Certas coisas que acontecem na política parecem coincidências e são mesmo coincidências. Outras parecem, mas não são. No início deste ano, um funcionário da Casa Civil da Presidência da República, indicado pelo ex-ministro José Dirceu, vazou um suposto dossiê sobre os gastos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Pegou mal para a chefe do funcionário, a ministra Dilma Rousseff, que teve até que explicar o caso no Senado, em uma sessão que acabou servindo de palanque para a ministra, tamanha a incompetência da oposição em argui-lá. Hoje, o jornal O Estado de S. Paulo publica uma nova denúncia contra Dilma, desta vez partindo da ex-diretora da Anac Denise Abreu, sobre uma suposta operação coordenada pela chefe da Casa Civil para beneficar a Varig e Roberto Teixeira, advogado da companhia e compadre do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Bem, adivinhe o leitor de quem foi a indicação de Denise Abreu para a Anac? Ganhou um doce quem pensou no ex-ministro Zé Dirceu. É claro que pode ser tudo coincidência, ainda mais considerando que Dilma se posicionou favoravelmente à fusão da Brasil Telecom com a Oi, um negócio meio aborrecido para a concorrência, especialmente a Claro, controlada pela Telmex de Carlos Slim, um dos principais clientes do consultor José Dirceu... Um dia alguém ainda vai contar essas histórias direito.
O livro O Crepúsculo da Democracia, da escritora e jornalista norte-americana Anne Applebaum, começa numa festa de Réveillon. O local: Chobielin, na zona rural da Polônia. A data: a virada de 1999 para o ano 2000. O prato principal: ensopado de carne com beterrabas assadas, preparado por Applebaum e sua sogra. A escritora, que já recebeu o maior prêmio do jornalismo nos Estados Unidos, o Pulitzer, é casada com um político polonês, Radosław Sikorski – na época, ele ocupava o cargo de ministro do Interior em seu país. Os convidados: escritores, jornalistas, diplomatas e políticos. Segundo Applebaum, eles se definiam, em sua maioria, como “liberais” – “pró-Europa, pró-estado de direito, pró-mercado” – oscilando entre a centro-direita e a centro-esquerda. Como costuma ocorrer nas festas de Réveillon, todos estavam meio altos e muito otimistas em relação ao futuro. Todos, é claro, eram defensores da democracia – o regime que, no limiar do século XXI, parecia ser o destino inevitável de toda
boa essa corrente de coincidências...
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