Pular para o conteúdo principal

A falsa questão das doações a políticos

A Folha de S. Paulo vem insistindo no tema do financiamento das campanhas eleitorais. No final de semana, o jornal publicou uma série de matérias mostrando que deputados e senadores recebem doações para as suas campanhas de empresas relacionadas aos temas que elegem para trabalhar em seus mandatos. Assim, um deputado que integra a CPI das Armas, por exemplo, foi financiado pela indústria armamentista e o mesmo se deu com vários parlamentares. Ora, fatos como esses são absolutamente normais (e legais, segundo as normas em vigor): estranho seria as empresas financiarem os adversários de suas "causas", digamos assim. É óbvio que os deputados-candidatos buscam recursos entre empresas com as quais mantém algum tipo de relacionamento e é justo que, eleitos, defendam os interesses com os quais se comprometeram.

A Folha sabe que não há ilegalidade alguma no que denuncia. A série de matérias na verdade revela apenas a hipocrisia do jornal, que vê o mundo repleto de "corruptos" ou "vendidos", mas não olha o próprio umbigo. Se quisesse realmente questionar o modelo, o jornal deveria defender o financiamento público das campanhas, que é a única medida capaz de mudar este cenário. Para a Folha, no entanto, o financiamento público é nefasto porque não acaba com o caixa dois e ainda coloca nas mãos dos partidos os recursos que o governo poderia aplicar em outras áreas. Seria bom perguntar então aos sábios da Folha qual é o melhor jeito para evitar os lobbys empresariais na disputa eleitoral. Eles devem ter a solução...

Comentários

  1. Concordo contigo, a Folha está pedindo uma coerência que ela mesma não tem (participou dos leilões de privatização da telefonia, aceita anúncios das mesmas empresas privadas que financiam as campanhas dos deputados etc).

    ResponderExcluir

Postar um comentário

O Entrelinhas não censura comentaristas, mas não publica ofensas pessoais e comentários com uso de expressões chulas. Os comentários serão moderados, mas são sempre muito bem vindos.

Postagens mais visitadas deste blog

Rogério Andrade, o rei do bicho

No dia 23 de novembro do ano passado, o pai de Rodrigo Silva das Neves, cabo da Polícia Militar do Rio de Janeiro, foi ao batalhão da PM de Bangu, na Zona Oeste carioca, fazer um pedido. O homem, um subtenente bombeiro reformado, queria que os policiais do quartel parassem de bater na porta de sua casa à procura do filho — cuja prisão fora decretada na semana anterior, sob a acusação de ser um dos responsáveis pelo assassinato cinematográfico do bicheiro Fernando Iggnácio, executado com tiros de fuzil à luz do dia num heliporto da Barra da Tijuca. Quando soube que estava sendo procurado, o PM fugiu, virou desertor. Como morava numa das maiores favelas da região, a Vila Aliança, o pai de Neves estava preocupado com “ameaças e cobranças” de traficantes que dominam o local por causa da presença frequente de policiais. Antes de sair, no entanto, o bombeiro confidenciou aos agentes do Serviço Reservado do quartel que, “de fato, seu filho trabalhava como segurança do contraventor Rogério And...

No pior clube

O livro O Crepúsculo da Democracia, da escritora e jornalista norte-americana Anne Applebaum, começa numa festa de Réveillon. O local: Chobielin, na zona rural da Polônia. A data: a virada de 1999 para o ano 2000. O prato principal: ensopado de carne com beterrabas assadas, preparado por Applebaum e sua sogra. A escritora, que já recebeu o maior prêmio do jornalismo nos Estados Unidos, o Pulitzer, é casada com um político polonês, Radosław Sikorski – na época, ele ocupava o cargo de ministro do Interior em seu país. Os convidados: escritores, jornalistas, diplomatas e políticos. Segundo Applebaum, eles se definiam, em sua maioria, como “liberais” – “pró-Europa, pró-estado de direito, pró-mercado” – oscilando entre a centro-direita e a centro-esquerda. Como costuma ocorrer nas festas de Réveillon, todos estavam meio altos e muito otimistas em relação ao futuro. Todos, é claro, eram defensores da democracia – o regime que, no limiar do século XXI, parecia ser o destino inevitável de toda...

Dúvida atroz

A difícil situação em que se encontra hoje o presidente da República, com 51% de avaliação negativa do governo, 54% favoráveis ao impeachment e rejeição eleitoral batendo na casa dos 60%, anima e ao mesmo tempo impõe um dilema aos que articulam candidaturas ditas de centro: bater em quem desde já, Lula ou Bolsonaro?  Há quem já tenha a resposta, como Ciro Gomes (PDT). Há também os que concordam com ele e vejam o ex-presidente como alvo preferencial. Mas há quem prefira investir prioritariamente no derretimento do atual, a ponto de tornar a hipótese de uma desistência — hoje impensável, mas compatível com o apreço presidencial pelo teatro da conturbação — em algo factível. Ao que tudo indica, só o tempo será capaz de construir um consenso. Se for possível chegar a ele, claro. Por ora, cada qual vai seguindo a sua trilha. Os dois personagens posicionados na linha de tiro devido à condição de preferidos nas pesquisas não escondem o desejo de se enfrentar sem os empecilhos de terceira,...