Pular para o conteúdo principal

Ciro, Serra e a falta do "candidato natural"

O que vai abaixo é o artigo do autor destas Entrelinhas para o Shopping News, encarte do DCI que circula às sextas-feiras. Em primeira mão para os leitores do blog.


A Folha de São Paulo publicou no último domingo reportagem baseada em pesquisa do instituto do jornal sobre a sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Foram vários os cenários pesquisados e na soma geral, dois nomes apareceram bem cotados — o do governador José Serra (PSDB) e o do deputado federal Ciro Gomes (PSB).

Antes de analisar o resultado das sondagens, cabe lembrar que até o ombudsman do jornal estranhou o fato do Datafolha não ter incluído na pesquisa os candidatos que disputaram o segundo turno em 2006 – Geraldo Alckmin (PSDB) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT). No caso de Alckmin, a alegação de que ele não se apresenta como candidato é um tanto estapafúrdia, uma vez que as ministras Marta Suplicy e Dilma Rousseff, especialmente a primeira, também não se apresentam como candidatas. Já a ausência de Lula chamou ainda mais atenção, uma vez que o instituto perguntou especificamente o que os entrevistados pensavam sobre a hipótese do fim do limite às reeleições, abrindo caminho para o terceiro mandato do atual presidente da República.

Estranhezas à parte, o resultado apresentado pelo Datafolha está dentro do que se poderia esperar e é até óbvio. Serra e Ciro já disputaram a presidência – Ciro em duas ocasiões – e têm grande recall na população. O mesmo vale para Heloísa Helena, que aparece bem colocada, na faixa de pouco mais de 10%. Se Alckmin ou Anthony Garotinho (PMDB) tivessem sido incluídos, certamente teriam performances semelhantes às de Serra e Ciro.

Ainda é muito cedo para especular sobre a sucessão de Lula, mas é fato que o PT hoje não tem um candidato natural para o pleito de 2010 se Lula realmente ficar fora da disputa. O governo não tem um “candidato natural” como talvez fossem os ex-ministros Zé Dirceu e Antonio Palocci, se ambos não tivessem sido alvejados pelos escândalos do mensalão e do caseiro Francenildo. Lula tem três anos pela frente para construir este candidato. Precisa começar a trabalhar já.

Comentários

  1. Ninguém é páreo para Lula

    VEja

    Espera-se que a esdrúxula discussão sobre o terceiro mandato de Lula tenha sido sepultada junto com a derrota de Hugo Chávez. Ainda assim, nunca se havia feito uma pesquisa de opinião para 2010 em que seu nome aparecesse. Bem, se fosse candidato, Lula sairia na frente disparado. É o que revela uma pesquisa nacional realizada por VEJA em parceria com o CNT-Sensus entre os dias 12 e 21 de novembro. Sem apresentação de lista de candidatos, e portanto com citação espontânea, Lula obteve 27% dos votos. José Serra veio em seguida, com 6%. Aécio Neves apareceu com 3,3% e Geraldo Alckmin com 2,8%. Da base governista, só surgiu Ciro Gomes, com 2%.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

O Entrelinhas não censura comentaristas, mas não publica ofensas pessoais e comentários com uso de expressões chulas. Os comentários serão moderados, mas são sempre muito bem vindos.

Postagens mais visitadas deste blog

No pior clube

O livro O Crepúsculo da Democracia, da escritora e jornalista norte-americana Anne Applebaum, começa numa festa de Réveillon. O local: Chobielin, na zona rural da Polônia. A data: a virada de 1999 para o ano 2000. O prato principal: ensopado de carne com beterrabas assadas, preparado por Applebaum e sua sogra. A escritora, que já recebeu o maior prêmio do jornalismo nos Estados Unidos, o Pulitzer, é casada com um político polonês, Radosław Sikorski – na época, ele ocupava o cargo de ministro do Interior em seu país. Os convidados: escritores, jornalistas, diplomatas e políticos. Segundo Applebaum, eles se definiam, em sua maioria, como “liberais” – “pró-Europa, pró-estado de direito, pró-mercado” – oscilando entre a centro-direita e a centro-esquerda. Como costuma ocorrer nas festas de Réveillon, todos estavam meio altos e muito otimistas em relação ao futuro. Todos, é claro, eram defensores da democracia – o regime que, no limiar do século XXI, parecia ser o destino inevitável de toda

Abaixo o cancelamento

A internet virou o novo tribunal da inquisição — e isso é péssimo Só se fala na rapper Karol Conká, que saiu do BBB, da Rede Globo, com a maior votação da história do programa. Rejeição de 99,17% não é pouca coisa. A questão de seu comportamento ter sido odioso aos olhos do público não é o principal para mim. Sou o primeiro a reconhecer que errei muitas vezes. Tive atitudes pavorosas com amigos e relacionamentos, das quais me arrependo até hoje. Se alguma das vezes em que derrapei como ser humano tivesse ido parar na internet, o que aconteceria? Talvez tivesse de aprender russo ou mandarim para recomeçar a carreira em paragens distantes. Todos nós já fizemos algo de que não nos orgulhamos, falamos bobagem, brincadeiras de mau gosto etc… Recentemente, o ator Armie Hammer, de Me Chame pelo Seu Nome, sofreu acusações de abuso contra mulheres. Finalmente, através do print de uma conversa, acabou sendo responsabilizado também por canibalismo. Pavoroso. Tudo isso foi parar na internet. Ergue

OCDE e o erro do governo na gestão das expectativas

O assunto do dia nas redes é a tal negativa dos Estados Unidos para a entrada do Brasil na OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Enquanto os oposicionistas aproveitam para tripudiar, os governistas tentam colocar panos quentes na questão, alegando que não houve propriamente um veto à presença do Brasil no clube dos grandes, a Série A das nações. Quem trabalha com comunicação corporativa frequentemente escuta a frase "é preciso gerenciar a expectativa dos clientes". O problema todo é que o governo do presidente Bolsonaro vendeu como grande vitória a entrada com apoio de Trump - que não era líquida e certa - do país na OCDE. Ou seja, gerenciou mal a expectativa do cliente, no caso, a opinião pública brasileira. Não deixa de ser irônico que a Argentina esteja entrando na frente, logo o país vizinho cujo próximo governo provavelmente não será dos mais alinhados a Trump. A questão toda é que o Brasil não "perdeu", como o pobre Fla-Flu que impe