Está muito interessante o artigo do mestre Alberto Dines, publicado hoje no Observatório da Imprensa. Na íntegra, para os leitores do blog:
A expressão foi criada neste Observatório no final dos anos 90. Sinônimo de imprensa marrom, designa um procedimento escuso disfarçado em jornalismo de alto nível.
O jornalismo fiteiro consiste na transcrição pura e simples de grampos (legais ou ilegais), fitas (em áudio ou vídeo) e dossiês, entregues por "fontes secretas" a um jornalista (ou intermediário) desde que haja o compromisso da imediata divulgação sem recorrer a qualquer suporte investigativo.
O dossiê mais escandaloso foi obra dos aloprados (assim classificados pelo presidente Lula), que falsificaram denúncias dos sanguessugas Vedoin contra lideranças do PSDB na véspera das eleições presidenciais de 2006. A intenção dos falsários era publicar o dossiê no semanário IstoÉ, cuja boa vontade já estava a$$egurada.
Independente do conteúdo do dossiê – o item menos importante da transação –, o que conta é a disponibilidade de um veículo de informação em publicar os dados sem questioná-los ou apurá-los.
O ilícito existe a partir da certeza (ou presunção) de que em Brasília sempre haverá jornalistas dispostos a publicar matérias marrons, quaisquer que sejam a sua procedência e objetivo. Se porventura as empresas jornalísticas usassem o seu inabalável esprit de corps para barrar tais procedimentos, tanto o jornalismo fiteiro como suas variantes não teriam prosperado.
Garantido o divulgador, pouco importa onde, como, quem o produziu, a quem interessa o vazamento e quem o vazou.
Nova fase, práticas antigas
O Dossiê dos Cartões (o nome definitivo ainda não foi determinado, vai depender da identificação dos culpados) é um caso clássico e marca o início de uma fase mais sofisticada: o veículo (no caso, Veja) o recebeu para que denunciasse os seus autores. Esta era a isca. E os autores contavam com a divulgação da papelada (ou base de dados) para comprovar que nos governos anteriores também ocorriam abusos com os cartões corporativos. Toma lá, dá cá – todos saíam ganhando.
A verdade é que a novela do Dossiê Visa (ou Mastercard, dá no mesmo) foi toscamente armada e por isso está praticamente destrinchada: já se sabe onde a peça foi montada (numa dependência da Casa Civil, próxima à secretária-executiva Erenice Guerra), quem a vazou (José Aparecido Nunes Pires, secretário de Controle Interno da mesma repartição) e quem a conduziu até as proximidades do veículo vazador (André Eduardo da Silva Fernandes, assessor do senador tucano Álvaro Dias).
Veja publicou a armação palaciana porque nossa mídia aceita qualquer lixo jornalístico, de qualquer origem – com raras exceções e estas exceções não se situam no segmento dos semanários de informação.
No dia em que autoridades e políticos forem informados de que suas fitas e dossiês já não têm livre trânsito nas redações brasilienses, o jornalismo fiteiro ou dossiêiro estará automaticamente extinto.
***
Aqueles que sabem o que é Estado Novo, proclamado em 10 de Novembro de 1937, e ainda se recordam do famigerado Plano Cohen são privilegiados: sabem que se trata do primeiro dossiê fajuto, chapa-branca, preparado para ser amplamente divulgado e, em seguida, acionar uma violenta reação militar. A ditadura do Estado Novo começou assim.
A expressão foi criada neste Observatório no final dos anos 90. Sinônimo de imprensa marrom, designa um procedimento escuso disfarçado em jornalismo de alto nível.
O jornalismo fiteiro consiste na transcrição pura e simples de grampos (legais ou ilegais), fitas (em áudio ou vídeo) e dossiês, entregues por "fontes secretas" a um jornalista (ou intermediário) desde que haja o compromisso da imediata divulgação sem recorrer a qualquer suporte investigativo.
O dossiê mais escandaloso foi obra dos aloprados (assim classificados pelo presidente Lula), que falsificaram denúncias dos sanguessugas Vedoin contra lideranças do PSDB na véspera das eleições presidenciais de 2006. A intenção dos falsários era publicar o dossiê no semanário IstoÉ, cuja boa vontade já estava a$$egurada.
Independente do conteúdo do dossiê – o item menos importante da transação –, o que conta é a disponibilidade de um veículo de informação em publicar os dados sem questioná-los ou apurá-los.
O ilícito existe a partir da certeza (ou presunção) de que em Brasília sempre haverá jornalistas dispostos a publicar matérias marrons, quaisquer que sejam a sua procedência e objetivo. Se porventura as empresas jornalísticas usassem o seu inabalável esprit de corps para barrar tais procedimentos, tanto o jornalismo fiteiro como suas variantes não teriam prosperado.
Garantido o divulgador, pouco importa onde, como, quem o produziu, a quem interessa o vazamento e quem o vazou.
Nova fase, práticas antigas
O Dossiê dos Cartões (o nome definitivo ainda não foi determinado, vai depender da identificação dos culpados) é um caso clássico e marca o início de uma fase mais sofisticada: o veículo (no caso, Veja) o recebeu para que denunciasse os seus autores. Esta era a isca. E os autores contavam com a divulgação da papelada (ou base de dados) para comprovar que nos governos anteriores também ocorriam abusos com os cartões corporativos. Toma lá, dá cá – todos saíam ganhando.
A verdade é que a novela do Dossiê Visa (ou Mastercard, dá no mesmo) foi toscamente armada e por isso está praticamente destrinchada: já se sabe onde a peça foi montada (numa dependência da Casa Civil, próxima à secretária-executiva Erenice Guerra), quem a vazou (José Aparecido Nunes Pires, secretário de Controle Interno da mesma repartição) e quem a conduziu até as proximidades do veículo vazador (André Eduardo da Silva Fernandes, assessor do senador tucano Álvaro Dias).
Veja publicou a armação palaciana porque nossa mídia aceita qualquer lixo jornalístico, de qualquer origem – com raras exceções e estas exceções não se situam no segmento dos semanários de informação.
No dia em que autoridades e políticos forem informados de que suas fitas e dossiês já não têm livre trânsito nas redações brasilienses, o jornalismo fiteiro ou dossiêiro estará automaticamente extinto.
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Aqueles que sabem o que é Estado Novo, proclamado em 10 de Novembro de 1937, e ainda se recordam do famigerado Plano Cohen são privilegiados: sabem que se trata do primeiro dossiê fajuto, chapa-branca, preparado para ser amplamente divulgado e, em seguida, acionar uma violenta reação militar. A ditadura do Estado Novo começou assim.
Interessante???? O Deus dines já decidiu quem é o mal, sem mesmo o fim da investigação!!!! È o PIG às avessas (como observador)do caso Isabela. Texto lamentável e comprometido.
ResponderExcluirConcordo com tudo o que foi escrito, especialmente com o trecho "... nossa mídia aceita qualquer lixo jornalístico, de qualquer origem – com raras exceções e estas exceções não se situam no segmento dos semanários de informação...". Nós, brasileiros, somos vítimas da atividade mais poderosa do país, a da imprensa. Felizmente, existem meios de informação sérios, como este blog, que não se dispõem a fazer o trabalho sujo de propaganda de um ou de outro lado do poder (ex. máximo: Veja). Lamento apenas que a grande imprensa (grande apenas no sentido de ser mais lida e/ou assistida) procure sempre o lado da informação manipulada e dirigida. Dessa forma, a maior parte da sociedade continua acreditando no que convém aos poderosos.
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