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O que aconteceu com a Clarice de Silêncio dos Inocentes?

Há 30 anos, a agente do FBI Clarice Starling pedia ajuda a Hannibal Lecter, eternizando o psiquiatra canibal como um dos “serial killers” mais assustadores da história do cinema. Em comemoração ao aniversário da estreia de “O Silêncio dos Inocentes”, lançado no Brasil em 17 de maio de 1991, uma série de TV aposta na trajetória pessoal de Clarice, ambientando seu “spin-off”, como é chamada uma obra derivada de outra, um ano após os eventos do thriller, vencedor do Oscar de melhor filme em 1992. A rede CBS, que exibe atualmente a série nos EUA, vende “Clarice” como a “história não contada” da agente saída da imaginação do escritor Thomas Harris. Retratada nos livros “O Silêncio dos Inocentes” (1988) e “Hannibal” (1999), a personagem continua aqui a atrair “monstros e loucos” por causa de seu brilhantismo ao traçar o perfil psicológico de assassinos e, ao mesmo tempo, sua vulnerabilidade diante dos mesmos, escreve Elaine Guerini no Valor, em resenha publicada dia 30/4. Continua a seguir.

 

“O que sempre me intrigou sobre Clarice foi o que a literatura e o cinema não abordaram”, conta Jenny Lumet, cocriadora e produtora da série ainda sem data de estreia no Brasil. “De tão particular, o universo criado por Thomas Harris funciona como um mosaico, onde cada personagem tem grande significado e impacto”, completa ela, durante painel virtual de “Clarice”, organizado pelo SXSW, o festival South by Southwest, que teve cobertura do Valor.

No caso da agente do FBI, eleita pelo American Film Institute como a “maior heroína da história do cinema” (na sexta posição do ranking geral), Jenny quis mergulhar em dois aspectos pouco explorados nas obras de Harris. “Por um lado, mostramos o que Clarice enfrenta por ser uma mulher jovem no FBI, um ambiente 90% masculino. E, por outro, tratamos dos efeitos psicológicos por ela lidar com crimes hediondos diariamente no trabalho”, diz a criadora.

Logo na primeira cena, no primeiro episódio da série, intitulado “O Silêncio É Quebrado”, Clarice está em uma sessão de terapia, por exigência do FBI. O psiquiatra tenta fazer a agente admitir que seu estado mental foi afetado pela investigação de Buffalo Bill, o assassino que costurava a pele arrancada dos corpos de suas vítimas para se “vestir” de mulher.

O contato de Clarice com Hannibal Lecter também preocupa o terapeuta. O canibal condenado à prisão perpétua exigiu ter conversas íntimas com a agente, em troca de informação sobre Buffalo Bill. “Clarice acabará descobrindo quem ela é de verdade com os traumas que sofreu”, afirma Jenny, de 54 anos, que é filha do cineasta Sidney Lumet (1924-2011).

Enquanto explora os danos causados pelo seu ofício, a agente também será forçada na série a enfrentar seus demônios do passado. Isso inclui traumas de infância, como ter sido enviada para morar em um rancho de parentes distantes, aos 10 anos, depois que seu pai foi assassinado e sua mãe não conseguiu sustentar mais a família. Horrorizada com o abate de animais que presenciava, Clarice fugiu, o que fez a família colocá-la em um orfanato luterano - uma das lembranças que a agente compartilhou com Lecter em “O Silêncio dos Inocentes”.

Coube à atriz Rebecca Breeds (das séries “The Originals” e “Pretty Little Liars”) resgatar o papel de Clarice, que deu a Jodie Foster o Oscar de melhor atriz em 1992. Julianne Moore também encarnou a agente, em 2001, na adaptação homônima de “Hannibal”, ambientado sete anos depois de Clarice matar Buffalo Bill.

“Evitei me prender à ideia de imitar Jodie ou Julianne, já que a série retrata outro momento na vida de Clarice. O meu jeito de homenagear as duas atrizes foi fazer o que elas fizeram. Ou seja, usei os livros como referência, para encontrar a verdade sobre a personagem”, conta Rebecca, de 33 anos.

O “spin-off” dará ao espectador uma ideia do que pode ter acontecido com Clarice entre os eventos de “O Silêncio dos Inocentes” e de “Hannibal”, que o autor nunca narrou. A trama da série foi escrita por um time de roteiristas comandado por Jenny e por Alex Kurtzman, cocriador do programa.

“Seguimos as linhas gerais de quem Clarice é. Mas o caminho que ela percorre aqui depende de nós, à medida que a recriamos”, diz Rebecca, que pesquisou sobre transtorno de estresse pós-traumático antes de encarnar a agente. “É comum a pessoa negar que foi afetada, exatamente como Clarice faz, usando os seus traumas como combustível para o trabalho no FBI. Ela não é necessariamente uma super-heroína. Só uma mulher que passou por poucas e boas”, completa a atriz.




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