O leitor fiel destas Entrelinhas pode até se espantar, mas desta vez o blogueiro Reinaldo Azevedo, colunista da revista Veja, mandou tão bem que não dá para não reproduzir. É muito raro acontecer, mas neste caso o autor deste blog concorda tanto com o colega que assinaria embaixo o post que ele publicou neste domingo, à exceção das provocações bobinhas ao presidente e petistas, aliás desnecessárias porque a nova legislação tem muito pouco a ver com Lula e o PT, é fruto de um consenso obtido na Câmara Federal. Para quem não lembra, um dos comandantes da aprovação do texto final com o endurecimento na legislação (o Senado havia abrandado um pouco) foi o deputado Antonio Carlos Magalhães Neto, hoje candidato do DEM à prefeitura de Salvador.
Na essência, porém, os argumentos de Reinaldão são bons e este blog também acha a lei seca um absurdo lógico. Afinal, hoje o consumidor de cocaína, qualquer que seja a quantidade cheirada, não paga multa nem vai preso se declarar que a droga apreendida pela autoridade policial é para consumo próprio. Inclusive se estiver dirigindo um automóvel. Já o cidadão que toma 2 chopps e for flagrado pela polícia terá de pagar os R$ 955, será preso e processado. Condenado, pode pegar até 4 anos de cadeia...
No fundo, o espírito da lei é bom, positivo – proibir bêbados de dirigir e provocar acidentes. Para isto, porém, bastariam algumas medidas que inclusive estão no texto da nova lei, como a que transformou em homicídio doloso (com inteção de matar) o envolvimento de motoristas alcoolizados em acidentes fatais (antes eram classificados como homícidios culposos, sem intenção de matar e com pena bem menor). Criminalizar o ato de dirigir após dois chopinhos realmente parece a este blogueiro um exagero sem tamanho. A vida já anda dura o suficiente, o Congresso não precisava nos brindar, como o perdão do trocadilho, com mais esta atrapalhação... E antes que algum desavisado diga que Lula poderia ter vetado a porcaria toda, até o Reinaldão há de concordar que se o presidente tivesse passado a caneta, a direita estaria em festa, acusando-o a torto e a direito de ter legislado em causa própria... A seguir, o polêmico texto do colunista da Veja.
A boçalidade dos aiatolás das proibições
A lei que pode cassar a carta de motorista, com multa de quase R$ 1 mil, de quem tomar uma taça de vinho ou uma lata de cerveja é uma boçalidade. Coisa típica de país em que as leis são flagrantemente desrespeitadas pelos próprios governantes, que dividem o seu reinado com o crime organizado, mas que decidem ser draconianos com o cidadão comum. Abstenho-me de perguntar se Lula e Roberto Teixeira estavam sóbrios quando discutiam o caso Varig, por exemplo. Até porque tenho certeza: sim, eles estavam.
Não há nada que possamos fazer bêbados que Lula e Teixeira não façam muito pior estando sóbrios.
Será que estou aqui a defender que as pessoas saiam barbarizando por aí, já que o país, no ponto de vista legal, está se transformando num lupanar — para usar vocábulo acima da linha da cintura, embora a palavra designe o que vai abaixo? É claro que não. Apenas sustento que é uma estupidez impor limites tão baixos para o consumo, o que coloca o país entre os mais restritivos do mundo.
Como foi tomada essa decisão? Quais são os números? Há casos de acidentes graves no trânsito provocados por quem tomou uma lata de cerveja apenas? Ou uma taça de vinho? Duvido. É rigidez de país bananeiro — que contou, no caso, com a soma de várias militâncias da estupidez e do obscurantismo pseudo-humanistas. E reitero: que a lei seja dura, sim. Mas para punir o alcoolismo no trânsito.
Obscurantismos
Os lobistas da droga devem estar felizes a esta altura, não? A lei já lhes faculta carregar um fuminho apenas para seu consumo. No máximo, o sujeito leva um pito. Se, numa festa, o valente fumar maconha até ficar com os olhos esgazeados ou cheirar pó até eles ficarem vidrados, nada a temer: pode soprar o canudo, que a passagem está livre. É um homem de bem. Perigoso é o pobre contador que vem atrás, coitado, ou um gerente de banco: tomaram uma cerveja... Como é mesmo? “Dançou, playboy!”. Ah, sim: também dá pra mandar ver no ecstasy. O viciado tem até direito a bebedouro, garantido por lei. É um despropósito!
Alguns idiotas, proxenetas do onguismo que pretende nos sufocar com seus carinhos — embora, de fato, encham de dinheiro os seus bolsinhos —, acusam o lobby da indústria da bebida de ser contra isso ou aquilo. Eu quero que o lobby da bebida, do fumo ou das comidas que engordem se dane. O que acho insuportável é esta, com vou chamar?, “medicalização” da cultura, que nos transforma a todos em menores idiotizados, estupidificados pela suposta desinformação, dependentes de que o papai estado venha nos dizer: “Não fume, não beba, não consuma calorias, não isso, não aquilo... Nós só queremos o seu bem”.
Alguém poderia dizer: “Curioso, Reinaldo! Por que fazem o contrário com o sexo, botando máquinas de camisinha nas escolas?” Não há contradição nenhuma, mas coerência na estupidez. A “camisinha” também é a transformação do sexo apenas em questão médica: “Encape o bicho, e aí tudo é permitido”. Em qualquer caso, trata-se de diminuir o espaço da arbitragem individual.
A única nota algo dissonante nessa cruzada dos aiatolás da saúde é a tolerância com as drogas — e até o estímulo ao consumo. Mas até ela se explica se formos fazer a genealogia dessas “idéias purificadoras”: os “inteliquituais” dessa nova cultura são caudatários daquele tempo em que elas contestavam o “sistema”, entendem? Não beber, não fumar, não consumir gorduras, tudo isso é uma variante contemporânea daquela “contestação”. Não por acaso, acusam-se os lobbies de fazer pressão contra as proibições por razões “puramente de mercado”. Há uns idiotas achando que, assim, ajudam a combater o capitalismo.
Não deixa de irônico
No fim das contas, isso tudo não deixa de ser irônico — e olhem que não dirijo; a lei nem me atinge pessoalmente. Já aconteceu de eu me dizer católico aqui e ali, e as pessoas me olharem como se eu fosse um ET. Algumas me vêem até com certa piedade. Outros desandam a falar de sua vida venturosa, tão plena daquelas alegrias que, para uma pobre vítima do Vaticano, estariam vedados. Porque vocês sabem, não? Católicos ficam vendo pecado em tudo, torturando-se diante de qualquer prenúncio de prazer, mortificando-se... Ou, então, hipócritas que somos, caímos em tentação para rezar uma penca de ave-marias depois.
Quem diria, não? Estou começando a me sentir permissivo diante do triunfo dessa nova religião. Daqui a pouco, teremos de rezar algumas vezes por dia com a cabeça voltada para o Ministério da Saúde: sem fumar, sem beber, sem consumir gorduras, prontos para, com o sangue limpinho, ser sugados pelos mosquitos de José Gomes Temporão.
Estatísticas enganosas
Caso se espalhem alguns milhares ou milhões de bafômetros e se imponha o terror, é bem possível que caia o número de acidentes provocados por ingestão de álcool. É que os realmente embriagados terão sido tirados de circulação. E os idiotas dirão então: “Estão vendo? A lei foi eficaz”.
Ela foi eficaz porque pegou os bêbados — o que se pode fazer com uma lei mais racional —, não porque agrediu os nossos direitos e diminuiu a nossa joie de vivre.
Na essência, porém, os argumentos de Reinaldão são bons e este blog também acha a lei seca um absurdo lógico. Afinal, hoje o consumidor de cocaína, qualquer que seja a quantidade cheirada, não paga multa nem vai preso se declarar que a droga apreendida pela autoridade policial é para consumo próprio. Inclusive se estiver dirigindo um automóvel. Já o cidadão que toma 2 chopps e for flagrado pela polícia terá de pagar os R$ 955, será preso e processado. Condenado, pode pegar até 4 anos de cadeia...
No fundo, o espírito da lei é bom, positivo – proibir bêbados de dirigir e provocar acidentes. Para isto, porém, bastariam algumas medidas que inclusive estão no texto da nova lei, como a que transformou em homicídio doloso (com inteção de matar) o envolvimento de motoristas alcoolizados em acidentes fatais (antes eram classificados como homícidios culposos, sem intenção de matar e com pena bem menor). Criminalizar o ato de dirigir após dois chopinhos realmente parece a este blogueiro um exagero sem tamanho. A vida já anda dura o suficiente, o Congresso não precisava nos brindar, como o perdão do trocadilho, com mais esta atrapalhação... E antes que algum desavisado diga que Lula poderia ter vetado a porcaria toda, até o Reinaldão há de concordar que se o presidente tivesse passado a caneta, a direita estaria em festa, acusando-o a torto e a direito de ter legislado em causa própria... A seguir, o polêmico texto do colunista da Veja.
A boçalidade dos aiatolás das proibições
A lei que pode cassar a carta de motorista, com multa de quase R$ 1 mil, de quem tomar uma taça de vinho ou uma lata de cerveja é uma boçalidade. Coisa típica de país em que as leis são flagrantemente desrespeitadas pelos próprios governantes, que dividem o seu reinado com o crime organizado, mas que decidem ser draconianos com o cidadão comum. Abstenho-me de perguntar se Lula e Roberto Teixeira estavam sóbrios quando discutiam o caso Varig, por exemplo. Até porque tenho certeza: sim, eles estavam.
Não há nada que possamos fazer bêbados que Lula e Teixeira não façam muito pior estando sóbrios.
Será que estou aqui a defender que as pessoas saiam barbarizando por aí, já que o país, no ponto de vista legal, está se transformando num lupanar — para usar vocábulo acima da linha da cintura, embora a palavra designe o que vai abaixo? É claro que não. Apenas sustento que é uma estupidez impor limites tão baixos para o consumo, o que coloca o país entre os mais restritivos do mundo.
Como foi tomada essa decisão? Quais são os números? Há casos de acidentes graves no trânsito provocados por quem tomou uma lata de cerveja apenas? Ou uma taça de vinho? Duvido. É rigidez de país bananeiro — que contou, no caso, com a soma de várias militâncias da estupidez e do obscurantismo pseudo-humanistas. E reitero: que a lei seja dura, sim. Mas para punir o alcoolismo no trânsito.
Obscurantismos
Os lobistas da droga devem estar felizes a esta altura, não? A lei já lhes faculta carregar um fuminho apenas para seu consumo. No máximo, o sujeito leva um pito. Se, numa festa, o valente fumar maconha até ficar com os olhos esgazeados ou cheirar pó até eles ficarem vidrados, nada a temer: pode soprar o canudo, que a passagem está livre. É um homem de bem. Perigoso é o pobre contador que vem atrás, coitado, ou um gerente de banco: tomaram uma cerveja... Como é mesmo? “Dançou, playboy!”. Ah, sim: também dá pra mandar ver no ecstasy. O viciado tem até direito a bebedouro, garantido por lei. É um despropósito!
Alguns idiotas, proxenetas do onguismo que pretende nos sufocar com seus carinhos — embora, de fato, encham de dinheiro os seus bolsinhos —, acusam o lobby da indústria da bebida de ser contra isso ou aquilo. Eu quero que o lobby da bebida, do fumo ou das comidas que engordem se dane. O que acho insuportável é esta, com vou chamar?, “medicalização” da cultura, que nos transforma a todos em menores idiotizados, estupidificados pela suposta desinformação, dependentes de que o papai estado venha nos dizer: “Não fume, não beba, não consuma calorias, não isso, não aquilo... Nós só queremos o seu bem”.
Alguém poderia dizer: “Curioso, Reinaldo! Por que fazem o contrário com o sexo, botando máquinas de camisinha nas escolas?” Não há contradição nenhuma, mas coerência na estupidez. A “camisinha” também é a transformação do sexo apenas em questão médica: “Encape o bicho, e aí tudo é permitido”. Em qualquer caso, trata-se de diminuir o espaço da arbitragem individual.
A única nota algo dissonante nessa cruzada dos aiatolás da saúde é a tolerância com as drogas — e até o estímulo ao consumo. Mas até ela se explica se formos fazer a genealogia dessas “idéias purificadoras”: os “inteliquituais” dessa nova cultura são caudatários daquele tempo em que elas contestavam o “sistema”, entendem? Não beber, não fumar, não consumir gorduras, tudo isso é uma variante contemporânea daquela “contestação”. Não por acaso, acusam-se os lobbies de fazer pressão contra as proibições por razões “puramente de mercado”. Há uns idiotas achando que, assim, ajudam a combater o capitalismo.
Não deixa de irônico
No fim das contas, isso tudo não deixa de ser irônico — e olhem que não dirijo; a lei nem me atinge pessoalmente. Já aconteceu de eu me dizer católico aqui e ali, e as pessoas me olharem como se eu fosse um ET. Algumas me vêem até com certa piedade. Outros desandam a falar de sua vida venturosa, tão plena daquelas alegrias que, para uma pobre vítima do Vaticano, estariam vedados. Porque vocês sabem, não? Católicos ficam vendo pecado em tudo, torturando-se diante de qualquer prenúncio de prazer, mortificando-se... Ou, então, hipócritas que somos, caímos em tentação para rezar uma penca de ave-marias depois.
Quem diria, não? Estou começando a me sentir permissivo diante do triunfo dessa nova religião. Daqui a pouco, teremos de rezar algumas vezes por dia com a cabeça voltada para o Ministério da Saúde: sem fumar, sem beber, sem consumir gorduras, prontos para, com o sangue limpinho, ser sugados pelos mosquitos de José Gomes Temporão.
Estatísticas enganosas
Caso se espalhem alguns milhares ou milhões de bafômetros e se imponha o terror, é bem possível que caia o número de acidentes provocados por ingestão de álcool. É que os realmente embriagados terão sido tirados de circulação. E os idiotas dirão então: “Estão vendo? A lei foi eficaz”.
Ela foi eficaz porque pegou os bêbados — o que se pode fazer com uma lei mais racional —, não porque agrediu os nossos direitos e diminuiu a nossa joie de vivre.
Sim, um absurdo que uma pessoa cheirada, ao ser pega, não sofra nenhuma punição. Dois poréns: muito difícil uma pessoa cheirada que não esteja tb bêbada, portanto uma coisa leva a outra. O outro detalhe sórdido é que a própria polícia é grande consumidora de drogas. Se tivesse um exame antidopping em todas as delegacias do país, sobravam bem poucos policiais limpos.
ResponderExcluirO Código de Trânsito trata o álcool e a drogra da mesma forma, sem distinção. Não é verdade que o motorista drogado está livre da penalidade aplicável ao que bebeu. Vide nova redação do art. 165 do CTB:
ResponderExcluirArt. 165. Dirigir sob a influência de álcool ou de qualquer outra substância psicoativa que determine dependência:
Infração - gravíssima;
Penalidade - multa (cinco vezes) e suspensão do direito de dirigir por 12 (doze) meses;
Medida Administrativa - retenção do veículo até a apresentação de condutor habilitado e recolhimento do documento de habilitação.
Eu acho q esse Reinaldo não faz nada o dia todo mesmo e só fica escrevendo. Escreve tanto q se perde e sua capacidade de interpretar os fatos sempre passam pela influência do Lula e do PT em tudo. Se ele comentar o resultado de um jogo ou um desastre natural ele sempre culpara Lula e o PT. Apesar q ultimamente já estão culpando a má atuação da seleção brasileira com a influência do Lula, não esta faltando mais nada.Segundo Reinaldo e Magalhães a lei deveria isentar aquele q toma "2 choppinhos" ou uma taça de vinho, como se a maioria das pessoas só ficassem nisso. Acho tb q as drogas deveriam ter o mesmo tratamento, mas o alcool é de longe o mais consumido e o q esta mais diretamente relacionado com os acidentes. Qdo passei no vestibular fui fazer pedágio nos semaforos da minha cidade (Piracicaba/SP) e em duas horas q fiquei ali percebi q uma boa parte dos carros que paravam, os motoristas estavam com latinhas ou garrafas de cerveja nas mãos.Até assustei de ver como tanta gente não se importava, pois pensam q não tem nada a ver sair do trabalho e toma uma cervejinha no caminho pra casa. Como era sempre no horário entre 19:00 e 21:00 hs, é geralmente o horário depois do trabalho. Então essa histórinha de apenas 2 choppinhos é minoria q faz isso. E dependendo da pessoa 2 choppinhos faz uma diferença enorme.
ResponderExcluirQue maravilha, só uma cervejinha mesmo para unir a direita raivosa e a esquerda.
ResponderExcluirHeder
Não é verdade que tomar dois chopinhos ou uma taça de vinho acusa no bafômetro. Várias entrevistas com gente ligada ao tráfego mostraram com exemplos que basta beber água e deixar passar uma meia hora para o bafômetro não acusar o limite de embriaguez. É uma questão de bom senso; e mais, o limite depende do peso e do tamanho da pessoa. Agora, mais que dois chopes ou duas taças de vinho é perigoso para o indivíduo e para os outros mesmos, especialmente se o sujeito foi dirigir logo depois de tomar as bebidas. Pra quê tanto alarmismo; basta ter bom senso.
ResponderExcluirTudo bem, mas num tem jeito, para esta lei deixar de existir é preciso que o trânsito não mate como está matando. Se está matando como está matando, podem espernear que a lei veio para ficar.
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