Pular para o conteúdo principal

Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come

Vai demorar um pouco para que seja possível fazer uma análise mais profunda sobre os efeitos da crise financeira mundial aqui no Brasil. Todos, isto mesmo, rigorosamente todos os analistas que se prestam ao papel de escrever sobre este tema estão chutando. A opinião de um economista, hoje, 30 de setembro, sobre a crise vale tanto quanto a de uma manicure. A razão é simples: o mundo das finanças está passando por uma tempestade como talvez nunca antes tenha passado. Ninguém sabe ainda onde está o fundo do poço.

Trata-se puramente de uma questão de lógica: se ninguém conhece a dimensão da crise, como prever seus efeitos no Brasil? Aliás, um bom leitor há de notar que todas as análises recém publicadas estão repletas da palavrinha "se": "Se o pacote de Bush for aprovado", "se o mercado financeiro reagir bem", "se a ajuda for suficiente"...

A verdade é que quando a tempestade chega no mar, a única coisa a fazer é recolher as velas, atracar os barcos e ficar em terra firme, esperando a tormenta passar. Só depois dá para sair, olhar o estrago, calcular as perdas. Vai demorar talvez um ou dois meses para que se possa fazer uma mínima idéia do que vem por aí.

Até lá, quem disser o que o governo deve fazer ou deixar de fazer no campo da política econômica ou está de má fé, defendendo interesses particulares, ou é irresponsável mesmo. Não há nada a fazer senão esperar um pouco para ter clareza sobre o que será preciso fazer. O Banco Central promoveu alguns ajustes pontuais, sinalizando que está pronto a injetar mais liquidez no sistema financeiro nacional. Além disto, vendeu meio bilhão de dólares das reservas cambiais para manter a taxa de câmbio abaixo do patamar de R$ 2. São medidas absolutamente pontuais, mas mostram que o governo está atento. Em um momento de crise, é bom que os agentes econômicos saibam que o governo está atento. O resto vem depois, quando o vendaval passar e for possível tentar entender para onde caminhará a economia mundial nos próximos anos.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

No pior clube

O livro O Crepúsculo da Democracia, da escritora e jornalista norte-americana Anne Applebaum, começa numa festa de Réveillon. O local: Chobielin, na zona rural da Polônia. A data: a virada de 1999 para o ano 2000. O prato principal: ensopado de carne com beterrabas assadas, preparado por Applebaum e sua sogra. A escritora, que já recebeu o maior prêmio do jornalismo nos Estados Unidos, o Pulitzer, é casada com um político polonês, Radosław Sikorski – na época, ele ocupava o cargo de ministro do Interior em seu país. Os convidados: escritores, jornalistas, diplomatas e políticos. Segundo Applebaum, eles se definiam, em sua maioria, como “liberais” – “pró-Europa, pró-estado de direito, pró-mercado” – oscilando entre a centro-direita e a centro-esquerda. Como costuma ocorrer nas festas de Réveillon, todos estavam meio altos e muito otimistas em relação ao futuro. Todos, é claro, eram defensores da democracia – o regime que, no limiar do século XXI, parecia ser o destino inevitável de toda

Abaixo o cancelamento

A internet virou o novo tribunal da inquisição — e isso é péssimo Só se fala na rapper Karol Conká, que saiu do BBB, da Rede Globo, com a maior votação da história do programa. Rejeição de 99,17% não é pouca coisa. A questão de seu comportamento ter sido odioso aos olhos do público não é o principal para mim. Sou o primeiro a reconhecer que errei muitas vezes. Tive atitudes pavorosas com amigos e relacionamentos, das quais me arrependo até hoje. Se alguma das vezes em que derrapei como ser humano tivesse ido parar na internet, o que aconteceria? Talvez tivesse de aprender russo ou mandarim para recomeçar a carreira em paragens distantes. Todos nós já fizemos algo de que não nos orgulhamos, falamos bobagem, brincadeiras de mau gosto etc… Recentemente, o ator Armie Hammer, de Me Chame pelo Seu Nome, sofreu acusações de abuso contra mulheres. Finalmente, através do print de uma conversa, acabou sendo responsabilizado também por canibalismo. Pavoroso. Tudo isso foi parar na internet. Ergue

OCDE e o erro do governo na gestão das expectativas

O assunto do dia nas redes é a tal negativa dos Estados Unidos para a entrada do Brasil na OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Enquanto os oposicionistas aproveitam para tripudiar, os governistas tentam colocar panos quentes na questão, alegando que não houve propriamente um veto à presença do Brasil no clube dos grandes, a Série A das nações. Quem trabalha com comunicação corporativa frequentemente escuta a frase "é preciso gerenciar a expectativa dos clientes". O problema todo é que o governo do presidente Bolsonaro vendeu como grande vitória a entrada com apoio de Trump - que não era líquida e certa - do país na OCDE. Ou seja, gerenciou mal a expectativa do cliente, no caso, a opinião pública brasileira. Não deixa de ser irônico que a Argentina esteja entrando na frente, logo o país vizinho cujo próximo governo provavelmente não será dos mais alinhados a Trump. A questão toda é que o Brasil não "perdeu", como o pobre Fla-Flu que impe