaço, ele sempre poderá usar a ida para a política como uma ameaça ao presidente. Bolsonaro sabe que Moro, na política, seria um grande problema para ele”, analisou o mesmo senador.
O processo de conversão contemplou, inclusive, as tradicionais caronas para parlamentares em aviões da Força Aérea Brasileira (FAB). No dia 18 de novembro, Moro deixou Brasília de manhã para uma série de compromissos no Acre. Após um almoço em Rio Branco com o governador Gladson Cameli, a comitiva, que incluía deputados e os três senadores do estado — Mailza Gomes (PP), Marcio Bittar (MDB) e Sérgio Petecão (PSD) — seguiu para Cruzeiro do Sul. Na cidade, que fica na fronteira com o Peru, o clima é chuvoso e, com frequência, condições para pousos e decolagens são complexas. Não foi diferente naquela segunda-feira. O piloto avisou que não havia condições meteorológicas e, se o tempo não mudasse em meia hora, teriam de retornar a Rio Branco. Minutos depois, uma turbulência sacudiu a aeronave, despertando as reações naturais em uma situação do gênero. Disfarçando o incômodo — é frequente o ministro ser descrito como alguém que “não passa recibo” —, Moro quebrou o silêncio: “Espero que os senhores confiem em seus suplentes”, disse. O humor com um toque formal — o ministro costuma se referir aos parlamentares como “senhor deputado” e “senhor senador” — e a carona ajudaram a quebrar resistências. Já em terra firme, o senador Sérgio Petecão, tido como duro em negociações, confessou que não esperava que o ministro fosse “gente boa”.
Caso se decida pela carreira política, Moro terá um vasto caminho partidário pela frente. Mas alguns assessores próximos ainda veem no ex-juiz maior anseio por uma cadeira no STF — ideia classificada por ele como “natural” ao falar à Jovem Pan. Moro disse repetidas vezes que, na condição de ministro do governo, vai apoiar a reeleição de Jair Bolsonaro. Na mesma entrevista à rádio, chegou a exagerar que marcaria na pele seu apoio à reeleição do presidente. “Já falei 1 milhão de vezes. Daqui a pouco, vou tatuar na testa. O presidente já apontou que pretende disputar a reeleição. Sou ministro do governo, vou apoiar o presidente Bolsonaro”, disse.
Por via das dúvidas, o Podemos é o partido número um na fila de espera de uma possível filiação do ministro. A maioria dos parlamentares da sigla é alinhada às principais teses de Moro, que, por sua vez, já disse a interlocutores ser simpático ao grupo “Muda Senado”, frente suprapartidária — sete dos nove senadores do Podemos estão no grupo — engajada no discurso da nova política e em defesa de pautas como a prisão após a condenação em segunda instância. A interlocutores, o senador Alvaro Dias (Podemos-PR), que ainda tem planos de concorrer à Presidência, admitiu que Moro seria o cabeça de chapa do partido. Moro já recebeu alguns acenos sobre isso, mas se mantém em silêncio. Segundo pesquisa do instituto Datafolha publicada em janeiro, Moro é a figura que transmite maior confiabilidade entre os 12 nomes pesquisados. Nesse mesmo ranking, Bolsonaro está em 4º lugar. Em dezembro, o mesmo instituto havia divulgado uma sondagem sobre o índice de aprovação do governo Bolsonaro. Moro pontuava “ótimo ou bom” para 53% das pessoas ouvidas enquanto o presidente acumulava apenas 30%. Desde a dobradinha Itamar Franco-Fernando Henrique Cardoso, um ministro não era mais popular que um presidente.
Em 27 de dezembro, dois dias depois de tornar pública sua insatisfação com a sanção por Bolsonaro do juiz de garantias no pacote anticrime, Moro postou no Twitter duas fotos de suas férias com a família, em Toronto. As duas imagens eram de uma estátua de Winston Churchill, e Moro deu destaque ao trecho de um dos mais famosos discursos do primeiro-ministro inglês na Câmara dos Comuns, em junho de 1940, no auge da Segunda Guerra Mundial: “We shall never surrender” (“Nós nunca nos renderemos”). Um amigo de longa data do ministro observou que a citação configura uma inovação retórica. Nos tempos de magistrado, sua inspiração era um juiz — Giovanni Falcone, da operação Mãos Limpas. Agora, é um estadista.


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