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A reportagem mais polêmica da semana saiu na revista Piauí, comprovando as acusações da atriz Dani Calabresa sobre o comportamento de um ex-diretor da TV Globo que nem mereceria ter o nome citado aqui, ou melhor, merece, sim, para que todos saibam quem é Marcius Melhem. Assédio sexual, assédio moral e poder são os ingredientes da trama, digna de novela das oito. O caso poderia passar batido se não tivesse ocorrido justamente na Globo, porque tudo que ocorre por lá bomba.
No fundo, o caso Melhem revela mais uma vez que a sociedade brasileira segue machista e arcaica. Homens acham que são intocáveis, que podem assediar as mulheres sem grandes consequências, porque é da nossa cultura, é “normal”, admissível. Só que não é mais. Provavelmente, Marcius Melhem não irá preso, vai pagar algum dinheiro para ressarcir suas vítimas do mal que causou, terá dificuldades para arrumar um novo emprego, salvo em empresas machistas como ele, ainda são muitas. Salário igual o que recebia na Globo, difícil. Merecido, mas não é suficiente. Ideal seria se realmente pagasse com sua liberdade, ou seja, se fosse preso, pelos crimes que cometeu – e, é bom enfatizar, crimes que ele eventualmente cometeu, é preciso dar aqui, ainda, o justo espaço para a ampla defesa, já que até o momento ele não foi condenado e anunciou que processará Calabresa por injúria e difamação.
Enquanto o desfecho do caso não chega, vale mais uma vez observar o problema estrutural. Assim como o racismo, o machismo é moeda corrente no Brasil. São tantos os casos e tão poucas as denúncias que o comentário vai parecer mais do mesmo. Só vamos mudar este cenário com uma revolução na educação, em ambos os casos. É preciso ensinar para as nossas crianças o respeito à diversidade, seja de raças, gênero, opções sexuais, tudo. Diversidade e alteridade são as palavras-chave, é preciso, muito, saber ouvir o outro.
Claro que o caso Melhem pegou porque expôs o maior grupo de comunicação do Brasil, choca pelo que foi tolerado ali, algo inadmissível no século 21. Mas a verdade é que no passado foi ainda pior, não era apenas assédio, era uma rotina de “testes do sofá”, trocas de favores, fatos que todos sabiam e ninguém falava. Não apenas no Brasil, mas também na indústria cinematográfica dos Estados Unidos, em casos já amplamente divulgados. Para mudar, só com educação, educação e educação. Para meninos e meninas, crianças ainda. Não é rápido, não é simples, mas precisamos começar. (por Luiz Antonio Magalhães em 5/12/20)
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