Pular para o conteúdo principal

Venda da Nossa Caixa divide a direita

O anúncio da negociação entre o Banco do Brasil e a Nossa Caixa para aquisição da segunda pelo primeiro, é o tipo do acontecimento que provoca muita polêmica entre os setores conservadores da sociedade. Os banqueiros privados não gostaram muito da brincadeira e querem um leilão para venda da Caixa, que pertence majoritariamente ao governo de São Paulo, ou seja, ao povo paulista.

Os blogueiros direitistas já começaram a tomar partido: Reinaldo Azevedo, que em relação ao governador José Serra (PSDB) tudo perdoa, ressalva ser a favor da privatização do Banco do Brasil, mas defende a manobra tucana de vender a Caixa ao BB e não ao setor privado. Segundo ele, há dois fatores a serem levados em consideração: primeiro, existe a questão de que boa parte do total de ativos da Nossa Caixa, cerca de R$ 16 bilhões, são depósitos judiciais, que pela lei não podem ficar com bancos privados. Assim, argumenta Reinaldo, se o Itaú ou o Bradesco comprarem a Nossa Caixa, vão pagar um valor menor e os R$ 16 bilhões passarão automaticamente para o BB, de graça. Em segundo lugar, há o aspecto político, explica Reinaldo: se Serra anunciar a privatização da Nossa Caixa, com a venda para o setor privado, a Assembléia Legislativa provavelmente não autoriza o ato. Uma venda para o Banco do Brasil não configura privatização e seria bem aceita pela esquerda. Reinaldão, portanto, mais uma vez "perdoa" a estratégia nada neoliberal de Serra neste episódio, cujo desenlace, segundo muitos analistas, vem sendo negociado pessoalmente pelo governador com o presidente Lula e a ministra Dilma Rousseff.

A blogueira Janaína Leite, outra expoente do pensamento direitoso, prefere manter a sua fidelidade ao liberalismo e proclama: "Sou contra. Não tem cabimento um negócio onde as duas pontas são estatais e sequer houve tomada de preços no mercado. Isso aí vai acabar (vai?) em safadeza. (...) Governo não tem de emprestar dinheiro, nem se meter em ganhos financeiros. Tem de cuidar da Educação e da Saúde, garantindo que as pessoas tenham formação física e intelectual para disputar vagas em qualquer mercado de trabalho. Simples assim: o BB engolir a Nossa Caixa? Sou contra."

Não deve ser coisa fácil para os conservadores imaginar que a principal alternativa para tirar o PT do governo federal no campo da direita, o governador paulista José Serra, agora deu de fechar acordos e ter longas conversas privadas com o presidente Lula e a ministra Dilma. A negociação do governo paulista em torno da Nossa Caixa faz parte deste pacote de "boa vizinhança" entre Lula e Serra, que ainda pode render muitos outros frutos. Tudo que Lula quer em 2010 é uma eleição sem oposição de verdade ao seu governo. Se a economia continuar ajudando, é bem possível que apenas nanicos sem expressão critiquem o legado de 8 anos de Lula.

Comentários

  1. Na realida a direita não quer venda, mas sim doação a exemplo do que já aconteceu com a Vale.
    Saudações
    Avelino

    ResponderExcluir
  2. Não vejo nenhum motivo para um Estado federado ter uma Nossa Caixa, um Banespa ou um Banrisul. Tem que desestatizar e com licitação com a participação de todos os interessados.

    ResponderExcluir
  3. Oi, Luiz, tudo bom? É, acho que vou penar um pouco para me acostumar ao "pensamento direitoso". Ao "expoente", confesso, é mais fácil... :-))

    De qualquer forma, obrigada pela menção respeitosa e pelo link. E volte sempre. A casa está de portas abertas, inclusive para quem pensa diferente.

    Abraço.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

O Entrelinhas não censura comentaristas, mas não publica ofensas pessoais e comentários com uso de expressões chulas. Os comentários serão moderados, mas são sempre muito bem vindos.

Postagens mais visitadas deste blog

Rogério Andrade, o rei do bicho

No dia 23 de novembro do ano passado, o pai de Rodrigo Silva das Neves, cabo da Polícia Militar do Rio de Janeiro, foi ao batalhão da PM de Bangu, na Zona Oeste carioca, fazer um pedido. O homem, um subtenente bombeiro reformado, queria que os policiais do quartel parassem de bater na porta de sua casa à procura do filho — cuja prisão fora decretada na semana anterior, sob a acusação de ser um dos responsáveis pelo assassinato cinematográfico do bicheiro Fernando Iggnácio, executado com tiros de fuzil à luz do dia num heliporto da Barra da Tijuca. Quando soube que estava sendo procurado, o PM fugiu, virou desertor. Como morava numa das maiores favelas da região, a Vila Aliança, o pai de Neves estava preocupado com “ameaças e cobranças” de traficantes que dominam o local por causa da presença frequente de policiais. Antes de sair, no entanto, o bombeiro confidenciou aos agentes do Serviço Reservado do quartel que, “de fato, seu filho trabalhava como segurança do contraventor Rogério And...

Dica da semana: Nine Perfect Strangers, série

Joia no Prime traz drama perturbador que consagra Nicole Kidman  Dizer que o tempo não passou para Nicole Kidman seria tão leviano quanto irresponsável. E isso é bom. No charme (ainda fatal) de seus 54 anos, a australiana mostra que tem muita lenha para queimar e escancara o quanto as décadas de experiência lhe fizeram bem, principalmente para composição de personagens mais complexas e maduras. Nada de gatinhas vulneráveis. Ancorando a nova série Nine Perfect Strangers, disponível na Amazon Prime Video, a eterna suicide blonde de Hollywood – ok, vamos dividir o posto com Sharon Stone – empresta toda sua aura de diva para dar vida à mística Masha, uma espécie de guru dos novos tempos que desenvolveu uma técnica terapêutica polêmica, pouco acessível e para lá de exclusiva. Em um lúdico e misterioso retiro, a “Tranquillum House”, a exotérica propõe uma nova abordagem de tratamento para condições mentais e psicossociais manifestadas de diferentes formas em cada um dos nove estranhos, “...

No pior clube

O livro O Crepúsculo da Democracia, da escritora e jornalista norte-americana Anne Applebaum, começa numa festa de Réveillon. O local: Chobielin, na zona rural da Polônia. A data: a virada de 1999 para o ano 2000. O prato principal: ensopado de carne com beterrabas assadas, preparado por Applebaum e sua sogra. A escritora, que já recebeu o maior prêmio do jornalismo nos Estados Unidos, o Pulitzer, é casada com um político polonês, Radosław Sikorski – na época, ele ocupava o cargo de ministro do Interior em seu país. Os convidados: escritores, jornalistas, diplomatas e políticos. Segundo Applebaum, eles se definiam, em sua maioria, como “liberais” – “pró-Europa, pró-estado de direito, pró-mercado” – oscilando entre a centro-direita e a centro-esquerda. Como costuma ocorrer nas festas de Réveillon, todos estavam meio altos e muito otimistas em relação ao futuro. Todos, é claro, eram defensores da democracia – o regime que, no limiar do século XXI, parecia ser o destino inevitável de toda...