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Oito crimes reais que viraram narrativas da ‘New Yorker’

Revista americana de maior prestígio atualmente, a “New Yorker” conseguiu aumentar o número de seus leitores mesmo durante a pandemia, chegando perto de 1,3 milhão de exemplares. No período de 12 meses terminado em junho do ano passado, as assinaturas digitais tinham crescido 44%, totalizando cerca de 240 mil leitores pagantes on-line, enquanto as vendas da revista em papel mantiveram-se pouco abaixo de 1 milhão, segundo dados da empresa americana de auditoria de circulação da mídia, citados pelo “Financial Times”. É um resultado que atesta a admiração que a “New Yorker” suscita entre leitores interessados em suas reportagens amplas e detalhadas, nas análises sobre cultura e política, nas dicas sobre filmes, livros e músicas. A revista, criada em 1925, também é reconhecida pela publicação de obras curtas de ficção e pelos cartuns que publica a cada edição, escreve Célia de Gouvêa Franco no Valor, em resenha publicada dia 14/5. Continua abaixo.


Graças à iniciativa de uma editora de livros que acaba de completar um ano de fundação, mais brasileiros poderão ler em português textos publicados originalmente pela revista americana. A Editora Rua do Sabão lança “Os piores crimes da revista New Yorker”, com oito reportagens editadas entre 1971 e 2017.

A combinação entre os textos elegantes e aprofundados escolhidos para compor o livro e o interesse em ler sobre crimes pode atrair muitos leitores. Com grande frequência, livros policiais - ficcionais - entram na lista dos mais vendidos mundo afora, bastando lembrar o exemplo da escritora inglesa Agatha Christie, que, 45 anos depois da sua morte, continua sendo um enorme sucesso. Ela só não teria vendido mais exemplares do que William Shakespeare e a Bíblia.

Mas não são apenas as obras de ficção relatando crimes que chamam a atenção do público, como mostra a audiência significativa de documentários sobre assassinatos e grandes roubos. Livros sobre crimes e criminosos reais também trazem um apelo que talvez se explique pelo desejo do leitor de ter alguma explicação sobre fatos terríveis.

A própria “New Yorker” estabeleceu um padrão de excelência nessa área ao publicar em capítulos, em 1965, a reportagem qu,e se transformaria no livro “A Sangue Frio”, de Truman Capote, em que ele retrata o brutal assassinato de uma família em uma cidadezinha no Kansas.

“Os piores crimes” recebeu uma edição bem cuidada, com traduções corretas e cuidados como um apêndice que atualiza as informações sobre os criminosos retratados nas reportagens, algo necessário, já que algumas das histórias datam de décadas atrás. Falta, porém, uma apresentação mais detalhada dos autores dos oito textos selecionados.

Algumas das reportagens são realmente intrigantes, como a história escrita pelo escritor e jornalista Nicholas Schmidle, sobre um caso excepcional na justiça nos Estados Unidos - o suspeito de um assassinato que foi julgado três vezes, contrariando a lei americana que proíbe que uma pessoa passe por mais de um julgamento pelo mesmo crime.

Ou o texto contando como seis pessoas confessaram ter cometido um crime, embora fossem todas inocentes, o que levanta dúvidas sobre abusos da lei em pequenas cidades no interior dos EUA.

Em comum, os autores das reportagens mantêm o padrão de tentar ouvir o máximo de pessoas relacionadas ao crime, incluindo amigos de infância, vizinhos, ex-patrões e professores dos criminosos e das vítimas, de buscar detalhar o ambiente em que viviam, a escola que frequentaram, a cidade onde moraram.

Segundo o organizador do livro, Felipe Damorim, que é também um dos fundadores da Editora Rua do Sabão, ele resolveu tentar publicar algumas das histórias da “New Yorker”, revista da qual é fã, porque acha os textos tão bons que queria que mais gente pudesse ler.

Ao ser procurada, a direção da revista se mostrou muito receptiva à ideia e facilitou o contato com os escritores dos textos dos quais não detinha os direitos autorais.

Damorim, que é também tradutor de alguns dos textos da obra, e os outros sócios da Rua do Sabão se apresentam de uma forma simples - “Somos, antes de mais nada, uma editora de leitores”. O lançamento da editora acabou acontecendo no meio da pandemia, e eles enfrentam ainda outros problemas, como a dificuldade de encontrar papel para impressão em determinados momentos e a ameaça de tributação do livro.

Os piores crimes da revista New Yorker Organização de Felipe Damorim Ed. Rua do Sabão, 264 páginas, R$ 59,00



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