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Conforme queríamos demonstrar

No artigo para o Correio da Cidadania reproduzido aqui duas notas atrás, o autor destas Entrelinhas desenvolveu e abraçou a tese de que ao governador José Serra não resta outra saída senão trabalhar contra o candidato do PSDB à prefeitura de São Paulo e a favor do prefeito Gilberto Kassab (DEM). Não se trata de uma tese particularmente original, na verdade ela é até óbvia para qualquer analista que tente raciocinar a partir do ponto de vista e dos interesses de José Serra.

O que este blog não esperava, porém, é que o governador fosse dar uma demonstração de seu, digamos assim, apreço pelo prefeito Kassab logo no dia seguinte à Convenção do PSDB qeu escolheu Geraldo Alckmin para a disputa de outubro na capital paulista. Como se pode ler abaixo na reportagem da Agência Estado, Serra e Kassab curtiram o frio paulistano desta tarde no mesmo palácio, juntinhos. Claro que o governador não poderia dizer outra coisa para a imprensa se não que o prefeito é "automaticamente convidado" para eventos como os de hoje, mas o simbolismo do encontro é evidente: nesta segunda-feira, Serra não esteve com o candidato de seu partido, mas com o seu candidato à prefeitura de São Paulo. É como se ele, Serra, perguntasse, à la Reinaldo Azevedo: entenderam ou vou precisar desenhar?
A seguir, a matéria a Agência Estado:

Após PSDB lançar Alckmin, Serra e Kassab participam de evento

Governador de SP foi indagado sobre presença do prefeito e respondeu ' ele é convidado automaticamente'

SÃO PAULO - O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), participou nesta segunda-feira, 23, de evento em São Paulo para anunciar financiamentos no valor de R$ 2,8 bilhões para a expansão das linhas de trem e de metrô na cidade ao lado do prefeito da capital paulista, Gilberto Kassab (DEM). Indagado sobre o cunho político da presença de Kassab na cerimônia, um dia após a convenção do PSDB que rompeu formalmente a aliança com o DEM e anunciou Geraldo Alckmin (PSDB) como candidato à Prefeitura de São Paulo, o governador esquivou-se: "O prefeito é convidado automaticamente a qualquer ato envolvendo a cidade de São Paulo". Sobre questões partidárias, Serra não se manifestou. "Não posso falar de política toda vez que há um anúncio como esse", disse.

Um acordo fechado a menos de 12 horas da convenção do PSDB no domingo pôs fim à disputa entre o ex-governador e Kassab para a escolha do candidato dos tucanos à Prefeitura de São Paulo. O partido teve chapa única encabeçada por Alckmin, que foi lançado candidato com apoio unânime do PSDB. Numa reunião no sábado, o grupo de tucanos pró-Kassab concordou em retirar a chapa que pedia o apoio à reeleição do atual prefeito.

O acordo foi selado no mesmo dia em que o governador José Serra retornou a São Paulo de uma viagem ao exterior. O vereador Gilberto Natalini, um dos articuladores da chapa pró-Kassab, disse, sem revelar nomes, que a decisão do grupo atende a um pedido feito por lideranças nacionais e estaduais do PSDB. "Houve um apelo do partido em nível nacional, de lideranças estaduais de vários locais e a bancada, embora tenha certeza de que a sua tese sairia vencedora, decidiu reconsiderar e não vamos concorrer", afirmou. "Duas candidaturas jogam água no moinho do PT."

O presidente nacional do PSDB, Senador Sergio Guerra (PSDB-PE) disse que Serra teve papel decisivo no acordo que definiu um candidato próprio para o PSDB. "Sem dúvida, equilíbrio, ponderação e firmeza, também sempre foram a marca dele ", respondeu ao ser questionado sobre o papel de Serra na decisão tomada no sábado, antes da convenção do partido, no domingo.

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