Pular para o conteúdo principal

Começou a molecagem da oposição

O Senado aprovou na noite de terça-feira (21) um projeto de lei que cria o "13° salário" para o Bolsa Família. A proposta é de autoria do senador Efraim Moraes, do PFL, e tem como único objetivo constranger o presidente Lula, que terá de mobilizar sua base parlamentar na Câmara, para onde a proposta seguiu, e derrubar o projeto, uma vez que não há dinheiro para pagar o benefício. Em outras palavras, começou cedo a molecagem da oposição. É do jogo democrático este tipo de estratégia, mas talvez os oposicionistas estejam subestimando a inteligência dos brasileiros. Se durante toda a campanha deste ano próceres do PFL e do PSDB diziam que o Bolsa Família era um programa eleitoreiro, como explicar agora a ampliação da tal âncora que teria ajudado a eleger Lula? A oposição já virou cabo eleitoral do PT rumo a 2010?

O povo já mostrou que não é tão bobo como imaginam os líderes do PFL, não acreditou em metade do que diziam sobre o "governo mais corrupto da história", é provável que também compreenda que os velhos caciques estão apenas tentando dar um "passa moleque" no presidente. Se for assim, ironicamente a oposição terá ajudado Lula a obter ainda mais confiança daquela entidade etérea chamada Mercado. Sim, porque toda vez que o governo age de forma fiscalmente responsável, ganha pontos no meio desse povo engravatado que apesar de torcer contra o torneiro-mecânico que virou presidente, só tem tido notícias agradáveis no governo dele. Quando a esperteza é muito, diz o ditado popular, ela come o dono. É o que pode ocorrer neste episódio – o povão acaba ignorando a jogadinha pefelista e o Mercado, rendendo homenagens ao presidente pela firmeza no trato do dinheiro público.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Rogério Andrade, o rei do bicho

No dia 23 de novembro do ano passado, o pai de Rodrigo Silva das Neves, cabo da Polícia Militar do Rio de Janeiro, foi ao batalhão da PM de Bangu, na Zona Oeste carioca, fazer um pedido. O homem, um subtenente bombeiro reformado, queria que os policiais do quartel parassem de bater na porta de sua casa à procura do filho — cuja prisão fora decretada na semana anterior, sob a acusação de ser um dos responsáveis pelo assassinato cinematográfico do bicheiro Fernando Iggnácio, executado com tiros de fuzil à luz do dia num heliporto da Barra da Tijuca. Quando soube que estava sendo procurado, o PM fugiu, virou desertor. Como morava numa das maiores favelas da região, a Vila Aliança, o pai de Neves estava preocupado com “ameaças e cobranças” de traficantes que dominam o local por causa da presença frequente de policiais. Antes de sair, no entanto, o bombeiro confidenciou aos agentes do Serviço Reservado do quartel que, “de fato, seu filho trabalhava como segurança do contraventor Rogério And...

No pior clube

O livro O Crepúsculo da Democracia, da escritora e jornalista norte-americana Anne Applebaum, começa numa festa de Réveillon. O local: Chobielin, na zona rural da Polônia. A data: a virada de 1999 para o ano 2000. O prato principal: ensopado de carne com beterrabas assadas, preparado por Applebaum e sua sogra. A escritora, que já recebeu o maior prêmio do jornalismo nos Estados Unidos, o Pulitzer, é casada com um político polonês, Radosław Sikorski – na época, ele ocupava o cargo de ministro do Interior em seu país. Os convidados: escritores, jornalistas, diplomatas e políticos. Segundo Applebaum, eles se definiam, em sua maioria, como “liberais” – “pró-Europa, pró-estado de direito, pró-mercado” – oscilando entre a centro-direita e a centro-esquerda. Como costuma ocorrer nas festas de Réveillon, todos estavam meio altos e muito otimistas em relação ao futuro. Todos, é claro, eram defensores da democracia – o regime que, no limiar do século XXI, parecia ser o destino inevitável de toda...

Dúvida atroz

A difícil situação em que se encontra hoje o presidente da República, com 51% de avaliação negativa do governo, 54% favoráveis ao impeachment e rejeição eleitoral batendo na casa dos 60%, anima e ao mesmo tempo impõe um dilema aos que articulam candidaturas ditas de centro: bater em quem desde já, Lula ou Bolsonaro?  Há quem já tenha a resposta, como Ciro Gomes (PDT). Há também os que concordam com ele e vejam o ex-presidente como alvo preferencial. Mas há quem prefira investir prioritariamente no derretimento do atual, a ponto de tornar a hipótese de uma desistência — hoje impensável, mas compatível com o apreço presidencial pelo teatro da conturbação — em algo factível. Ao que tudo indica, só o tempo será capaz de construir um consenso. Se for possível chegar a ele, claro. Por ora, cada qual vai seguindo a sua trilha. Os dois personagens posicionados na linha de tiro devido à condição de preferidos nas pesquisas não escondem o desejo de se enfrentar sem os empecilhos de terceira,...