O autor destas Entrelinhas tem três filhos. Cada um bem diferente do outro.
Dois de uma mãe, outro de outra mãe, todas queridas.
Bem, em tempos de pandemia, falamos por zoom, exceto o pequeno, que tem vindo aqui e ficado na casa do pai mais do que o normal. Temos guarda compartilhada e civilizada, acordamos as visitas semana a semana.
Posto isto, hoje o pequeno chegou de bike e tudo, animado, tão animado que não dormia.
Contei para ele esta história, resumindo um pouco.
Ele amou. Disse que queria uma laptop também. Claro, reconheceu o trocadilho nada sutil com o nome dos irmãos: Teodoro é o João, Joana é a Teresa, porque fez isto, papai?
Texto que li abaixo. Merece alguma revisão, mas no básico, penso assim até hoje. Erro do Lula foi focar tanto no consumo interno, poderia ter licitado mais, mais PPPs, mas eram tempos diferentes.
Uma história de Natal atrasada e os votos de feliz 2007 a todos os leitores
dezembro 29, 2006
A história que vai abaixo é verídica, com os nomes das personagens devidamente trocados.
Joana é uma menina feliz: estuda em um dos colégios da elite paulistana, tem um quarto repleto de brinquedos, é sócia de um belo clube e passa as férias entre a fazenda da família da mãe e a casa de praia da família do pai.
Neste fim de ano, com o início das férias escolares, Joana recebeu a visita de Luiza, a filha empregada que trabalha em sua casa. Como provavelmente não tinha com quem deixar a filhota, Dalva, a empregada, passou a trazê-la, dia sim, dia não, para a casa da patroa. Na antevéspera do Natal, já bem tarde, o pai de Joana atende o telefone. É Dalva, um pouco aflita, que lhe pede um favor. Nada demais, apenas que guardasse o brinquedo que Luiza havia esquecido, para que na manhã seguinte Joana e seu irmão Teodoro não o quebrassem. Dalva temia que os dois não soubessem muito bem como ligar o laptop da Xuxa de sua filha Luiza.
O pai, meio perplexo, assentiu e foi guardar o brinquedo. Joana tem muita coisa, mas de fato ainda não ganhou o tal computadorzinho. Nas boas lojas do ramo, custa R$ 250 à vista e os pais de Joana até tinham pensado em comprá-lo, mas acharam o preço salgado.
Dalva provavelmente comprou o laptop em muitas prestações, quem sabe em 48 ou 36, pois ganha R$ 500 por mês e certamente não usaria metade do salário para dar o presente à filha. Pagando em tantas prestações, o brinquedo certamente saiu pelo menos o dobro do que custaria à vista. Desta forma, porém, a prestação ficou entre R$ 10 e R$ 13 e coube no apertado orçamento de Dalva. Pode parecer pouco, mas, como diz a propaganda do esperto cartão de crédito, para Luiza, ter levado à casa onde sua mãe trabalha um brinquedo que a filha da patroa não possui simplesmente não tem preço.
Tucanos de bico longo torcem o nariz para essas coisas. Diriam que os pobres estão sendo explorados ao pagar por um brinquedo o dobro do que pagariam os ricos. Como diriam os americanos: bullshit. Na verdade, a elite se incomoda com o acesso dos pobres a bens e serviços que ela julgava exclusivos da sua própria classe. A cantilena não muda nunca: o povaréu pode sim ter acesso a tais "luxos", mas é preciso fazer o bolo crescer antes de dividi-lo.
De fato, o argumento não se sustenta e o presidente Lula percebeu o anseio do povão – basicamente, por bens de consumo. O governo atual vem trabalhando para aumentar as possibilidade de acesso a esses bens, seja via expansão do crédito, seja via recuperação do salário mínimo ou programas sociais, como o Bolsa Família. Lula se reelegeu em grande medida por causa disto. Foi gente como Dalva, com a auto-estima em alta, que deu um voto de confiança no presidente. Pragmáticos, as milhares de Dalvas e Luizas não esperam um "governo de esquerda", mas apenas novas chances de ter, ainda nesta encarnação e não na que os tucanos gostam de prometer, alguns dos confortos que a burguesia já conhece faz muito tempo.
O pessoal do PSOL também não gosta muito de ver as coisas desta maneira. Acham tudo isto uma grande armadilha, engendrada talvez nos gabinetes de Washington com o intuito de perpetuar o capitalismo no Brasil. Certamente estão com a razão, mas o problema é que para a menina Luiza o socialismo pode chegar tarde demais. Já o laptop da Xuxa, que a filha da patroa de sua mãe não tem, esse já está garantido. Talvez tenha por isto que Geraldo Alckmin e Heloísa Helena ficaram falando sozinhos e o presidente acabou se reelegendo...
Por hoje é tudo, se não fosse pouco! Bom ano novo a todos os que tiveram a paciência de acompanhar essas Entrelinhas em 2006. O blog faz uma breve pausa e volta a atualizar dia 2. Até 2007, portanto.
Na época, eram dois...
Dois de uma mãe, outro de outra mãe, todas queridas.
Bem, em tempos de pandemia, falamos por zoom, exceto o pequeno, que tem vindo aqui e ficado na casa do pai mais do que o normal. Temos guarda compartilhada e civilizada, acordamos as visitas semana a semana.
Posto isto, hoje o pequeno chegou de bike e tudo, animado, tão animado que não dormia.
Contei para ele esta história, resumindo um pouco.
Ele amou. Disse que queria uma laptop também. Claro, reconheceu o trocadilho nada sutil com o nome dos irmãos: Teodoro é o João, Joana é a Teresa, porque fez isto, papai?
Texto que li abaixo. Merece alguma revisão, mas no básico, penso assim até hoje. Erro do Lula foi focar tanto no consumo interno, poderia ter licitado mais, mais PPPs, mas eram tempos diferentes.
Uma história de Natal atrasada e os votos de feliz 2007 a todos os leitores
dezembro 29, 2006
A história que vai abaixo é verídica, com os nomes das personagens devidamente trocados.
Joana é uma menina feliz: estuda em um dos colégios da elite paulistana, tem um quarto repleto de brinquedos, é sócia de um belo clube e passa as férias entre a fazenda da família da mãe e a casa de praia da família do pai.
Neste fim de ano, com o início das férias escolares, Joana recebeu a visita de Luiza, a filha empregada que trabalha em sua casa. Como provavelmente não tinha com quem deixar a filhota, Dalva, a empregada, passou a trazê-la, dia sim, dia não, para a casa da patroa. Na antevéspera do Natal, já bem tarde, o pai de Joana atende o telefone. É Dalva, um pouco aflita, que lhe pede um favor. Nada demais, apenas que guardasse o brinquedo que Luiza havia esquecido, para que na manhã seguinte Joana e seu irmão Teodoro não o quebrassem. Dalva temia que os dois não soubessem muito bem como ligar o laptop da Xuxa de sua filha Luiza.
O pai, meio perplexo, assentiu e foi guardar o brinquedo. Joana tem muita coisa, mas de fato ainda não ganhou o tal computadorzinho. Nas boas lojas do ramo, custa R$ 250 à vista e os pais de Joana até tinham pensado em comprá-lo, mas acharam o preço salgado.
Dalva provavelmente comprou o laptop em muitas prestações, quem sabe em 48 ou 36, pois ganha R$ 500 por mês e certamente não usaria metade do salário para dar o presente à filha. Pagando em tantas prestações, o brinquedo certamente saiu pelo menos o dobro do que custaria à vista. Desta forma, porém, a prestação ficou entre R$ 10 e R$ 13 e coube no apertado orçamento de Dalva. Pode parecer pouco, mas, como diz a propaganda do esperto cartão de crédito, para Luiza, ter levado à casa onde sua mãe trabalha um brinquedo que a filha da patroa não possui simplesmente não tem preço.
Tucanos de bico longo torcem o nariz para essas coisas. Diriam que os pobres estão sendo explorados ao pagar por um brinquedo o dobro do que pagariam os ricos. Como diriam os americanos: bullshit. Na verdade, a elite se incomoda com o acesso dos pobres a bens e serviços que ela julgava exclusivos da sua própria classe. A cantilena não muda nunca: o povaréu pode sim ter acesso a tais "luxos", mas é preciso fazer o bolo crescer antes de dividi-lo.
De fato, o argumento não se sustenta e o presidente Lula percebeu o anseio do povão – basicamente, por bens de consumo. O governo atual vem trabalhando para aumentar as possibilidade de acesso a esses bens, seja via expansão do crédito, seja via recuperação do salário mínimo ou programas sociais, como o Bolsa Família. Lula se reelegeu em grande medida por causa disto. Foi gente como Dalva, com a auto-estima em alta, que deu um voto de confiança no presidente. Pragmáticos, as milhares de Dalvas e Luizas não esperam um "governo de esquerda", mas apenas novas chances de ter, ainda nesta encarnação e não na que os tucanos gostam de prometer, alguns dos confortos que a burguesia já conhece faz muito tempo.
O pessoal do PSOL também não gosta muito de ver as coisas desta maneira. Acham tudo isto uma grande armadilha, engendrada talvez nos gabinetes de Washington com o intuito de perpetuar o capitalismo no Brasil. Certamente estão com a razão, mas o problema é que para a menina Luiza o socialismo pode chegar tarde demais. Já o laptop da Xuxa, que a filha da patroa de sua mãe não tem, esse já está garantido. Talvez tenha por isto que Geraldo Alckmin e Heloísa Helena ficaram falando sozinhos e o presidente acabou se reelegendo...
Por hoje é tudo, se não fosse pouco! Bom ano novo a todos os que tiveram a paciência de acompanhar essas Entrelinhas em 2006. O blog faz uma breve pausa e volta a atualizar dia 2. Até 2007, portanto.
Na época, eram dois...
Comentários
Postar um comentário
O Entrelinhas não censura comentaristas, mas não publica ofensas pessoais e comentários com uso de expressões chulas. Os comentários serão moderados, mas são sempre muito bem vindos.