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Uma retomada atrapalhada em São Paulo e as 42 mil mortes

Abertura da Newsletter da LAM Comunicação desta semana. Boa leitura a todas e todos.

O governador João Doria e o prefeito Bruno Covas, que anunciou no sábado, 13/6, ter contraído Covid-19, estavam realizando um belo trabalho no estado e cidade de São Paulo. Estavam, porque o anúncio da retomada das atividades econômicas no momento em que a pandemia está chegando no pico no Brasil é certamente um risco e uma decisão muito duvidosa, do ponto de vista da ciência. Médicos e infectologistas já criticaram, mas não é só isto. O modelo escolhido é completamente atrapalhado, desorganizado e não tem muita lógica. Na Europa, os primeiros a voltar foram os estudantes, crianças pequenas, aqui não há nem sequer uma sinalização de quando as escolas poderão retomar as atividades.
Além desta questão organizacional, é necessário lembrar que São Paulo, se fosse um país, estaria na nona colocação no ranking de mortos acumulados, o que é um espanto, estamos colado com o México, cuja população é três vezes maior que a paulista. 
E o Brasil? Nosso país vai mal. Ultrapassamos o número de mortos do Reino Unido na sexta-feira, 12/6, quanto batemos a marca de 40 mil vidas perdidas, no sábado chegamos aos 42 mil que nos colocam abaixo apenas dos Estados Unidos. Segundo as projeções dos entendidos no assunto, vamos rodar por mais um mês ou dois acima dos mil mortos diários, o que deverá nos fazer ultrapassar os EUA, caso não haja segunda onda por lá. E por aqui seguimos sem ministro da Saúde e sem qualquer plano de contenção da doença, com lances erráticos a cada semana. A aposta na cloroquina já foi abandonada, mas o presidente Jair Bolsonaro insiste em negar a situação, duvidando do números que seu governo divulga.
Aliás, Bolsonaro, em uma atitude até ridícula, tentou modificar o método de divulgação dos dados, o que durou dois dias apenas, no começo da semana, desafiando a TV Globo. O tiro saiu pela culatra e um sereno mas firme Willian Bonner abriu um plantão extraordinário, quebrando a grade da vênus platinada, para informar ao público os dados que não pôde apresentar durante o Jornal Nacional. Pouco antes das 22h, sua presença na telinha teve mais audiência do que a edição do JN daquela segunda-feira. 
A aposta do governo na confusão dos dados de fato fracassou, e o presidente continua em seu embate diário com a mídia, tendo inclusive recriado o ministério das Comunicações e entregado o posto de titular da pasta para o deputado federal Fábio Faria (PSD-RN), genro de Silvio Santos, fiel aliado de Bolsonaro. Sim, ao que tudo indica, a balbúrdia ainda vai longe. (Luiz Antonio Magalhães em 13/6/20)



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