Vale ler a resenha de Elaine Guerini da série nova da Amazon Prime Video – nem só de Netflix vive a produção de filmes e séries em streaming, é bom ressaltar. Na íntegra, abaixo, original publicada em 5/6 no Valor Econômico.
Uma “chuva de dinheiro” já coloca o espectador no espírito de “El Presidente”, série que revisita o escândalo de corrupção na Fifa iniciado em maio de 2015 e batizado de “Fifagate”. Logo nos primeiros minutos, a cena recria o momento em que o humorista britânico Simon Brodkin lançou um maço de dólares falsos na direção do então presidente da organização, Joseph “Sepp” Blatter, em uma tentativa satírica de “comprar” o direito de sediar a Copa do Mundo de 2026 para a Coreia do Norte.
Ocorrido na sede da Fifa, na Suíça, antes de uma coletiva com Blatter, em julho de 2015, o episódio verídico com o comediante fazia referência às acusações de que dirigentes teriam recebido propina para votar no Catar como o anfitrião da Copa de 2022. Essa e outras denúncias de suborno, extorsão, fraude e lavagem de dinheiro são relembradas, quase sempre com doses de humor, na série que chega hoje (dia 5) ao catálogo da Amazon Prime Video.
“A ideia é mostrar como organizações como a Fifa permitem intrinsecamente certos comportamentos e transações, por terem senhores com mentalidade antiquada no comando”, diz a atriz mexicana Karla Souza.
Na série criada e dirigida pelo argentino Armando Bó, vencedor do Oscar de roteiro original por “Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)” (2014), ela interpreta a agente do FBI à frente da maior investigação de corrupção na história do futebol.
Rosario, sua personagem, é uma amálgama de agentes que conduziram o caso - até a condenação pelo Departamento de Justiça dos EUA de vários dirigentes, entre eles o ex-presidente da CBF José Maria Marin. Até o inusitado interesse do FBI pelas acusações de corrupção, envolvendo cartolas do futebol da América Latina em sua maioria, será tratado na série de oito episódios.
“É importante percebermos que os EUA só entraram na história porque não conseguiram o que eles queriam: um pedaço do bolo”, brinca Karla. A atriz lembra que o país estava entre os candidatos na eleição realizada em 2010 para a sede da Copa de 2022. “Por ter sido quase cômica a maneira como o Catar venceu os EUA, a partir daí o FBI passou a se organizar para derrubar a Fifa. Foi um jogo político.”
Foi depois do envolvimento do FBI que as acusações de corrupção contra a Fifa ganharam mais peso. O uso de bancos americanos nas transações milionárias, ainda que elas tenham ocorrido fora do país, permitiu que os EUA investigassem e levassem o caso para os seus tribunais. Mas, desde o início dos anos 2000, a Fifa já era alvo de denúncias.
“Se o assunto não foi resolvido antes, o motivo é revelado na série. Infelizmente, muitos negócios são conduzidos na América Latina sem a devida prestação de contas. É uma espécie de clube de meninos, onde uns cuidam dos outros”, diz a atriz, conhecida pela série “How to Get Away with Murder” (2014-2020).
Com produção do chileno Pablo Larraín, diretor de “Neruda” (2016), “El Presidente” apresenta a Fifa como uma escola de corrupção. Assim que o espectador começa a acompanhar a rotina de Sergio Jadue (vivido por Andrés Parra), um dirigente de futebol chileno que começou no Unión La Calera, as irregularidades se mostram na estrutura da organização. É sempre muito dinheiro distribuído entre poucos.
A trajetória de Jadue guia o público pelo escândalo por ele ter sido um dos dirigentes que colaborou com a Justiça dos EUA e fez delação premiada. Peculiaridades de sua vida profissional também justificam a escolha, uma vez que ele admitiu ter aceitado subornos quando era presidente da Federação Chilena de Futebol. Entre outras quantias, recebeu propina de US$ 1,5 milhão referente aos direitos de transmissão de eventos como a Copa América, incluindo a realizada no Chile em 2015.
É a agente Rosario que convence Jadue a colaborar com a Justiça dos EUA. O acordo tanto pode ajudar Rosario a ganhar uma promoção no FBI, retratado aqui como uma agência de postura machista, quanto aliviar a barra do dirigente, pintado na série como um sujeito ingênuo cego pela ambição. Como a sentença do verdadeiro Jadue ainda não saiu, o delator vive há cinco anos protegido pelo FBI em Miami. Segundo a imprensa local, Jadue mantém a “vida de luxo” na Flórida, morando em mansão.
“São tantos os casos de corrupção do ‘Fifagate’ que esperamos voltar para uma segunda temporada. Se o espectador quiser, material não vai faltar”, afirma Karla, lembrando que o ambiente pernicioso poderá afetar a própria Rosario na trama. “Com tanto dinheiro girando, fatalmente a agente também terá a honestidade testada ao longo da investigação.”
Uma “chuva de dinheiro” já coloca o espectador no espírito de “El Presidente”, série que revisita o escândalo de corrupção na Fifa iniciado em maio de 2015 e batizado de “Fifagate”. Logo nos primeiros minutos, a cena recria o momento em que o humorista britânico Simon Brodkin lançou um maço de dólares falsos na direção do então presidente da organização, Joseph “Sepp” Blatter, em uma tentativa satírica de “comprar” o direito de sediar a Copa do Mundo de 2026 para a Coreia do Norte.
Ocorrido na sede da Fifa, na Suíça, antes de uma coletiva com Blatter, em julho de 2015, o episódio verídico com o comediante fazia referência às acusações de que dirigentes teriam recebido propina para votar no Catar como o anfitrião da Copa de 2022. Essa e outras denúncias de suborno, extorsão, fraude e lavagem de dinheiro são relembradas, quase sempre com doses de humor, na série que chega hoje (dia 5) ao catálogo da Amazon Prime Video.
“A ideia é mostrar como organizações como a Fifa permitem intrinsecamente certos comportamentos e transações, por terem senhores com mentalidade antiquada no comando”, diz a atriz mexicana Karla Souza.
Na série criada e dirigida pelo argentino Armando Bó, vencedor do Oscar de roteiro original por “Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)” (2014), ela interpreta a agente do FBI à frente da maior investigação de corrupção na história do futebol.
Rosario, sua personagem, é uma amálgama de agentes que conduziram o caso - até a condenação pelo Departamento de Justiça dos EUA de vários dirigentes, entre eles o ex-presidente da CBF José Maria Marin. Até o inusitado interesse do FBI pelas acusações de corrupção, envolvendo cartolas do futebol da América Latina em sua maioria, será tratado na série de oito episódios.
“É importante percebermos que os EUA só entraram na história porque não conseguiram o que eles queriam: um pedaço do bolo”, brinca Karla. A atriz lembra que o país estava entre os candidatos na eleição realizada em 2010 para a sede da Copa de 2022. “Por ter sido quase cômica a maneira como o Catar venceu os EUA, a partir daí o FBI passou a se organizar para derrubar a Fifa. Foi um jogo político.”
Foi depois do envolvimento do FBI que as acusações de corrupção contra a Fifa ganharam mais peso. O uso de bancos americanos nas transações milionárias, ainda que elas tenham ocorrido fora do país, permitiu que os EUA investigassem e levassem o caso para os seus tribunais. Mas, desde o início dos anos 2000, a Fifa já era alvo de denúncias.
“Se o assunto não foi resolvido antes, o motivo é revelado na série. Infelizmente, muitos negócios são conduzidos na América Latina sem a devida prestação de contas. É uma espécie de clube de meninos, onde uns cuidam dos outros”, diz a atriz, conhecida pela série “How to Get Away with Murder” (2014-2020).
Com produção do chileno Pablo Larraín, diretor de “Neruda” (2016), “El Presidente” apresenta a Fifa como uma escola de corrupção. Assim que o espectador começa a acompanhar a rotina de Sergio Jadue (vivido por Andrés Parra), um dirigente de futebol chileno que começou no Unión La Calera, as irregularidades se mostram na estrutura da organização. É sempre muito dinheiro distribuído entre poucos.
A trajetória de Jadue guia o público pelo escândalo por ele ter sido um dos dirigentes que colaborou com a Justiça dos EUA e fez delação premiada. Peculiaridades de sua vida profissional também justificam a escolha, uma vez que ele admitiu ter aceitado subornos quando era presidente da Federação Chilena de Futebol. Entre outras quantias, recebeu propina de US$ 1,5 milhão referente aos direitos de transmissão de eventos como a Copa América, incluindo a realizada no Chile em 2015.
É a agente Rosario que convence Jadue a colaborar com a Justiça dos EUA. O acordo tanto pode ajudar Rosario a ganhar uma promoção no FBI, retratado aqui como uma agência de postura machista, quanto aliviar a barra do dirigente, pintado na série como um sujeito ingênuo cego pela ambição. Como a sentença do verdadeiro Jadue ainda não saiu, o delator vive há cinco anos protegido pelo FBI em Miami. Segundo a imprensa local, Jadue mantém a “vida de luxo” na Flórida, morando em mansão.
“São tantos os casos de corrupção do ‘Fifagate’ que esperamos voltar para uma segunda temporada. Se o espectador quiser, material não vai faltar”, afirma Karla, lembrando que o ambiente pernicioso poderá afetar a própria Rosario na trama. “Com tanto dinheiro girando, fatalmente a agente também terá a honestidade testada ao longo da investigação.”
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