Pular para o conteúdo principal

Brazil Journal: num canto da Faria Lima, um touro ferido e seu domador

Geraldo Samor e Pedro Arbex escreveram na sexta-feira, 13/3, um perfil muito interessante de Pablo Spyer, apresentador do Minuto Econômico, programa exibido no You Tube com alto Ibope no mercado financeiro. Vale a leitura!

Em outubro passado, quando o rali da Bovespa ainda não dava sinais de que terminaria num mar de lágrimas, Pablo Spyer teve uma ideia para atrair novos clientes para a Mirae, a corretora sul-coreana onde ele é o diretor geral.
Toda manhã, chegando no escritório antes de todo mundo, Spyer começou a gravar em seu iPhone vídeos de 1 ou 2 minutos, imediatamente publicados no Whatsapp e nas redes sociais. Em pouco tempo, seu “Minuto Econômico” se tornou uma sensação na Faria Lima — arrancando sorrisos do CEO ao estagiário, da XP ao BTG — e fazendo de Spyer o rosto mais simpático de um bull market agora no epílogo.
Nos vídeos, ele comenta o mercado e, no final, acaricia uma estatueta de touro dourada que reina impávida sobre sua mesa.
“Vaaaai, tourinhoooo!!!” exorta o corretor, cunhando o grito de guerra dos comprados da safra 2016-2020 (e substituído por "Força, tourinho!!!" depois que o mercado virou).
Mas nos últimos dias, a implosão do Ibovespa para pouco mais de 70 mil pontos lançou dúvida sobre o futuro do investidor de varejo na Bolsa e produziu um Spyer mais comedido e reflexivo.
“Eu realmente estou triste pelo investidor pessoa física porque muita gente se machucou nesses dias,” Spyer disse ao Brazil Journal. “Eu acho que de imediato vai ter uma diminuição na velocidade de entrada de novos investidores na Bolsa.”
O “Minuto Econômico” é um mix de Jim Cramer com Aqui Agora, o programa de jornalismo popular que marcou época nos anos 90 e pavimentou o caminho dos Datenas de hoje.
A câmera nervosa e a notícia ao vivo vêm do Aqui Agora. Mas o estilo, o jeito de falar e gesticular, Spyer copiou de Jim Cramer, o ex-trader e apresentador do Mad Money, o programa sobre Bolsa que faz sucesso há 15 anos na TV americana.
“Eu falo sem vergonha nenhuma: assisto o Cramer todo dia, me inspiro e tento fazer o mais parecido com ele.”
Dono de um carisma transbordante e uma postura gente-como-a-gente num mercado de egos inflados, Spyer é apaixonado pelo mercado financeiro desde os 15 anos, quando fez seu primeiro curso na Bolsa estimulado pelo filme ‘Wall Street’.
Aos 17, começou na corretora Ativa; aos 19 já estava na Laeco, onde foi o broker pessoal de Paulo Guedes — por quem mantém enorme admiração e ainda chama de “doutor”.
Spyer também trabalhou na área de private do Santander, fundou uma gestora em Manaus e foi sócio da Tradewire, a corretora que Álvaro ‘Guti’ Vidigal criou em Nova York para atender brasileiros que queriam investir nos Estados Unidos. Na Mirae ele está há 11 anos, desde que a gigante sul-coreana (cujos US$ 370 bilhões em ativos globais ultrapassam BTG e XP somados) abriu a corretora no Brasil.
Spyer nasceu numa família que respira televisão. Seu pai, o ex-diretor do SBT Marcos Wilson, foi um dos idealizadores do Aqui Agora e do Telejornal Brasil com Boris Casoy, que ofereceu uma alternativa real ao Jornal Nacional nos anos 90. Wilson produziu vários pilotos do Minuto Econômico e frequentemente opina sobre a performance do filho.
Para lançar o programa, Spyer tomou um risco pessoal: sua mesa de renda fixa era contra, seus chefes sul-coreanos sequer sabiam do projeto e muitos diziam que o programa poderia envergonhar a corretora. “Agora todo mundo ama o tourinho. Os caras trazem os amigos pra tirar selfie comigo,” conta Spyer numa conversa às 7 da noite, depois de um dia cada vez mais comum de circuit breakers. “Quebrou gente grande hoje,” diz.
Spyer faz questão de dizer que usa os vídeos para comentar as notícias, e não para sugerir papeis.
“Ninguém ganha dinheiro no day trade. O tourinho gosta é de investimentos,” diz, erguendo o touro no ar com uma mão, um dos 30 de sua coleção. “Eu falo nos vídeos que não sei especular. O cara vê aquilo e fala, 'se ele não sabe, como eu vou conseguir?’.”
No ambiente tóxico das redes sociais, onde todo mundo se agride e se xinga, ele se orgulha de não ter nenhum hater. “Eu só tenho amor.”
Com o sucesso do programa, Spyer agora estuda lançar um curso sobre o mercado.
“Curso de prever o futuro e de como ganhar dinheiro tá lotado, charlatão tem de monte. Eu vou montar um curso que não tem aqui. Quero montar um show de 3h30 sobre o que interessa no mercado,” diz ele. “Esses charlatões que não sabem nada atraem mil pessoas, se eu atrair 300 o negócio já tá de pé.”
Mas a ambição para o “Minuto Econômico” vai além.
“Meu sonho é criar a CNBC brasileira, com meu pai como o diretor. Seria algo mais simples, sem grandes estúdios, investimentos… ele até já fez o business plan.”
Sim, amigos, o touro está ferido, mas o espírito animal segue inabalado.


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Um pai

Bruno Covas, prefeito de São Paulo, morreu vivendo. Morreu criando novas lembranças. Morreu não deixando o câncer levar a sua vontade de resistir.  Mesmo em estado grave, mesmo em tratamento oncológico, juntou todas as suas forças para assistir ao jogo do seu time Santos, na final da Libertadores, no Maracanã, ao lado do filho.  Foi aquela loucura por carinho a alguém, superando o desgaste da viagem e o suor frio dos remédios.  Na época, ele acabou criticado nas redes sociais por ter se exposto. Afinal, o que é o futebol perto da morte?  Nada, mas não era somente futebol, mas o amor ao seu adolescente Tomás, de 15 anos, cultivado pela torcida em comum. Não vibravam unicamente pelos jogadores, e sim pela amizade invencível entre eles, escreve Fabrício Carpinejar em texto publicado nas redes sociais. Linda homenagem, vale muito a leitura, continua a seguir.  Nos noventa minutos, Bruno Covas defendia o seu legado, a sua memória antes do adeus definitivo, para que s...

Dica da Semana: Tarso de Castro, 75k de músculos e fúria, livro

Tom Cardoso faz justiça a um grande jornalista  Se vivo estivesse, o gaúcho Tarso de Castro certamente estaria indignado com o que se passa no Brasil e no mundo. Irreverente, gênio, mulherengo, brizolista entusiasmado e sobretudo um libertário, Tarso não suportaria esses tempos de ascensão de valores conservadores. O colunista que assina esta dica decidiu ser jornalista muito cedo, aos 12 anos de idade, justamente pela admiração que nutria por Tarso, então colunista da Folha de S. Paulo. Lia diariamente tudo que ele escrevia, nem sempre entendia algumas tiradas e ironias, mas acompanhou a trajetória até sua morte precoce, em 1991, aos 49 anos, de cirrose hepática, decorrente, claro, do alcoolismo que nunca admitiu tratar. O livro de Tom Cardoso recupera este personagem fundamental na história do jornalismo brasileiro, senão pela obra completa, mas pelo fato de ter fundado, em 1969, o jornal Pasquim, que veio a se transformar no baluarte da resistência à ditadura militar no perío...

Dica da semana: Nine Perfect Strangers, série

Joia no Prime traz drama perturbador que consagra Nicole Kidman  Dizer que o tempo não passou para Nicole Kidman seria tão leviano quanto irresponsável. E isso é bom. No charme (ainda fatal) de seus 54 anos, a australiana mostra que tem muita lenha para queimar e escancara o quanto as décadas de experiência lhe fizeram bem, principalmente para composição de personagens mais complexas e maduras. Nada de gatinhas vulneráveis. Ancorando a nova série Nine Perfect Strangers, disponível na Amazon Prime Video, a eterna suicide blonde de Hollywood – ok, vamos dividir o posto com Sharon Stone – empresta toda sua aura de diva para dar vida à mística Masha, uma espécie de guru dos novos tempos que desenvolveu uma técnica terapêutica polêmica, pouco acessível e para lá de exclusiva. Em um lúdico e misterioso retiro, a “Tranquillum House”, a exotérica propõe uma nova abordagem de tratamento para condições mentais e psicossociais manifestadas de diferentes formas em cada um dos nove estranhos, “...