Pular para o conteúdo principal

Dica da Semana: A Máfia dos Tigres, série, Netflix

Da Newsletter da LAM Comunicação.

Bizarrices que explicam os EUA que elegeu Donald Trump presidente 

O autor destas mal traçadas linhas demorou para assistir a série A Máfia dos Tigres, disponível no líder de streaming desde março deste ano. Pois está é uma das melhores de 2020, reveladora de um país estranho, os Estados Unidos da América, que foi capaz de eleger Donald Trump, mas também é o berço de cineastas, músicos e artistas geniais, da melhor tecnologia, dos maiores avanços da ciência, além de ser a maior superpotência econômica do mundo. 

Sim, o autor é um admirador dos EUA, sempre que pode vai a Nova York, cidade icônica, linda e que nunca dorme. Mas o tema aqui é a série, documental, que trata de Joe Exotic, um dono de zoológico, homossexual, polígamo e que chegou a concorrer à presidência dos Estados Unidos, depois para governador de Oklahoma. Seu Zoo privado, com mais de 200 tigres e outros felinos, se tornou um marco. 

Youtuber, cantor country, Joe foi acusado de contratar alguém para matar sua maior inimiga, Carole Baskin, uma ativista dedicada a fechar o seu zoológico. Sem spoilers aqui, a série é sensacional porque acompanha esta disputa entre Joe e Carole, ela também acusada de matar o ex-marido e entregar o corpo dele aos tigres (sim, a ativista também tinha seu Zoo particular). Mas a questão vai mais longe, assistindo a série é possível entender a complexidade dos Estados Unidos, em especial dos EUA profundo, aquele que vota em massa em Trump, não obstante tudo de louco em suas posturas públicas.

Dirigida por Eric Goode e Rebecca Chaiklin, a série bombou e todos os entrevistados se tornaram celebridades. A Máfia dos Tigres é sobre a cultura que envolve a criação de animais selvagens em cativeiro e toda a loucura em torno desta atividade. 

Além de Joe, os episódios nos apresentam o mundo de Bhagavan “Doc” Antle, dono do safari de Myrtle Beach, na Carolina do Sul. Doc permitia que as pessoas pegassem no colo filhotes de tigre ou leão. Doc e Joe comandavam um culto próprio e tinham focos em seguidores diferentes: o dono do safari gostava de mulheres jovens, enquanto Joe gostava de trabalhar com pessoas tão exóticas quanto ele. Suas escolhas foram de ex-presidiários a dependentes químicos em busca de redenção. 

A Máfia dos Tigres também é um documentário sobre um sujeito que sempre quis ser uma estrela de reality show. Narcisista e extravagante, Joe que faz coisas ridículas. Joshua Dial, o libertário que trabalhava como gerente de campanha política de Joe foi preciso na definição: "Eu já sabia que ele era louco por nossas conversas no Walmart".

Um ponto positivo no documentário é a imparcialidade. Não vemos qualquer tipo de tomada de posição, ao contrário, Carole é retratada como o que ela é, uma pessoa dúbia, talvez também uma assassina cruel, capaz de entregar o ex-marido aos tigres. 

Quem assiste provavelmente se divide na simpatia por Joe e Carole, os antagonistas principais. Mas tudo somado, depois de ver a série e mais fácil entender por que os americanos elegeram Trump, por diversos fatores. Está presente a paixão dos cidadãos daquele país por armas, pela liberdade de expressão, por bizarrices como as de Joe e seus funcionários, um deles sem braço após ter um incidente com um dos felinos do zoo. Mais ainda, dá para entender o jeito selvagem de existência, em especial nos estados vermelhos, onde o voto em Trump foi massivo mesmo neste ano. Sempre é bom lembrar que o atual presidente perdeu por pouco, metade do país votou com ele, não com Biden. 

Tudo somado, vale assistir a série A Máfia dos Tigres para aprender um pouco mais sobre os EUA profundo, aquele que não se aprende em Nova York ou San Francisco, um país rural, meio tosco, distante do que é produzido pela própria Netflix em tantos filmes e séries geniais. #ficaadica! E feliz 2021 a todos e todas. (Por Luiz Antonio Magalhães em 12/12/20)



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Rogério Andrade, o rei do bicho

No dia 23 de novembro do ano passado, o pai de Rodrigo Silva das Neves, cabo da Polícia Militar do Rio de Janeiro, foi ao batalhão da PM de Bangu, na Zona Oeste carioca, fazer um pedido. O homem, um subtenente bombeiro reformado, queria que os policiais do quartel parassem de bater na porta de sua casa à procura do filho — cuja prisão fora decretada na semana anterior, sob a acusação de ser um dos responsáveis pelo assassinato cinematográfico do bicheiro Fernando Iggnácio, executado com tiros de fuzil à luz do dia num heliporto da Barra da Tijuca. Quando soube que estava sendo procurado, o PM fugiu, virou desertor. Como morava numa das maiores favelas da região, a Vila Aliança, o pai de Neves estava preocupado com “ameaças e cobranças” de traficantes que dominam o local por causa da presença frequente de policiais. Antes de sair, no entanto, o bombeiro confidenciou aos agentes do Serviço Reservado do quartel que, “de fato, seu filho trabalhava como segurança do contraventor Rogério And...

Dica da semana: Nine Perfect Strangers, série

Joia no Prime traz drama perturbador que consagra Nicole Kidman  Dizer que o tempo não passou para Nicole Kidman seria tão leviano quanto irresponsável. E isso é bom. No charme (ainda fatal) de seus 54 anos, a australiana mostra que tem muita lenha para queimar e escancara o quanto as décadas de experiência lhe fizeram bem, principalmente para composição de personagens mais complexas e maduras. Nada de gatinhas vulneráveis. Ancorando a nova série Nine Perfect Strangers, disponível na Amazon Prime Video, a eterna suicide blonde de Hollywood – ok, vamos dividir o posto com Sharon Stone – empresta toda sua aura de diva para dar vida à mística Masha, uma espécie de guru dos novos tempos que desenvolveu uma técnica terapêutica polêmica, pouco acessível e para lá de exclusiva. Em um lúdico e misterioso retiro, a “Tranquillum House”, a exotérica propõe uma nova abordagem de tratamento para condições mentais e psicossociais manifestadas de diferentes formas em cada um dos nove estranhos, “...

No pior clube

O livro O Crepúsculo da Democracia, da escritora e jornalista norte-americana Anne Applebaum, começa numa festa de Réveillon. O local: Chobielin, na zona rural da Polônia. A data: a virada de 1999 para o ano 2000. O prato principal: ensopado de carne com beterrabas assadas, preparado por Applebaum e sua sogra. A escritora, que já recebeu o maior prêmio do jornalismo nos Estados Unidos, o Pulitzer, é casada com um político polonês, Radosław Sikorski – na época, ele ocupava o cargo de ministro do Interior em seu país. Os convidados: escritores, jornalistas, diplomatas e políticos. Segundo Applebaum, eles se definiam, em sua maioria, como “liberais” – “pró-Europa, pró-estado de direito, pró-mercado” – oscilando entre a centro-direita e a centro-esquerda. Como costuma ocorrer nas festas de Réveillon, todos estavam meio altos e muito otimistas em relação ao futuro. Todos, é claro, eram defensores da democracia – o regime que, no limiar do século XXI, parecia ser o destino inevitável de toda...