Agora a visão brasileira sobre as eleições americanas, publicada na Época em 19/2; Escreve o colunista: ao investir numa corrida paralela às prévias, o candidato chega na reta final com intensidade e com o índice de popularidade ascendente, aproveitando-se do derretimento de alguns de seus competidores, em particular Biden e Warren.
A eleição americana de 1960 entre o Democrata, John F. Kennedy, e o Republicano, Richard Nixon, ficou marcada na história política dos EUA como um dos mais acirrados duelos pelo inquilinato da Casa Branca.
A disputa entre Kennedy e Nixon colocava sob os holofotes dois desafios que, naquela época, constituíam o pano de fundo desse épico confronto. No cerne do teatro político estava, de partida, o inglório desafio de suceder o Presidente Dwight Eisenhower, um herói da Segunda Guerra Mundial e um dos mais populares presidentes da história americana. Não menos relevante, ambos os candidatos estavam diante da tarefa nada trivial de convencer o eleitorado de que seriam capazes de repelir a ameaça que se insinuava no seu quintal: o expansionismo da União Soviética.
O embate foi duro. Kennedy e Nixon tiveram, respectivamente, 34,2 e 34,1 milhões de votos no escrutínio popular. No colégio eleitoral, Kennedy também derrotou Nixon ao acumular maior número de delegados. Apesar dos bons índices econômicos e da popularidade de Eisenhower, Nixon foi amargamente derrotado.
Em um contexto histórico bem menos cálido, a eleição de 2000 protagonizada entre o Republicano George W. Bush contra o Democrata Al Gore tornou-se emblemática após descobrir que, naquela acirrada disputa, o perdedor do pleito no quesito voto popular se consagrou Presidente e levou a chave da Casa Branca. Gore tinha a seu favor a popularidade de Clinton, juros baixos e a economia em crescimento. Cenário ideal!
Nixon e Gore que eram, respectivamente, vice-presidentes de Eisenhower, em 1960, e de Bill Clinton, em 2000, foram surpreendidos por Kennedy e Bush filho e levados à lona apesar de seu favoritismo. Indicadores essenciais – como crescimento econômico, geração de empregos e popularidade política dos governos de Eisenhower e de Clinton – não frearam a derrocada de seus candidatos.
Donald Trump possui, atualmente, todos os dados ao seu favor. O país caminha a passos largos com crescimento econômico e desemprego em baixa, a união do Partido Republicano em trono de sua figura parece ser inconteste e a categórica vitória no Senado contra o teatral processo de impeachment colocaram o presidente e candidato à reeleição em estado de graça. Fortalecido politicamente e com os números econômicos positivos, Trump parece não ter nada a recear.
Vista como uma das mais insossas pré-campanhas do Partido Democrata, os candidatos chegam à reta final sem empolgar os seus próprios eleitores. Em debates melancólicos, Joe Biden, ex-vice-presidente de Barack Obama, e Elizabeth Warren, Senadora de Massachusetts, já perderam tração e estão, praticamente, fora da disputa.
Bernie Sanders, Senador de Vermont, Pete Buttigieg, ex-prefeito South Bend no Estado de Indiana, e Amy Klobuchar, senadora de Minnesota, definitivamente, não são o sonho de consumo do establishment Democrata para uma eleição presidencial de 2020. A vitória de um candidato considerado “outsider” como Donald Trump sobre a Hillary Clinton ainda não foi digerida pelos Democratas, que parecem seguir em estado de perplexidade. A torcida republicana é toda hoje para que Sanders ganhe a indicação do partido – espécie de adversário dos sonhos de Trump.
As indagações sobre se Buttigieg e Klobuchar terão folego para estancar a ascensão do ex-prefeito de Nova York na disputa são crescentes. Michael Bloomberg que até agora fez campanha de forma paralela, chega com força para disputar, pela primeira vez, as prévias do partido, em Nevada.
Dizem que já gastou a bagatela de US$ 250 milhões para se colocar na disputa, o que não deixa de ser fator relevante, tendo em vista o papel que o dinheiro desempenha em qualquer campanha nos EUA.
Diante de candidatos que não empolgam o eleitorado, Bloomberg foi estratégico e calculista ao pavimentar um caminho paralelo para não pulverizar o seu capital político e chegar com fôlego para se tornar a sensação do partido, na fase final das prévias.
O cálculo estratégico feito pelos exímios profissionais de sua campanha prova ser, até o momento, certeiro: 1) o candidato seria desgastado ao largo do processo e perderia aderência se entrasse na contenda muito cedo; 2) não despontaria como candidato sensação, já que não seria poupado de seus deslizes, particularmente, em matéria racial; 3) não teria conseguido mobilizar com a mesma eficácia todo o seu império econômico; 4) se não ficasse nas cabeças nas prévias do partido em Iowa e em New Hampshire, estaria junto a Biden e Warren no mesmo equilátero e, portanto, em processo de definhamento na disputa.
Ao investir numa corrida paralela às prévias, Bloomberg não decidiu entrar na disputa em busca de projeção ou, simplesmente, para torrar centenas de milhões de dólares e morrer logo na praia. Ele chega na reta final com intensidade e com o índice de popularidade ascendente, aproveitando-se do derretimento de alguns de seus competidores, em particular Biden e Warren.
O partido democrata ainda precisa definir a estratégia para enfrentar Trump. O duelo eleitoral será estabelecido por meio de um embate consubstanciado em uma agenda programática ou a partir do perfil de um candidato com forte discurso de união nacional e cujo atual presidente teme – nos debates isso fará tremenda diferença.
Com Bloomberg de oponente, Trump estará mais exposto ao erro. Basta recordar que, há poucas semanas, ao desferir críticas em seu twitter ao partido democrata, a Sanders e a Bloomberg, o atual presidente apenas apagou o tuite sobre o ex-prefeito de Nova York. É um sinal inconfundível de quem o presidente não deseja enfrentar em uma disputa direta.
Daqui em diante, Bloomberg precisa atrair Buttigieg e Klobuchar para o seu campo. A saída de um dos dois em seu favor irá catapultar a sua campanha. À exceção de Warren, é bem provável que os demais postulantes se juntem a sua campanha.
Se o ex-prefeito de Nova York ganhar a indicação de seu partido logo à frente, o duelo entre Democratas e Republicanos pelo inquilinato da Casa Branca tenderá a ser um dos mais disputados e até cruéis. Como inimigos viscerais, Trump e Bloomberg podem reeditar a eleição de 1960, com embates cruentos e uma disputa de proporções épicas voto a voto em cada Estado.
Apesar dos índices serem favoráveis ao Trump, o seu favoritismo político não é garantia de vitória fácil. Como a história demonstra, a economia ajuda, mas não garante a eleição. Se tiver que defender a sua reeleição contra o Bloomberg, os parâmetros do duelo tendem a ser mais complexos e o resultado, longe de ser certo.
A eleição americana de 1960 entre o Democrata, John F. Kennedy, e o Republicano, Richard Nixon, ficou marcada na história política dos EUA como um dos mais acirrados duelos pelo inquilinato da Casa Branca.
A disputa entre Kennedy e Nixon colocava sob os holofotes dois desafios que, naquela época, constituíam o pano de fundo desse épico confronto. No cerne do teatro político estava, de partida, o inglório desafio de suceder o Presidente Dwight Eisenhower, um herói da Segunda Guerra Mundial e um dos mais populares presidentes da história americana. Não menos relevante, ambos os candidatos estavam diante da tarefa nada trivial de convencer o eleitorado de que seriam capazes de repelir a ameaça que se insinuava no seu quintal: o expansionismo da União Soviética.
O embate foi duro. Kennedy e Nixon tiveram, respectivamente, 34,2 e 34,1 milhões de votos no escrutínio popular. No colégio eleitoral, Kennedy também derrotou Nixon ao acumular maior número de delegados. Apesar dos bons índices econômicos e da popularidade de Eisenhower, Nixon foi amargamente derrotado.
Em um contexto histórico bem menos cálido, a eleição de 2000 protagonizada entre o Republicano George W. Bush contra o Democrata Al Gore tornou-se emblemática após descobrir que, naquela acirrada disputa, o perdedor do pleito no quesito voto popular se consagrou Presidente e levou a chave da Casa Branca. Gore tinha a seu favor a popularidade de Clinton, juros baixos e a economia em crescimento. Cenário ideal!
Nixon e Gore que eram, respectivamente, vice-presidentes de Eisenhower, em 1960, e de Bill Clinton, em 2000, foram surpreendidos por Kennedy e Bush filho e levados à lona apesar de seu favoritismo. Indicadores essenciais – como crescimento econômico, geração de empregos e popularidade política dos governos de Eisenhower e de Clinton – não frearam a derrocada de seus candidatos.
Donald Trump possui, atualmente, todos os dados ao seu favor. O país caminha a passos largos com crescimento econômico e desemprego em baixa, a união do Partido Republicano em trono de sua figura parece ser inconteste e a categórica vitória no Senado contra o teatral processo de impeachment colocaram o presidente e candidato à reeleição em estado de graça. Fortalecido politicamente e com os números econômicos positivos, Trump parece não ter nada a recear.
Vista como uma das mais insossas pré-campanhas do Partido Democrata, os candidatos chegam à reta final sem empolgar os seus próprios eleitores. Em debates melancólicos, Joe Biden, ex-vice-presidente de Barack Obama, e Elizabeth Warren, Senadora de Massachusetts, já perderam tração e estão, praticamente, fora da disputa.
Bernie Sanders, Senador de Vermont, Pete Buttigieg, ex-prefeito South Bend no Estado de Indiana, e Amy Klobuchar, senadora de Minnesota, definitivamente, não são o sonho de consumo do establishment Democrata para uma eleição presidencial de 2020. A vitória de um candidato considerado “outsider” como Donald Trump sobre a Hillary Clinton ainda não foi digerida pelos Democratas, que parecem seguir em estado de perplexidade. A torcida republicana é toda hoje para que Sanders ganhe a indicação do partido – espécie de adversário dos sonhos de Trump.
As indagações sobre se Buttigieg e Klobuchar terão folego para estancar a ascensão do ex-prefeito de Nova York na disputa são crescentes. Michael Bloomberg que até agora fez campanha de forma paralela, chega com força para disputar, pela primeira vez, as prévias do partido, em Nevada.
Dizem que já gastou a bagatela de US$ 250 milhões para se colocar na disputa, o que não deixa de ser fator relevante, tendo em vista o papel que o dinheiro desempenha em qualquer campanha nos EUA.
Diante de candidatos que não empolgam o eleitorado, Bloomberg foi estratégico e calculista ao pavimentar um caminho paralelo para não pulverizar o seu capital político e chegar com fôlego para se tornar a sensação do partido, na fase final das prévias.
O cálculo estratégico feito pelos exímios profissionais de sua campanha prova ser, até o momento, certeiro: 1) o candidato seria desgastado ao largo do processo e perderia aderência se entrasse na contenda muito cedo; 2) não despontaria como candidato sensação, já que não seria poupado de seus deslizes, particularmente, em matéria racial; 3) não teria conseguido mobilizar com a mesma eficácia todo o seu império econômico; 4) se não ficasse nas cabeças nas prévias do partido em Iowa e em New Hampshire, estaria junto a Biden e Warren no mesmo equilátero e, portanto, em processo de definhamento na disputa.
Ao investir numa corrida paralela às prévias, Bloomberg não decidiu entrar na disputa em busca de projeção ou, simplesmente, para torrar centenas de milhões de dólares e morrer logo na praia. Ele chega na reta final com intensidade e com o índice de popularidade ascendente, aproveitando-se do derretimento de alguns de seus competidores, em particular Biden e Warren.
O partido democrata ainda precisa definir a estratégia para enfrentar Trump. O duelo eleitoral será estabelecido por meio de um embate consubstanciado em uma agenda programática ou a partir do perfil de um candidato com forte discurso de união nacional e cujo atual presidente teme – nos debates isso fará tremenda diferença.
Com Bloomberg de oponente, Trump estará mais exposto ao erro. Basta recordar que, há poucas semanas, ao desferir críticas em seu twitter ao partido democrata, a Sanders e a Bloomberg, o atual presidente apenas apagou o tuite sobre o ex-prefeito de Nova York. É um sinal inconfundível de quem o presidente não deseja enfrentar em uma disputa direta.
Daqui em diante, Bloomberg precisa atrair Buttigieg e Klobuchar para o seu campo. A saída de um dos dois em seu favor irá catapultar a sua campanha. À exceção de Warren, é bem provável que os demais postulantes se juntem a sua campanha.
Se o ex-prefeito de Nova York ganhar a indicação de seu partido logo à frente, o duelo entre Democratas e Republicanos pelo inquilinato da Casa Branca tenderá a ser um dos mais disputados e até cruéis. Como inimigos viscerais, Trump e Bloomberg podem reeditar a eleição de 1960, com embates cruentos e uma disputa de proporções épicas voto a voto em cada Estado.
Apesar dos índices serem favoráveis ao Trump, o seu favoritismo político não é garantia de vitória fácil. Como a história demonstra, a economia ajuda, mas não garante a eleição. Se tiver que defender a sua reeleição contra o Bloomberg, os parâmetros do duelo tendem a ser mais complexos e o resultado, longe de ser certo.
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