Pular para o conteúdo principal

Serra vai mesmo para a luta?

Abaixo, artigo de Fernando Rodrigues para a Folha de S. Paulo. O colunista é dos bons, bem informado e com boa capacidade de análise. O que o autor destas Entrelinhas tem ouvido por aí, no entanto, é o oposto do que escreve Rodrigues: Serra estaria mais relutante do que nunca com a candidatura presidencial. Com a sua própria base despedaçada, quer esperar as pesquisas de janeiro e fevereiro para decidir se fica em São Paulo, resolvendo assim a questão da sucessão estadual - para ele, Geraldo Alckmin ou Ciro Gomes são igualmente inimigos - e deixando a disputa pela sucessão de Lula para Aécio Neves ou quem mais se anime a enfrentar a candidata do presidente. Não dá ainda para apostar, mas, como dizem os italianos, "se non è vero, è bene trovatto"...

Serra entra em campo

BRASÍLIA - O tucano José Serra continua usando a expressão "se eu vier a ser candidato", mas ontem falou como se já estivesse em campanha pelo Planalto. Analisou pesquisas, criticou adversários e tentou construir um curioso raciocínio sobre a eleição de 2010 e o crescimento econômico.
"Economia não decide eleição", declarou Serra ao conceder longa entrevista à rádio Jovem Pan. É uma inversão da teoria popularizada pelo norte-americano James Carville, marqueteiro de Bill Clinton nos anos 90 -a famosa frase "é a economia, estúpido".
No novo figurino de quase candidato a presidente, Serra até usou uma metáfora. A alegoria poderia ter saído da boca de Lula. Se a economia está em boas condições, afirmou o tucano, a eleição de 2010 será como decidir sobre a substituição do motorista de um ônibus que está andando bem. O eleitor escolherá quem estará mais apto a continuar a conduzir o ônibus.
Mais adiante, Serra defendeu o direito de FHC criticar Lula. Perguntou por que só alguns ex-presidentes poderiam falar, como José Sarney e Fernando Collor, ambos pró-PT. Ofereceu então uma provocação: "Se você pudesse votar no passado [num ex-presidente], você votaria em quem? Fernando Henrique, Collor ou Sarney?".
Para arrematar suas alfinetadas, o governador paulista desdenhou o encontro entre Aécio Neves e Ciro Gomes -este, o maior produtor de diatribes anti-Serra da política brasileira. A possível e anunciada joint-venture Aécio-Ciro não teria "consequência nenhuma", até porque "[Ciro] não vai fazer nada que o Lula não queira".
Tudo considerado, Serra entrou em campo. Mas sua teoria de a economia não decidir eleição soa exótica, para dizer o mínimo. Só se explica pela necessidade de o tucano tentar calibrar o discurso pré-eleitoral. Por enquanto, como fica óbvio para quem escuta, ele está na fase de tentativa e erro.

Comentários

  1. Serra, para um governador bem abaixo da média, sua arrogância não tem limites.
    Frank

    ResponderExcluir
  2. Anote aí, o cabra vai correr da raia!

    ResponderExcluir
  3. Mais uma análise chapa-branca do autor chapa-branca, com alguns respingos de "independência" analítica para iludir ingênuos analistas políticos.

    Deusdédit R Morais

    ResponderExcluir
  4. Os Italianos talvez diziam isso entre os anos de 1500 e 1600. Ninguém mais o usa. Ao menos na Itália. Pessoalmente, nunca ouvi, e olhe que morei na Itália uns 40 anos... também agora, em italiano moderno, "trovare" significa "achar". Antigamente, talvez, significasse "inventar", tanto é que ainda hoje se diz "trovata" para "invenção" ("è una bella trovata!". Mas o verbo significa só "achar", e tambem no sentido de "opinar", como em portugues.
    p.s. trovato, com uma T só.

    ResponderExcluir
  5. Só uma coisinha: pelo jeito, o Serra e o Fernando Rodrigues se esqueceram de uma pequenina diferença entre FHC e a dupla Collor/Sarney. Esta última tem mandato, sendo ambos senadores da República. Natural, portanto, que falem de vez em quando. Já FHC...

    ResponderExcluir

Postar um comentário

O Entrelinhas não censura comentaristas, mas não publica ofensas pessoais e comentários com uso de expressões chulas. Os comentários serão moderados, mas são sempre muito bem vindos.

Postagens mais visitadas deste blog

No pior clube

O livro O Crepúsculo da Democracia, da escritora e jornalista norte-americana Anne Applebaum, começa numa festa de Réveillon. O local: Chobielin, na zona rural da Polônia. A data: a virada de 1999 para o ano 2000. O prato principal: ensopado de carne com beterrabas assadas, preparado por Applebaum e sua sogra. A escritora, que já recebeu o maior prêmio do jornalismo nos Estados Unidos, o Pulitzer, é casada com um político polonês, Radosław Sikorski – na época, ele ocupava o cargo de ministro do Interior em seu país. Os convidados: escritores, jornalistas, diplomatas e políticos. Segundo Applebaum, eles se definiam, em sua maioria, como “liberais” – “pró-Europa, pró-estado de direito, pró-mercado” – oscilando entre a centro-direita e a centro-esquerda. Como costuma ocorrer nas festas de Réveillon, todos estavam meio altos e muito otimistas em relação ao futuro. Todos, é claro, eram defensores da democracia – o regime que, no limiar do século XXI, parecia ser o destino inevitável de toda

Abaixo o cancelamento

A internet virou o novo tribunal da inquisição — e isso é péssimo Só se fala na rapper Karol Conká, que saiu do BBB, da Rede Globo, com a maior votação da história do programa. Rejeição de 99,17% não é pouca coisa. A questão de seu comportamento ter sido odioso aos olhos do público não é o principal para mim. Sou o primeiro a reconhecer que errei muitas vezes. Tive atitudes pavorosas com amigos e relacionamentos, das quais me arrependo até hoje. Se alguma das vezes em que derrapei como ser humano tivesse ido parar na internet, o que aconteceria? Talvez tivesse de aprender russo ou mandarim para recomeçar a carreira em paragens distantes. Todos nós já fizemos algo de que não nos orgulhamos, falamos bobagem, brincadeiras de mau gosto etc… Recentemente, o ator Armie Hammer, de Me Chame pelo Seu Nome, sofreu acusações de abuso contra mulheres. Finalmente, através do print de uma conversa, acabou sendo responsabilizado também por canibalismo. Pavoroso. Tudo isso foi parar na internet. Ergue

OCDE e o erro do governo na gestão das expectativas

O assunto do dia nas redes é a tal negativa dos Estados Unidos para a entrada do Brasil na OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Enquanto os oposicionistas aproveitam para tripudiar, os governistas tentam colocar panos quentes na questão, alegando que não houve propriamente um veto à presença do Brasil no clube dos grandes, a Série A das nações. Quem trabalha com comunicação corporativa frequentemente escuta a frase "é preciso gerenciar a expectativa dos clientes". O problema todo é que o governo do presidente Bolsonaro vendeu como grande vitória a entrada com apoio de Trump - que não era líquida e certa - do país na OCDE. Ou seja, gerenciou mal a expectativa do cliente, no caso, a opinião pública brasileira. Não deixa de ser irônico que a Argentina esteja entrando na frente, logo o país vizinho cujo próximo governo provavelmente não será dos mais alinhados a Trump. A questão toda é que o Brasil não "perdeu", como o pobre Fla-Flu que impe