Pular para o conteúdo principal

Jorge Rodini: o rodapé da história

Aos poucos, o blog vai voltando à rotina. O intuito dessas Entrelinhas, é sempre bom lembrar, é o de oferecer um espaço para o debate sobre política e mídia. A participação dos colaboradores – o blog já tem a honra de contar com os cientistas políticos Wagner Iglecias e Ricardo Musse e o diretor do instituto Engrácia Garcia de pesquisas, Jorge Rodini – é salutar para que este debate ocorra. No comentário de hoje, Rodini comenta o cenário pós-eleitoral. Publicamos também o texto de Jorge Rodini enviado logo após as eleições e que em função das férias acabou não saindo. Embora se refira a um contexto que já parece distante, o texto continua vivo como explicação para a consagradora vitória do presidente nas urnas em 29 de outubro. A seguir, os dois comentários.

O segundo mandato já começou, em clima de férias, porém também de negociações. Controladores de vôo descontrolados, deputados e senadores pensando em mudar de partido, o Presidente querendo consertar erros do início da gestão anterior.

Parece que o PT vai perder vários ministérios e o PMDB vai abocanhá-los aos borbotões... São dívidas que precisam ser resgatadas, senão pode haver dificuldade na governabilidade.

O salto para o Desenvolvimento remete ao grande empresário Gerdau. Ao Brasil, exige-se que cresça não menos que 5% no próximo ano e mais ainda nos demais.

Se ficarmos na contramão do mundo, estaremos perdendo décadas e aí não há Bolsa-Família que dê jeito. Há necessidade premente de implementarmos o Desenvolvimento Econômico nas regiões mais pobres do País , ensinando aos brasileiros excluídos a buscarem renda, de acordo com as aptidões, demandas e caracteristicas locais.

A classe média, por outro lado, está cansada de pagar a conta e os pequenos empresários desesperados por assistirem a perda de competitividade no câmbio e na infra-estrutura.

Em síntese: ou crescemos já ou continuaremos no rodapé da história.

As razões da vitória de Lula

Com o final da campanha eleitoral e reeleição do Presidente Lula, podemos intuir os motivos da sua vitória incontesti. São cinco características de Lula que, a meu ver, foram absorvidas pelo povo brasileiro.

Lula é carismático A empatia do ex-torneiro mecânico com a população mais carente é quase fenomenal.

Lula é experimentado em eleições. Esta foi a quinta eleição presidencial que disputou.

Lula empolgou a militância. Apesar de todos os problemas que o PT teve, o presidente teve um exército a ajudá-lo.

Lula é o "Messias". Poucas figuras humanas no Brasil foram distinguidas com respeito e consideração dos mais pobres. De Messias Nordestino Lula foi alçado a condição de " Pai dos pobres".

Lula é resiliente. Por mais que sofra crises, ele consegue superá-las. Este conceito em Psicologia mostra como um pessoa pode ser quase imune às crises. Que, aliás, não foram poucas. Esta característica, porém, é diferente de invulnerabilidade ou invencibilidade

O Presidente sabe que tem vulnerabilidades.Tem que ter pressa para desatar o nó das contas públicas, das expectativas de reajustes elevados do salário-mínimo, das contas da previdência e da queda dos juros.
A economia do dia dia e o Bolsa-Família vão passar a ser o calcanhar de Aquiles deste novo mandato. Vai ser muito difícil segurar o preço dos produtos básicos e manter os programas sociais. O Brasil precisa crescer e o governo sabe disso.

Síntese: Lula ganhou porque teve respaldo popular, porque a oposição não conseguiu colar nele todas as trapalhadas de alguns membros do PT. Alckmin fez o que poderia ser feito, mas enfrentou um semi-Deus. Lula só não pode mais errar na questão ética nem impedir o crescimento mais vigoroso do Brasil. Até porque ele é resiliente, mas não invencível.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Abaixo o cancelamento

A internet virou o novo tribunal da inquisição — e isso é péssimo Só se fala na rapper Karol Conká, que saiu do BBB, da Rede Globo, com a maior votação da história do programa. Rejeição de 99,17% não é pouca coisa. A questão de seu comportamento ter sido odioso aos olhos do público não é o principal para mim. Sou o primeiro a reconhecer que errei muitas vezes. Tive atitudes pavorosas com amigos e relacionamentos, das quais me arrependo até hoje. Se alguma das vezes em que derrapei como ser humano tivesse ido parar na internet, o que aconteceria? Talvez tivesse de aprender russo ou mandarim para recomeçar a carreira em paragens distantes. Todos nós já fizemos algo de que não nos orgulhamos, falamos bobagem, brincadeiras de mau gosto etc… Recentemente, o ator Armie Hammer, de Me Chame pelo Seu Nome, sofreu acusações de abuso contra mulheres. Finalmente, através do print de uma conversa, acabou sendo responsabilizado também por canibalismo. Pavoroso. Tudo isso foi parar na internet. Ergue...

Rogério Andrade, o rei do bicho

No dia 23 de novembro do ano passado, o pai de Rodrigo Silva das Neves, cabo da Polícia Militar do Rio de Janeiro, foi ao batalhão da PM de Bangu, na Zona Oeste carioca, fazer um pedido. O homem, um subtenente bombeiro reformado, queria que os policiais do quartel parassem de bater na porta de sua casa à procura do filho — cuja prisão fora decretada na semana anterior, sob a acusação de ser um dos responsáveis pelo assassinato cinematográfico do bicheiro Fernando Iggnácio, executado com tiros de fuzil à luz do dia num heliporto da Barra da Tijuca. Quando soube que estava sendo procurado, o PM fugiu, virou desertor. Como morava numa das maiores favelas da região, a Vila Aliança, o pai de Neves estava preocupado com “ameaças e cobranças” de traficantes que dominam o local por causa da presença frequente de policiais. Antes de sair, no entanto, o bombeiro confidenciou aos agentes do Serviço Reservado do quartel que, “de fato, seu filho trabalhava como segurança do contraventor Rogério And...

No pior clube

O livro O Crepúsculo da Democracia, da escritora e jornalista norte-americana Anne Applebaum, começa numa festa de Réveillon. O local: Chobielin, na zona rural da Polônia. A data: a virada de 1999 para o ano 2000. O prato principal: ensopado de carne com beterrabas assadas, preparado por Applebaum e sua sogra. A escritora, que já recebeu o maior prêmio do jornalismo nos Estados Unidos, o Pulitzer, é casada com um político polonês, Radosław Sikorski – na época, ele ocupava o cargo de ministro do Interior em seu país. Os convidados: escritores, jornalistas, diplomatas e políticos. Segundo Applebaum, eles se definiam, em sua maioria, como “liberais” – “pró-Europa, pró-estado de direito, pró-mercado” – oscilando entre a centro-direita e a centro-esquerda. Como costuma ocorrer nas festas de Réveillon, todos estavam meio altos e muito otimistas em relação ao futuro. Todos, é claro, eram defensores da democracia – o regime que, no limiar do século XXI, parecia ser o destino inevitável de toda...