Este blog se atreve a discordar da professora Maria da Conceição Tavares, que viu na intervenção do governo norte-americano nas agências imobiliárias Freddie Mac e Fannie Mae o triste fim do neoliberalismo. Para a economista, que é uma das referências importantes do pensamento de esquerda no país, o que ocorreu neste fim de semana nos Estados Unidos foi a estatização das duas agências, fato que demonstraria a fraqueza dos dogmas liberais de não-intervenção na economia.
Humildemente, este blog achou mais inteligente a análise da ministra Dilma Rousseff, que não é do ramo, mas já tem uma boa vivência na administração do Estado: segundo ela, a intervenção do governo dos EUA não representa o fim do neoliberalismo porque nunca houve neoliberalismo propriamente dito nos países desenvolvidos. Na verdade, Dilma exagerou um pouco – houve, sim, uma radicalização liberal, digamos assim, durante as gestões Reagan e Tatcher, na Inglaterra –, mas ela tem razão na essência do argumento: quando a brincadeira começa a ficar perigosa, a mão forte do Estado entra em cena e os governos dos países desenvolvidos mostram que essa história de mão invisível do mercado está mais para mão boba do que qualquer outra coisa. Sim, na hora da crise, o que mais se vê por lá é keynesianismo na veia...
Conceição Tavares talvez não tenha percebido que a intenção do governo americano não é salvar a pele do pobre coitado que não consegue mais pagar a sua hipoteca (embora até este eventualmente seja beneficiado por uma queda nas taxas cobradas ou com algum perdão de dívidas). O grande beneficiado pelo Plano Bush é o atravessador que tornou a farra de vender casas a quem não pode por ela pagar em um game de alavancagem financeira "no limite da irresponsabilidade", como poderia dizer a versão ianque do Ricardo Sérgio, provavelmente um yuppie de Wall Street que não vai perder um único cent com a crise.
Assim, é claro que era preciso salvar Freddie and Fannie, mas a grande questão é que a estatização não está sendo feita para ajudar a massa de americanos que perderam ou estão em vias de perder as suas casas, mas para manter o sistema financeiro de pé, evitando perdas ainda mais espetaculares do que as já divulgadas até aqui.
Ou seja, o objetivo da intervenção se coaduna com o que a professora qualifica de neoliberalismo, logo não é possível dizer que o planeta tenha assistido ao enterro daquele sistema. O que está em curso é uma operação de guerra justamente para preservar o funcionamento de um capitalismo cada vez mais calcado nas finanças e em complexas operações que só os muito iniciados entendem. E para a roda continuar girando, será necessário que os EUA usem a maquininha de imprimir moeda e joguem o problema lá para frente.
Sim, havia alguma relutância dos liberais mais ortodoxos sobre a necessidade desta intervenção na economia americana, mas o tamanho do buraco convenceu a todos que se não for assim, o ralo vai ficar grande demais para ser "administrado" pelos mercados. É o velho ditado: vão-se os anéis, ficam os dedos...
Humildemente, este blog achou mais inteligente a análise da ministra Dilma Rousseff, que não é do ramo, mas já tem uma boa vivência na administração do Estado: segundo ela, a intervenção do governo dos EUA não representa o fim do neoliberalismo porque nunca houve neoliberalismo propriamente dito nos países desenvolvidos. Na verdade, Dilma exagerou um pouco – houve, sim, uma radicalização liberal, digamos assim, durante as gestões Reagan e Tatcher, na Inglaterra –, mas ela tem razão na essência do argumento: quando a brincadeira começa a ficar perigosa, a mão forte do Estado entra em cena e os governos dos países desenvolvidos mostram que essa história de mão invisível do mercado está mais para mão boba do que qualquer outra coisa. Sim, na hora da crise, o que mais se vê por lá é keynesianismo na veia...
Conceição Tavares talvez não tenha percebido que a intenção do governo americano não é salvar a pele do pobre coitado que não consegue mais pagar a sua hipoteca (embora até este eventualmente seja beneficiado por uma queda nas taxas cobradas ou com algum perdão de dívidas). O grande beneficiado pelo Plano Bush é o atravessador que tornou a farra de vender casas a quem não pode por ela pagar em um game de alavancagem financeira "no limite da irresponsabilidade", como poderia dizer a versão ianque do Ricardo Sérgio, provavelmente um yuppie de Wall Street que não vai perder um único cent com a crise.
Assim, é claro que era preciso salvar Freddie and Fannie, mas a grande questão é que a estatização não está sendo feita para ajudar a massa de americanos que perderam ou estão em vias de perder as suas casas, mas para manter o sistema financeiro de pé, evitando perdas ainda mais espetaculares do que as já divulgadas até aqui.
Ou seja, o objetivo da intervenção se coaduna com o que a professora qualifica de neoliberalismo, logo não é possível dizer que o planeta tenha assistido ao enterro daquele sistema. O que está em curso é uma operação de guerra justamente para preservar o funcionamento de um capitalismo cada vez mais calcado nas finanças e em complexas operações que só os muito iniciados entendem. E para a roda continuar girando, será necessário que os EUA usem a maquininha de imprimir moeda e joguem o problema lá para frente.
Sim, havia alguma relutância dos liberais mais ortodoxos sobre a necessidade desta intervenção na economia americana, mas o tamanho do buraco convenceu a todos que se não for assim, o ralo vai ficar grande demais para ser "administrado" pelos mercados. É o velho ditado: vão-se os anéis, ficam os dedos...
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