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A falsa questão das doações a políticos

A Folha de S. Paulo vem insistindo no tema do financiamento das campanhas eleitorais. No final de semana, o jornal publicou uma série de matérias mostrando que deputados e senadores recebem doações para as suas campanhas de empresas relacionadas aos temas que elegem para trabalhar em seus mandatos. Assim, um deputado que integra a CPI das Armas, por exemplo, foi financiado pela indústria armamentista e o mesmo se deu com vários parlamentares. Ora, fatos como esses são absolutamente normais (e legais, segundo as normas em vigor): estranho seria as empresas financiarem os adversários de suas "causas", digamos assim. É óbvio que os deputados-candidatos buscam recursos entre empresas com as quais mantém algum tipo de relacionamento e é justo que, eleitos, defendam os interesses com os quais se comprometeram.

A Folha sabe que não há ilegalidade alguma no que denuncia. A série de matérias na verdade revela apenas a hipocrisia do jornal, que vê o mundo repleto de "corruptos" ou "vendidos", mas não olha o próprio umbigo. Se quisesse realmente questionar o modelo, o jornal deveria defender o financiamento público das campanhas, que é a única medida capaz de mudar este cenário. Para a Folha, no entanto, o financiamento público é nefasto porque não acaba com o caixa dois e ainda coloca nas mãos dos partidos os recursos que o governo poderia aplicar em outras áreas. Seria bom perguntar então aos sábios da Folha qual é o melhor jeito para evitar os lobbys empresariais na disputa eleitoral. Eles devem ter a solução...

Comentários

  1. Concordo contigo, a Folha está pedindo uma coerência que ela mesma não tem (participou dos leilões de privatização da telefonia, aceita anúncios das mesmas empresas privadas que financiam as campanhas dos deputados etc).

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