O jornalista Milton Coelho da Graça morreu na madrugada deste sábado. Ele tinha 90 anos e morreu em decorrência de complicações provocadas pela covid-19. Seu corpo será cremado neste domingo, apenas na presença dos familiares mais próximos. O jornalista abraçou a profissão e o trabalho de apuração como poucos. Formado em Direito, Economia e Administração pela Uerj, foi nas páginas de jornais e revistas que ele encontrou sua paixão profissional e se transformou em um dos principais defensores da ética e da liberdade de expressão no país. Seu conhecimento não ficou restrito ao trabalho nas redações. Também foi professor em cursos de Comunicação, nos quais compartilhou suas experiências com estudantes de jornalismo, informou o jornal O Globo em matéria publicada dia 29/5 no site do jornal. Continua a seguir.
Pelos veículos de comunicação em que passou, exerceu várias funções: foi repórter, redator, editor, diretor de redação e correspondente internacional.
A convite do jornalista Evandro Carlos de Andrade (1931-2001), Milton Coelho da Graça esteve à frente da Redação do jornal “O Globo” no começo dos anos de 1980, no cargo de editor-chefe, em um período decisivo para o jornal.
Em 1981, comandou com inteligência e habilidade a cobertura do atentado do Riocentro, durante um show em homenagem ao Dia do Trabalhador. O colunista Merval Pereira destaca a coragem e o entusiasmo do colega pela profissão, além de sua capacidade de contagiar a equipe.
“O Milton era um jornalista entusiasmado com a profissão. Um entusiasmo peculiar. Estava sempre em ebulição. Sempre querendo fazer coisas novas. Contagiava mesmo a redação. Tinha grande admiração pela atitude dele. A condução dele no caso Riocentro foi emblemática, quando o “Globo” revelou que havia uma segunda bomba no Puma, o que determinava que não era um atentado da esquerda. Ele não teve nenhuma dúvida de que deveria publicar. Nenhum tipo de autocensura, embora sempre mantivesse o respeito pela hierarquia”, lembra Merval.
Durante os governos militares, quando a censura imposta pela ditadura impedia a livre expressão e a contestação do regime político, Milton Coelho da Graça defendeu uma imprensa fiscalizadora do poder público. O jornalista tinha entre suas bandeiras a necessidade de se manter os veículos de comunicação, em especial os jornais e as revistas, como órgãos de defesa da sociedade, denunciando ilegalidades, escândalos de corrupção e abusos de poder.
O comportamento em defesa da sociedade livre levou Milton Coelho da Graça à prisão por pelo menos seis vezes durante a ditadura. Para Leda Ebert, a viúva do jornalista, o período no “Globo” foi um dos mais felizes em sua carreira profissional. “O Milton jamais esqueceu a convivência dele com os queridos companheiros jornalistas. Mais do que o próprio trabalho, ele sempre falava muito de como era importante a convivência com os jornalistas do ‘Globo’. E dizia sempre ‘Jamais esquecerei como fui feliz no Globo’”, contou Leda.
Também deixou sua marca também em jornais como "Última Hora", "Jornal do Commercio", "Gazeta Mercantil", "O Dia", "Diário da Manhã" (Goiânia) e "Diário da Amazônia"; e nas revistas "IstoÉ", "Realidade", "4Rodas", "Placar", "Playboy" e "Intervalo"; além da TV Corcovado, Editora Bloch e do Grupo Gazeta de Alagoas (jornal, TV e rádios).
No período da ditadura, contribuiu com algumas publicações clandestinas, entre elas "Notícia Censurada" e "Resistência."
Para Milton Coelho da Graça, não havia justificativa para o cerceamento da imprensa. Ele ocupou cargos públicos, como secretário de Governo no primeiro mandato do prefeito do Rio Cesar Maia (1993-1997) e ainda dirigiu a imprensa oficial do Município.
Como correspondente internacional na Inglaterra e nos Estados Unidos, fez entrevistas com líderes mundiais, entre eles Fidel Castro, de Cuba, e Yasser Arafat, da Palestina, além de Papas.
Sempre que podia, ressaltava a paixão que sentia pela profissão e pela rotina das redações, e dizia: “Liberdade de expressão inclui até a liberdade... de dizer besteira”.
O presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Paulo Jeronimo, escreveu, na página da entidade, sobre a importância de Milton Coelho da Graça para o jornalismo brasileiro. “Grande Milton, deixa um legado de um dos mais brilhantes jornalistas brasileiros nos vários veículos em que militou, com uma trajetória invejável. E eu perco um amigo, um parceiro e um incentivador para realizar um trabalho que tem o objetivo de resgatar o protagonismo da ABI, o seu sonho sagrado. Minha derradeira homenagem ao velho companheiro é apresentar, hoje, a imagem da nossa querida ABI totalmente recuperada”, escreveu o jornalista.
Nascido no bairro da Gamboa, na Zona Portuária, Região Central da Rio, Milton Coelho da Graça tinha como duas outras paixões o Vasco da Gama e a escola Império Serrano, agremiação de Madureira e umas das mais tradicionais do samba carioca. Militante de esquerda, foi agraciado em 2014 com a Medalha do Mérito Legislativo, a mais alta comenda concedida pela Câmara dos Deputados a autoridades, entidades e personalidades que se notabilizam em várias atividades.
Milton Coelho da Graça integrou o Conselho Deliberativo da Associação Brasileira de Imprensa. Também foi colunista e se adaptou às mudanças do jornalismo com a digitalização da informação, ao lançar um blog. Internauta, defendia que o jornal impresso e online não iriam colidir, mas convergir.
Coelho da Graça era casado e teve quatro filhos e cinco netos.
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