Vale a pena ler a análise abaixo, sobre os efeitos da crise mundial aqui no Brasil. Originalmente publicado no Terra Magazine, o texto de Júlio Gomes de Almeida revela que o grande problema hoje na economia real do país não é propriamente esta ou aquela operação mal feita e que gerou prejuízos para algumas grandes empresas e nem mesmo a questão cambial, mas a falta de crédito para fazer a roda da economia girar. O professor é cauteloso, mas é possível vislumbrar alguma melhoria neste ponto com as medidas tomadas pelo governo e também com a fusão do Itaú e Unibanco. Se o problema for mesmo só crédito, e parece que é, dá para imaginar uma retomada mais rápida do crescimento tão logo esta questão seja sanada. Talvez os pessimistas de plantão estejam errados mais uma vez. Quem viver, verá...
Passado e Futuro do Desempenho Industrial
Nos últimos tempos, quando a crise internacional se agravou, uma sucessão de acontecimentos passou a transformar fatos recentes em coisas do passado e confunde o que antes poderia ser um sinal seguro sobre o futuro. Estamos presenciando isso no Brasil e dois exemplos nos parecem muito sugestivos.
Ontem foi divulgado o resultado da produção industrial referente a setembro que sugere que a indústria brasileira passa por uma etapa extremamente boa. Passava, seria melhor dizer, pois o crescimento da indústria de 9,8% nesse mês com relação ao mesmo mês do ano passado pode ser considerado como um reflexo de um passado próximo, porém que muito dificilmente será reproduzido esse ano e, talvez, também no próximo.
Os dados da produção industrial de setembro permitem, no entanto, estabelecer algumas hipóteses sobre como a crise poderá influenciar o crescimento da indústria. Tomemos dois setores dentre os mais destacados na explicação do crescimento industrial acumulado em 2008 de 6,5%.
Veículos automotores foi um setor que contribuiu com cerca de 25% para o crescimento da produção global. Máquinas e equipamentos representaram cerca de 12% da evolução total. Estamos falando, por conseguinte, de dois setores de um total de 27 que em conjunto comandaram quase 40% do dinamismo industrial brasileiro. Ocorre que esses dois setores estão entre os que deverão ser os mais afetados pela crise econômica.
Esta "veio de fora", mas ao contrário de que muitos imaginavam contagiou de forma expressiva as expectativas dos agentes econômicos brasileiros e a concessão de crédito no país. A confiança de consumidores e empresários sofreu um verdadeiro colapso em outubro, com reduções em torno a 10% com relação a setembro.
Isso por si só já levaria a uma menor evolução das decisões de investir dos empresários e de consumir bens duráveis por parte dos consumidores, com o impacto muito negativo sobre os dois setores líderes da expansão industrial brasileira.
O fato, entretanto, é que o quadro do contágio brasileiro, embora ainda não esteja inteiramente claro, pode se revelar ainda mais adverso, pois contaminou de forma significativa o crédito na economia. Aqui não se trata das expectativas de consumidores e empresários, mas, sim, de expectativas muito adversas com que os bancos passaram a avaliar o crédito de empresas e pessoas físicas.
Não se sabe bem a razão, mas os bancos brasileiros, que não sofreram qualquer impacto direto da crise externa, já que não tinham exposições aos ativos "podres" norte-americanos, importaram a crise de crédito e contraíram fortemente os novos financiamentos para empresas e consumidores. Também elevaram significativamente as taxas de juros e reduziram os prazos.
Esse é o dado novo da equação: ao lado da piora das expectativas dos agentes reais, há uma contração muito forte do crédito na economia brasileira, devido a uma maior aversão ao risco de crédito por parte dos bancos. Esse último componente poderá tornar a desaceleração do crescimento da indústria nesse final do ano em uma retração da produção do setor nos primeiros meses do ano que vem.
Ou seja, é a restrição do crédito que poderá levar a indústria e a economia brasileira para uma recessão. A fusão de grandes bancos, que deve ter prosseguimento, e o refinanciamento dos prejuízos dos exportadores com operações com derivativos junto ao sistema bancário são fatos novos que poderão reerguer o crédito no país e evitar um retrocesso maior da indústria e do PIB global brasileiro. Se isso não ocorrer, o governo terá rapidamente que intervir no crédito para assegurar o mínimo de acesso aos recursos por parte de empresas e consumidores.
Júlio Gomes de Almeida é professor da Unicamp e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda.
Passado e Futuro do Desempenho Industrial
Nos últimos tempos, quando a crise internacional se agravou, uma sucessão de acontecimentos passou a transformar fatos recentes em coisas do passado e confunde o que antes poderia ser um sinal seguro sobre o futuro. Estamos presenciando isso no Brasil e dois exemplos nos parecem muito sugestivos.
Ontem foi divulgado o resultado da produção industrial referente a setembro que sugere que a indústria brasileira passa por uma etapa extremamente boa. Passava, seria melhor dizer, pois o crescimento da indústria de 9,8% nesse mês com relação ao mesmo mês do ano passado pode ser considerado como um reflexo de um passado próximo, porém que muito dificilmente será reproduzido esse ano e, talvez, também no próximo.
Os dados da produção industrial de setembro permitem, no entanto, estabelecer algumas hipóteses sobre como a crise poderá influenciar o crescimento da indústria. Tomemos dois setores dentre os mais destacados na explicação do crescimento industrial acumulado em 2008 de 6,5%.
Veículos automotores foi um setor que contribuiu com cerca de 25% para o crescimento da produção global. Máquinas e equipamentos representaram cerca de 12% da evolução total. Estamos falando, por conseguinte, de dois setores de um total de 27 que em conjunto comandaram quase 40% do dinamismo industrial brasileiro. Ocorre que esses dois setores estão entre os que deverão ser os mais afetados pela crise econômica.
Esta "veio de fora", mas ao contrário de que muitos imaginavam contagiou de forma expressiva as expectativas dos agentes econômicos brasileiros e a concessão de crédito no país. A confiança de consumidores e empresários sofreu um verdadeiro colapso em outubro, com reduções em torno a 10% com relação a setembro.
Isso por si só já levaria a uma menor evolução das decisões de investir dos empresários e de consumir bens duráveis por parte dos consumidores, com o impacto muito negativo sobre os dois setores líderes da expansão industrial brasileira.
O fato, entretanto, é que o quadro do contágio brasileiro, embora ainda não esteja inteiramente claro, pode se revelar ainda mais adverso, pois contaminou de forma significativa o crédito na economia. Aqui não se trata das expectativas de consumidores e empresários, mas, sim, de expectativas muito adversas com que os bancos passaram a avaliar o crédito de empresas e pessoas físicas.
Não se sabe bem a razão, mas os bancos brasileiros, que não sofreram qualquer impacto direto da crise externa, já que não tinham exposições aos ativos "podres" norte-americanos, importaram a crise de crédito e contraíram fortemente os novos financiamentos para empresas e consumidores. Também elevaram significativamente as taxas de juros e reduziram os prazos.
Esse é o dado novo da equação: ao lado da piora das expectativas dos agentes reais, há uma contração muito forte do crédito na economia brasileira, devido a uma maior aversão ao risco de crédito por parte dos bancos. Esse último componente poderá tornar a desaceleração do crescimento da indústria nesse final do ano em uma retração da produção do setor nos primeiros meses do ano que vem.
Ou seja, é a restrição do crédito que poderá levar a indústria e a economia brasileira para uma recessão. A fusão de grandes bancos, que deve ter prosseguimento, e o refinanciamento dos prejuízos dos exportadores com operações com derivativos junto ao sistema bancário são fatos novos que poderão reerguer o crédito no país e evitar um retrocesso maior da indústria e do PIB global brasileiro. Se isso não ocorrer, o governo terá rapidamente que intervir no crédito para assegurar o mínimo de acesso aos recursos por parte de empresas e consumidores.
Júlio Gomes de Almeida é professor da Unicamp e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda.
É triste uma nação que a cor da pele de um cidadão pode ter sido o motivo da vitoria do candidato a presidente. Devemos votar nas ideias e ideais, nos compromissos do candidato. Isto é o importante.
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