Este blog estava deixando passar a excelente nota do ombudsman da Folha de S. Paulo, Mário Magalhães, sobre o tratamento dispensado pelo jornal ao secretário da Fazenda do governo Serra, Mauro Ricardo Machado Costa na semana passada. A nota saiu dia 13 e se refere a uma entrevista publicada no dia anterior. Conforme atesta o ombudsman, a Folha de S. Serra dispensou ao secretário o tratamento de apóstolo. Faz sentido.
Serra, o investidor
Seguem anotações sobre a reportagem da capa de ontem de Dinheiro, "Serra prevê investir R$ 41,5 bi até 2010", e seu complemento, "Governo Lula poderia ajudar mais, diz SP" (pág. B6 de ontem):
1) O jornal não informa qual seria a origem do montante. Regra elementar na cobertura da administração pública e de campanhas eleitorais é indagar "de onde vem o dinheiro". O secretário da Fazenda se pronuncia apenas sobre a fonte de parcela do investimento prometido.
2) A gestão anterior em São Paulo foi "Alckmin-Lembo", relata a Folha. Por que o jornal não informou a que partidos eles pertencem?
3) Por que o jornal não informou que José Serra é pré-candidato à Presidência? Não se trata de formalismo, mas de fato essencial à compreensão do contexto em que os vultosos e bem-vindos investimentos são alardeados.
4) Por que não informou sobre a liderança de Serra em pesquisa Datafolha publicada no domingo? É dever do jornal contar que o gestor que divulga boa notícia pode se valer dela, o que é legítimo, para ir mais longe na carreira.
5) O governo Alckmin aparece mal. Por que o jornal não informou que Alckmin, com seu "choque de gestão", foi apoiado por Serra à Presidência da República um ano atrás?
6) Por que Alckmin não foi procurado para responder?
7) A fotografia do secretário Mauro Ricardo Machado Costa olhando para cima não poderia ser mais simpática ao entrevistado. Dá a entender que ele pertence a um governo que "mira para o alto". É uma opinião tão legítima como qualquer outra, mas não cabe se associar a ela em espaço noticioso.
8) A frase destacada para o "olho" talvez fosse a mesma opção da assessoria de imprensa do governo: "Este ano foi de ajuste. Quando chegamos aqui, não imaginávamos que deveríamos alavancar tantos recursos para investimentos".
9) Na introdução às declarações, há referência a "temas discutidos" com o secretário. Não parece ter havido discussão, apenas audição. O jornal se limitou a imprimir sem espírito crítico o que o secretário falou.
10) A crítica de Costa ao governo federal, na pág. B6, exigia "outro lado", a considerar a tradição do jornal e as recomendações do Manual da Redação.
11) O jornal não publicou um senão ou porém às afirmações do secretário.
12) Para refletir: Costa dá a entender que o governo Alckmin era no mínimo incompetente; não foi essa a impressão deixada pela cobertura que a Folha fez da antiga administração. Se o jornal não estava errado, por que não contestou o colaborador de Serra?
13) Não cabe a jornalistas bater boca com entrevistados. Mas também não é seu papel reproduzir a parolagem oficial sem questioná-la.
14) Eis o verbete "jornalismo crítico" do Manual: "Princípio editorial da Folha. O jornal não existe para adoçar a realidade, mas para mostrá-la de um ponto de vista crítico".
Serra, o investidor
Seguem anotações sobre a reportagem da capa de ontem de Dinheiro, "Serra prevê investir R$ 41,5 bi até 2010", e seu complemento, "Governo Lula poderia ajudar mais, diz SP" (pág. B6 de ontem):
1) O jornal não informa qual seria a origem do montante. Regra elementar na cobertura da administração pública e de campanhas eleitorais é indagar "de onde vem o dinheiro". O secretário da Fazenda se pronuncia apenas sobre a fonte de parcela do investimento prometido.
2) A gestão anterior em São Paulo foi "Alckmin-Lembo", relata a Folha. Por que o jornal não informou a que partidos eles pertencem?
3) Por que o jornal não informou que José Serra é pré-candidato à Presidência? Não se trata de formalismo, mas de fato essencial à compreensão do contexto em que os vultosos e bem-vindos investimentos são alardeados.
4) Por que não informou sobre a liderança de Serra em pesquisa Datafolha publicada no domingo? É dever do jornal contar que o gestor que divulga boa notícia pode se valer dela, o que é legítimo, para ir mais longe na carreira.
5) O governo Alckmin aparece mal. Por que o jornal não informou que Alckmin, com seu "choque de gestão", foi apoiado por Serra à Presidência da República um ano atrás?
6) Por que Alckmin não foi procurado para responder?
7) A fotografia do secretário Mauro Ricardo Machado Costa olhando para cima não poderia ser mais simpática ao entrevistado. Dá a entender que ele pertence a um governo que "mira para o alto". É uma opinião tão legítima como qualquer outra, mas não cabe se associar a ela em espaço noticioso.
8) A frase destacada para o "olho" talvez fosse a mesma opção da assessoria de imprensa do governo: "Este ano foi de ajuste. Quando chegamos aqui, não imaginávamos que deveríamos alavancar tantos recursos para investimentos".
9) Na introdução às declarações, há referência a "temas discutidos" com o secretário. Não parece ter havido discussão, apenas audição. O jornal se limitou a imprimir sem espírito crítico o que o secretário falou.
10) A crítica de Costa ao governo federal, na pág. B6, exigia "outro lado", a considerar a tradição do jornal e as recomendações do Manual da Redação.
11) O jornal não publicou um senão ou porém às afirmações do secretário.
12) Para refletir: Costa dá a entender que o governo Alckmin era no mínimo incompetente; não foi essa a impressão deixada pela cobertura que a Folha fez da antiga administração. Se o jornal não estava errado, por que não contestou o colaborador de Serra?
13) Não cabe a jornalistas bater boca com entrevistados. Mas também não é seu papel reproduzir a parolagem oficial sem questioná-la.
14) Eis o verbete "jornalismo crítico" do Manual: "Princípio editorial da Folha. O jornal não existe para adoçar a realidade, mas para mostrá-la de um ponto de vista crítico".
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