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E agora, Geraldo?

Este blog ficou fora do ar neste final de semana em virtude de compromissos acumulados e excesso de trabalho. Para normalizar as coisas, um comentário rápido sobre as pesquisas divulgadas no sábado e também sobre o debate da TV Record e a reta final da campanha eleitoral.

Nitidamente, o candidato do DEM em São Paulo, prefeito Gilberto Kassab, abriu uma dianteira importante sobre o seu rival Geraldo Alckmin (PSDB), que disputa com o democrata uma vaga para enfrentar Marta Suplicy (PT) no segundo turno. Sim, as pesquisas são bem claras neste sentido, mas ainda que as pesquisas estivessem erradas, na margem de erro ou for dela, é o comportamento dos candidatos que revela a ultrapassagem. Para quem não conhece muito bem como funciona a coisa, toda campanha contrata suas próprias pesquisas e nela se baseia para dosar o discurso, tentar dizer o que o eleitor gostaria de ouvir. Bem, Alckmin desistiu do jeito "bom moço" que o consagrou na política e partiu para a jugular de Kassab no debate de domingo. Já tinha partido antes, é verdade, mas o comportamento do ex-governador foi de alguém que nitidamente estava precisando buscar algo que não tem, postura muito diferente da de Kassab, que procurava de toda maneira sair incólume, mas foi obrigado a engrossar um pouco para não passar a imagem de pateta, saco de pancadas dos adversários.

É claro que tudo pode acontecer na cabeça do eleitor no dia 5 e a diferença entre Kassab e Alckmin ainda é muito pequena, de maneira que também não seria surpresa se o tucano passasse para o segundo escrutínio, mas a verdade é que neste momento a lógica conspira a favor de Kassab, cuja curva de popularidade é ascendente desde o início da campanha.

Assim, a grande incógnita da campanha passa a ser o comportamento de Alckmin no "day after", caso ele de fato não consiga a vaga para enfrentar Marta. Gente que conhece bem o candidato diz que ele jamais sairia do PSDB, muito menos sairia atirando nos seus companheiros. Ao contrário, o ex-governador tenderia a permanecer no ninho tucano à espera de uma nova chance. É claro que, a esta altura do campeonato, ninguém mais acredita que o governador José Serra (PSDB) vá dar de mão beijada a indicação para Geraldo disputar o Palácio dos Bandeirantes em 2010, de forma que também faz sentido a versão de que Alckmin deixaria o PSDB e ingressaria em outro partido para dar sequência à sua carreira política. Neste final de semana, a revista Veja publicou nota informando que o partido poderia ser o PSB.

Na primeira hipótese, Alckmin se tornaria uma espécie de Fleury Filho do PSDB, alguém que teria até certa dificuldade para se eleger deputado federal após ter passado pelo Palácio dos Bandeirantes. No segundo caso, rompendo com os tucanos e saindo de cabeça erguida, Alckmin talvez consiga espaço para desafiar o PSDB e disputar o governo do Estado em 2010 contra o candidato de José Serra. É uma jogada arriscada, mas talvez seja o que lhe restou a fazer. Tudo isto, é claro, se nesta reta final da campanha não ocorrer um fato político capaz de causar uma reviravolta na campanha e colocar Alckmin à frente de Kassab na disputa pelo segundo turno. A ver.

Comentários

  1. Boa noite Luiz, eu vi o debate da Record , na minha opinião, foi o melhor dos três.´Porque o tempo está acabando e Alckmin tem pouco tempo para virar o jogo. Vai ter debate na Globo sexta não é? Esse tá com cara que vai ser melhor ainda. O que me chamou um pouco a atenção foi Maluf buscar confronto direto com a Soninha, parece que ele desistiu já e agora quer ser o engraçadinho da eleição. É a crônica de uma morte anunciada.

    Abraços...

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  2. achei muito estranhas essas pesquisas dessa semana, decisiva, inclusive para a propaganda e debates, todas favoráveis ao kassab.Me lembram 1998 quando a folha de sp prejudicou a Marta com base nas pesquisas eleitorais.

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  3. Curioso, os percursos da aliança DEM-Tucano depois de 2006. Uma aliança que só pode ser enxergado como fracasso, uma vez que o Alckmin não melhorou o desempenho do Serra em 2002, apesar de toda a artilharia pesada utilizada para desgastar o governo do molusco. Se eu fosse Tucano, eu imitava os petistas, formando um tipo de "campo majoritário" que defende uma programa de partido independente, sem o DEM-PFL, deixando atrás aquele discurso neo-Udenista e Vejista que hoje em dia não adianta mais. Para mim, Alckmin representa aquele discurso ("o PCC conspirava com os FARC e o PT para atacar meus PMs e minar a minha candidatura!"). O PSDB precisa se reinventar. Talvez isso explica o atitude do governador de Minas, que vem com um discurso mais constructivo e "paz e amor."

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