Pular para o conteúdo principal

Fusão aumenta a confiança, diz Belluzzo

O professor Luiz Gonzaga Belluzzo concorda com a tese deste blog de que a fusão dos bancos Itaú e Unibanco é positiva para o país. Em entrevista ao Terra Magazine, que mais uma vez mostra agilidade e competência, o economista fala sobre a operação anunciada na manhã de hoje. A seguir, a íntegra da entrevista.

Beluzzo: fusão Itaú-Unibanco aumenta confiança

Raphael Prado

A fusão anunciada entre Itaú e Unibanco - que pode criar o maior banco do Hemisfério Sul e um dos 20 maiores do mundo - é benéfico e vai aliviar as incertezas sobre a saúde financeira do Unibanco, avalia o economista e professor da Unicamp Luiz Gonzaga Belluzzo. Embora não conheça detalhes da operação, Belluzzo afirma que uma conversa de 15 meses, alegada pelas instituições, indica que havia elementos sólidos para justificar a união dos bancos.

- Numa situação de instabilidade, de crise de liquidez, é normal. É até melhor que se faça isso do que deixar os rumores no ar. É melhor assim porque dá uma sensação de mais solidez - diz Belluzzo.

Para o economista, a primeira conseqüência do anúncio será um aumento da confiança frente aos rumores que já corriam o mercado de que a situação do Unibanco não era boa. Para ele, a redução dessa incerteza cria melhores condições para o oferecimento de crédito.

- (A operação) Aumenta a confiança e pode ajudar que o crédito se recupere. Mas não há uma causalidade imediata entre a fusão e o aumento do crédito. A fusão aumenta a confiança e cria melhores condições para que o crédito se recupere.
A fusão do Itaú e Unibanco criará a sexta maior instituição financeira das Américas em valor de mercado, segundo levantamento da consultoria Economatica. A soma do valor dos bancos brasileiros é de cerca de US$ 41,323 bi; mais do que o Bradesco - o mais valioso até então na América Latina -, com US$ 34,162 bi.

Leia abaixo os principais trechos da entrevista com o professor da Unicamp:

Terra Magazine - Qual a avaliação dessa fusão anunciada entre Itaú e Unibanco?
Luiz Gonzaga Belluzzo - Numa situação de instabilidade, de crise de liquidez, é normal. É até melhor que se faça isso do que deixar os rumores no ar. É melhor assim porque dá uma sensação de mais solidez.

Mas isso pode indicar que algum desses bancos estivesse em crise ou é precipitado falar nisso?
Sem as informações, eu acho difícil falar nisso. O que acontece é que estavam surgindo rumores sobre a situação do Unibanco que eram muito fortes. Esses rumores são habituais em momentos de crise. Mas como você não pode comprovar e atestar fica muito difícil de saber. Porque o próprio rumor pode provocar uma corrida (aos bancos). Então, seja como for o fato de ter sido feito a fusão, o fato de ser com o Itaú, um banco reconhecidamente sólido e com excelente reputação, há uma garantia de que o sistema pelo menos não está vulnerável. Porque o próprio rumor acaba provocando aquilo que ele prevê. Então eu acho que é correto, eu não sei como foi feito, se com ajuda do governo ou não, de forma espontânea. Como eles alegam que há 15 meses eles vêm tratando disso, não podemos dizer que eles não têm elementos para fazer isso.

Podemos esperar um aumento na oferta de crédito de imediato?
Não, não. Não necessariamente. Com a fusão você elimina um fator de insegurança, de incerteza. Porque o fato de ter feito a fusão melhora, na verdade, a incerteza. Reduz a insegurança, a desconfiança e pode ajudar que o crédito se recupere.

Aumenta a confiança...
Não há uma causalidade imediata entre a fusão e o aumento do crédito. A fusão aumenta a confiança e cria melhores condições para que o crédito se recupere.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

No pior clube

O livro O Crepúsculo da Democracia, da escritora e jornalista norte-americana Anne Applebaum, começa numa festa de Réveillon. O local: Chobielin, na zona rural da Polônia. A data: a virada de 1999 para o ano 2000. O prato principal: ensopado de carne com beterrabas assadas, preparado por Applebaum e sua sogra. A escritora, que já recebeu o maior prêmio do jornalismo nos Estados Unidos, o Pulitzer, é casada com um político polonês, Radosław Sikorski – na época, ele ocupava o cargo de ministro do Interior em seu país. Os convidados: escritores, jornalistas, diplomatas e políticos. Segundo Applebaum, eles se definiam, em sua maioria, como “liberais” – “pró-Europa, pró-estado de direito, pró-mercado” – oscilando entre a centro-direita e a centro-esquerda. Como costuma ocorrer nas festas de Réveillon, todos estavam meio altos e muito otimistas em relação ao futuro. Todos, é claro, eram defensores da democracia – o regime que, no limiar do século XXI, parecia ser o destino inevitável de toda

Abaixo o cancelamento

A internet virou o novo tribunal da inquisição — e isso é péssimo Só se fala na rapper Karol Conká, que saiu do BBB, da Rede Globo, com a maior votação da história do programa. Rejeição de 99,17% não é pouca coisa. A questão de seu comportamento ter sido odioso aos olhos do público não é o principal para mim. Sou o primeiro a reconhecer que errei muitas vezes. Tive atitudes pavorosas com amigos e relacionamentos, das quais me arrependo até hoje. Se alguma das vezes em que derrapei como ser humano tivesse ido parar na internet, o que aconteceria? Talvez tivesse de aprender russo ou mandarim para recomeçar a carreira em paragens distantes. Todos nós já fizemos algo de que não nos orgulhamos, falamos bobagem, brincadeiras de mau gosto etc… Recentemente, o ator Armie Hammer, de Me Chame pelo Seu Nome, sofreu acusações de abuso contra mulheres. Finalmente, através do print de uma conversa, acabou sendo responsabilizado também por canibalismo. Pavoroso. Tudo isso foi parar na internet. Ergue

OCDE e o erro do governo na gestão das expectativas

O assunto do dia nas redes é a tal negativa dos Estados Unidos para a entrada do Brasil na OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Enquanto os oposicionistas aproveitam para tripudiar, os governistas tentam colocar panos quentes na questão, alegando que não houve propriamente um veto à presença do Brasil no clube dos grandes, a Série A das nações. Quem trabalha com comunicação corporativa frequentemente escuta a frase "é preciso gerenciar a expectativa dos clientes". O problema todo é que o governo do presidente Bolsonaro vendeu como grande vitória a entrada com apoio de Trump - que não era líquida e certa - do país na OCDE. Ou seja, gerenciou mal a expectativa do cliente, no caso, a opinião pública brasileira. Não deixa de ser irônico que a Argentina esteja entrando na frente, logo o país vizinho cujo próximo governo provavelmente não será dos mais alinhados a Trump. A questão toda é que o Brasil não "perdeu", como o pobre Fla-Flu que impe