Pular para o conteúdo principal

Feliz 2008 e obrigado pela audiência

As estatísticas de acesso ao blog informam que dezembro de 2007 está fechando com o dobro da audiência do último mês do ano passado. O autor destas Entrelinhas agradece pela companhia e deseja aos leitores um excelente 2008. Será um ano interessante, com eleições nos EUA e no Brasil e uma grande incógnita a respeito do que vai ocorrer na economia mundial. Para os leitores do blog, segue abaixo o artigo semanal para o Correio da Cidadania, um rápido balanço, bastante incompleto, do que de importante ocorreu em 2007. Tenham todos uma ótima virada de ano, com muita alegria, saúde e paz.

2007: economia sustenta o governo Lula

O ano de 2007 foi extremamente positivo para o Brasil, se o olhar do analista se dirigir à economia nacional. O resultado final do crescimento do Produto Interno Bruto do país ainda não saiu, mas as estimativas mais pessimistas já são de algo em torno de 5% em relação a 2006, podendo ser até maior. A taxa de juros básica (Selic) ainda é muito alta, mas é a menor em 30 anos, em termos reais, e a mais baixa da história, em termos nominais. O desemprego nacional atingiu em novembro a menor taxa desde que o índice começou a ser medido pelo IBGE e deve fechar o ano na casa dos 7% da população economicamente ativa. As vendas de Natal refletiram tudo isto e o comércio varejista projeta um crescimento recorde, de cerca de 10% em relação ao ano anterior, o que faz deste o melhor Natal dos últimos 10 anos.

Como esta coluna tem reiterado, é a economia que sustenta a altíssima popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que também fechou o ano com aprovação recorde, em um patamar superior aos 60%, fazendo com que ele mantenha o capital político que conquistou na reeleição, em 2006, quando bateu Geraldo Alckmin (PSDB) nas urnas por exatos 60,83% dos votos válidos contra 39,17% do tucano.

Falando em taxas, a coisa parece um pouco abstrata. Ademais, o Brasil já cresceu bem mais em outros períodos sem que isto se revertesse em benefícios para a população mais pobre e carente. Não é o que parece estar acontecendo agora. Em números reais, o fato é que, desde a posse de Lula em 2003, 20 milhões de brasileiros migraram das classes D e E da população para a C. É muita gente. Continuam pobres, mas já não são miseráveis. O aumento do crédito tem deixado muitos brasileiros cheios de dívidas, mas tem permitido aos mais pobres acesso a bens de consumo que eles teriam de outra forma, permitindo assim um salto no nível de vida dessas pessoas. Nunca se vendeu tanto eletrodoméstico, computador e até mesmo automóvel no país como em 2007, e este movimento se deveu em boa parte à política de estímulo ao crédito do governo federal.

Há dois tipos de crítica que se pode fazer à política econômica de Lula. Os tucanos, de um lado, dizem que o país está perdendo uma “janela de oportunidades” porque o Brasil poderia crescer muito mais se aplicasse a ferro e fogo o receituário neoliberal e a “boa gerência” - que para o PSDB se traduz em privatizações, corte de gastos sociais, diminuição do tamanho do Estado e uma gerência mais rígida das contas públicas. Os tucanos também adoram dizer que o governo Lula vai bem não por seus próprios méritos, mas porque a economia mundial vive um momento excepcional. Este argumento, porém, ficou bastante esquisito após a crise financeira que abalou o centro do capitalismo mundial em agosto, a partir das hipotecas de alto risco, as tais subprimes. Ao contrário do que previam as cassandras de plantão, o Brasil desta vez não foi nem de perto afetado pelo mau humor dos mercados financeiros internacionais, pelo contrário. O cenário da crise das hipotecas ainda não está totalmente claro e é possível, como veremos no próximo artigo, que os problemas se agravem no próximo ano, mas o fato é que até agora Lula e sua turma mostram bom senso frente à primeira crise internacional que enfrentaram, para grande desgosto dos seus adversários democratas e tucanos.

Por outro lado, a crítica da esquerda radical ao governo federal parte do pressuposto diametralmente oposto ao dos tucanos e democratas. Para o pessoal do PSOL, PSTU e mesmo uma parcela do PT, Lula peca por manter o modelo herdado de Fernando Henrique, o que é parcialmente verdadeiro, mas não totalmente. O grande problema desses críticos é que não apresentam alternativas ao que vem fazendo o atual governo. Até pouco tempo, por exemplo, a grande bandeira da ultra-esquerda era o “rompimento” com o FMI e a auditoria na dívida externa. Ora, o governo Lula pagou o que devia ao Fundo (e também ao Clube de Paris) e “rompeu”, sem nenhum problema, os laços com o FMI. Quanto à dívida externa, vale lembrar que hoje ela é praticamente toda do setor privado e não mais do governo. Problema mesmo é a dívida interna, sobre a qual não se ouve palavra dos críticos à esquerda.

Na política, 2007 não apresentou grandes novidades. O governo ampliou sua base no Congresso, mas se trata de uma maioria instável, como ficou provado na única votação que de fato importava, a da prorrogação da CPMF. É bem verdade que o governo não se esforçou muito, porque a perda do imposto do cheque deve ser facilmente compensada pelo aumento de outros impostos e cortes pontuais no Orçamento dos próximos anos. Aparentemente, a aposta de Lula é o PAC, ou melhor, os vários PACs, que significam obras públicas a rodo, com foco na infra-estrutura, a fim de permitir o crescimento econômico do país. Se o cenário internacional não mudar, o presidente deve continuar com popularidade alta e alguma chance de fazer o seu sucessor. A solução continuísta do terceiro mandato parece no momento estar afastada, especialmente depois do plebiscito venezuelano, mas poderá até voltar à tona se nenhum nome do PT se firmar com chances de vencer em 2010.

No campo da oposição, a única novidade de destaque em 2007 foi a atuação firme do DEM, que capitaneou o movimento contra a CPMF em meio aos titubeios do aliado PSDB. Ao lado do PSOL, à esquerda, o DEM vai se firmando como partido de oposição, após perder muitos parlamentares para a base aliada. O problema do partido é a falta de uma liderança popular para disputar com viabilidade uma eleição presidencial. No PSOL, que ainda vive uma etapa de crescimento, a questão é a demasiada dependência do partido da liderança de Heloísa Helena, que tem se posicionado de forma bastante autoritária no âmbito do próprio partido.

Na próxima semana, vamos analisar aqui as perspectivas para 2008, ano de eleições aqui e nos Estados Unidos.

Comentários

  1. Que coisa, achei que eu fosse o unico doido. Sempre que eu comentava com amigos as coisas apontadas neste capitulo era ridicuralizado. Ha um modismo instaurado de meter o pau no governo, as pessoas fazem isso de peito cheio, como se fosse burrice assumir que o governo tem feito coisas boas e que este pais esta melhorando. Uma coisa que achei muito interessante neste site e baixa popularidade dele (desculpe, mas em outros sites, que so falam bobagens, esta cheio de sabichoes). Os imbecis fecham suas mentes quando leem alguma coisa que fale bem do governo, puro preconceito. Mas para mim este site esta de parabens e o continuarei lendo e indicando. A proposito nao sei como Lula conseguiu 60.83% dos votos, eu so conheco umas 5 pessoas que votaram nele, fora eu e claro.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

O Entrelinhas não censura comentaristas, mas não publica ofensas pessoais e comentários com uso de expressões chulas. Os comentários serão moderados, mas são sempre muito bem vindos.

Postagens mais visitadas deste blog

Abaixo o cancelamento

A internet virou o novo tribunal da inquisição — e isso é péssimo Só se fala na rapper Karol Conká, que saiu do BBB, da Rede Globo, com a maior votação da história do programa. Rejeição de 99,17% não é pouca coisa. A questão de seu comportamento ter sido odioso aos olhos do público não é o principal para mim. Sou o primeiro a reconhecer que errei muitas vezes. Tive atitudes pavorosas com amigos e relacionamentos, das quais me arrependo até hoje. Se alguma das vezes em que derrapei como ser humano tivesse ido parar na internet, o que aconteceria? Talvez tivesse de aprender russo ou mandarim para recomeçar a carreira em paragens distantes. Todos nós já fizemos algo de que não nos orgulhamos, falamos bobagem, brincadeiras de mau gosto etc… Recentemente, o ator Armie Hammer, de Me Chame pelo Seu Nome, sofreu acusações de abuso contra mulheres. Finalmente, através do print de uma conversa, acabou sendo responsabilizado também por canibalismo. Pavoroso. Tudo isso foi parar na internet. Ergue

Rogério Andrade, o rei do bicho

No dia 23 de novembro do ano passado, o pai de Rodrigo Silva das Neves, cabo da Polícia Militar do Rio de Janeiro, foi ao batalhão da PM de Bangu, na Zona Oeste carioca, fazer um pedido. O homem, um subtenente bombeiro reformado, queria que os policiais do quartel parassem de bater na porta de sua casa à procura do filho — cuja prisão fora decretada na semana anterior, sob a acusação de ser um dos responsáveis pelo assassinato cinematográfico do bicheiro Fernando Iggnácio, executado com tiros de fuzil à luz do dia num heliporto da Barra da Tijuca. Quando soube que estava sendo procurado, o PM fugiu, virou desertor. Como morava numa das maiores favelas da região, a Vila Aliança, o pai de Neves estava preocupado com “ameaças e cobranças” de traficantes que dominam o local por causa da presença frequente de policiais. Antes de sair, no entanto, o bombeiro confidenciou aos agentes do Serviço Reservado do quartel que, “de fato, seu filho trabalhava como segurança do contraventor Rogério And

OCDE e o erro do governo na gestão das expectativas

O assunto do dia nas redes é a tal negativa dos Estados Unidos para a entrada do Brasil na OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Enquanto os oposicionistas aproveitam para tripudiar, os governistas tentam colocar panos quentes na questão, alegando que não houve propriamente um veto à presença do Brasil no clube dos grandes, a Série A das nações. Quem trabalha com comunicação corporativa frequentemente escuta a frase "é preciso gerenciar a expectativa dos clientes". O problema todo é que o governo do presidente Bolsonaro vendeu como grande vitória a entrada com apoio de Trump - que não era líquida e certa - do país na OCDE. Ou seja, gerenciou mal a expectativa do cliente, no caso, a opinião pública brasileira. Não deixa de ser irônico que a Argentina esteja entrando na frente, logo o país vizinho cujo próximo governo provavelmente não será dos mais alinhados a Trump. A questão toda é que o Brasil não "perdeu", como o pobre Fla-Flu que impe