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Witzel já era. A antipolítica acaba quando as instituições começam, por Alberto Carlos Almeida


Falta pouco para que o caixão político de Witzel seja fechado. O seu impeachment é considerado favas contadas pelos deputados estaduais do Rio de Janeiro, e o motivo que levou a isso é simples: ele não negociou com o Poder Legislativo. Witzel ignorou as instituições políticas que regem seu estado. Deputados são eleitos para exercerem o poder, se eles não são chamados para fazer isso haverá sempre o risco de o governador ser deposto, escreve Alberto Carlos Almeida em sua coluna na revista Veja. Continua abaixo. 

No início de 2018, Witzel era uma figura inteiramente desconhecida e sem a menor chance de ser eleito governador. Justamente por isso ele encontrou abrigo no obscuro PSC, partido controlado pelo Pastor Everaldo. Foi sob suas orações que Witzel se tornou candidato e venceu. Coube a ele, Pastor Everaldo, portanto, as principais indicações para ocupar os cargos do governo de estado. Políticos conversam o tempo inteiro, Witzel foi alertado desde o início de seu mandato acerca do que estava ocorrendo. Ignorou os avisos e será deposto.
O destino de cada figura antipolítica varia. Bolsonaro está cercado pelas instituições. As várias investigações que estão no Supremo Tribunal Federal (STF) e no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), se devidamente combinadas com queda de popularidade, piora da avaliação de governo e insatisfação parlamentar, podem levar o Presidente a seguir os mesmos passos de Witzel. Os ingredientes para a deposição de um presidente da república são mais complexos e exigentes do que para se abortar o mandato de um governador. Faz todo sentido.
Romeu Zema tem em seu calcanhar alguém que não nega a política, o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil. O péssimo relacionamento de Zema com a Assembleia Legislativa pode lhe custar o mandato na eleição de 2022. Kalil caminha para ser reeleito e poderá vir a ser o principal opositor de Zema na eleição estadual. O eleitorado terá nesta ocasião uma chance de escolher entre alguém que nega a política e entrega um governo ruim e alguém que aceita a política e melhora a vida do povo.
Witzel, Bolsonaro e Zema, cada um do seu jeito, estão sendo limitados pelas instituições. Ou eles dançam conforme a música da justiça, do Poder Legislativo, das demandas eleitorais, ou eles serão defenestrados, cada um a seu tempo, e cada qual enfrentando uma instituição diferente.



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