Pular para o conteúdo principal

Folha: quanto pior, melhor

Ontem, quinta-feira, Vinicius Torres Freire, colunista e ex-editor do caderno Dinheiro da Folha de S. Paulo, escreveu a nota abaixo em seu blog, que por sinal é dos melhores na praça para acompanhar a crise financeira global - pena não ter surgido antes. É preciso ler na íntegra para entender o que vem a seguir.

Emprego em SP: não é bem assim
A indústria paulista "perdeu" 10 mil empregos, diz a Fiesp. A queda foi de 0,41% em relação setembro. "A crise chegou, começaram as demissões?". Não é bem assim. Os dados ajustados mostram que o emprego caiu na verdade 0,13% ("com ajuste sazonal"). Em relação a outubro do ano passado, o nível de emprego cresceu 3,6%. Provavelmente, assustadas com o choque, as empresas pararam de contratar, algumas talvez temporariamente, e portanto a criação de vagas não foi suficiente para compensar as perdas "normais" de empregos. Mas ainda não há uma "onda de demissões".
Obviamente os dados são ruins. Uma queda assim não acontecia faz cinco anos. Mesmo que o susto de outubro passe para algumas empresas, quase todo mundo está colocando o pé no freio, se adiam projetos novos e, enfim, as vendas em muitos setores vão ficar pelo menos estagnadas no ano que vem (como prevêem as montadoras, por exemplo). Logo, as perspectivas para o emprego não são boas. Mas os dados econômicos de setembro estão velhos e os de outubro estão muito estremecidos pelo tumulto financeiro. Está difícil ainda de saber o que se passa na economia brasileira.


Bem, isto posto, o editor da primeira página da Folha não parece levar em consideração a opinião do seu colega especialista em economia para fazer a manchete do jornal. "Indústria fecha vagas e inadimplência cresce" é o chamativo título da primeira, acompanhado do texto "A crise financeira já começou a provocar demissões na indústria paulista e a elevar a inadimplência. O nível de emprego industrial recuou 0,41% em outubro, segundo a Fiesp. É a primeira retração no mês em cinco anos. Foram fechados 10 mil postos de trabalho em outubro, mês em que as indústrias costumam aumentar as contratações para atender às encomendas de Natal", que está em flagrante contradição com a correta análise de Vinicius.

Quem acompanha os jornais brasileiros já percebeu que a direção da Folha está em verdadeiro êxtase com a crise financeira mundial e vem imprimindo no jornal um tom que beira o ridículo, pois praticamente se comemoram as más notícias. Claro, tudo isto na esperança de que a popularidade do presidente Lula seja afetada e o candidato do jornal, o governador José Serra (PSDB), acabe beneficiado eleitoralmente. Para a Folha, quanto pior para o Brasil, melhor para Serra...

Comentários

  1. Luiz, me desculpe pelo jeito enérgico com que vou me expressar aqui, mas este jornaleco (Força Serra Presidente) já encheu o saco há muito tempo! Como, aliás, já encheram o saco Globo, Veja, Estadão (ou será Estadinho?), Isto É, Época, Jornal do Brasil, SBT, entre outros. Para mim, e acho que talvez para milhões de brasileiros, seria uma verdadeira bênção para o Brasil se esses meios de comunicação corruptos e golpistas falissem.

    ResponderExcluir
  2. Mas a matéria presta um serviço: é a primeira vez que a Folha admite que o nível de emprego vinha subindo por cinco anos consecutivos...
    Marcio Achilles Sardi

    ResponderExcluir
  3. Caro Luiz: Não sei se vc viu, mas o editorial de quinta feira passada do Estadão foi uma das maiores demonstrações de como um jornal se torna um mero assessor de imprensa do Serra. O título ja fala tudo : "O PAC paulista é melhor" O texto é infantil e não contesta nenhum dado q foi passado pelo governo estadual e dá a entender q o Serra ta fazendo tudo e mais um pouco aqui no estado de SP e q tudo esta uma maravilha. Simplesmente ridículo e chapa-branca.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

O Entrelinhas não censura comentaristas, mas não publica ofensas pessoais e comentários com uso de expressões chulas. Os comentários serão moderados, mas são sempre muito bem vindos.

Postagens mais visitadas deste blog

Rogério Andrade, o rei do bicho

No dia 23 de novembro do ano passado, o pai de Rodrigo Silva das Neves, cabo da Polícia Militar do Rio de Janeiro, foi ao batalhão da PM de Bangu, na Zona Oeste carioca, fazer um pedido. O homem, um subtenente bombeiro reformado, queria que os policiais do quartel parassem de bater na porta de sua casa à procura do filho — cuja prisão fora decretada na semana anterior, sob a acusação de ser um dos responsáveis pelo assassinato cinematográfico do bicheiro Fernando Iggnácio, executado com tiros de fuzil à luz do dia num heliporto da Barra da Tijuca. Quando soube que estava sendo procurado, o PM fugiu, virou desertor. Como morava numa das maiores favelas da região, a Vila Aliança, o pai de Neves estava preocupado com “ameaças e cobranças” de traficantes que dominam o local por causa da presença frequente de policiais. Antes de sair, no entanto, o bombeiro confidenciou aos agentes do Serviço Reservado do quartel que, “de fato, seu filho trabalhava como segurança do contraventor Rogério And...

Dica da semana: Nine Perfect Strangers, série

Joia no Prime traz drama perturbador que consagra Nicole Kidman  Dizer que o tempo não passou para Nicole Kidman seria tão leviano quanto irresponsável. E isso é bom. No charme (ainda fatal) de seus 54 anos, a australiana mostra que tem muita lenha para queimar e escancara o quanto as décadas de experiência lhe fizeram bem, principalmente para composição de personagens mais complexas e maduras. Nada de gatinhas vulneráveis. Ancorando a nova série Nine Perfect Strangers, disponível na Amazon Prime Video, a eterna suicide blonde de Hollywood – ok, vamos dividir o posto com Sharon Stone – empresta toda sua aura de diva para dar vida à mística Masha, uma espécie de guru dos novos tempos que desenvolveu uma técnica terapêutica polêmica, pouco acessível e para lá de exclusiva. Em um lúdico e misterioso retiro, a “Tranquillum House”, a exotérica propõe uma nova abordagem de tratamento para condições mentais e psicossociais manifestadas de diferentes formas em cada um dos nove estranhos, “...

No pior clube

O livro O Crepúsculo da Democracia, da escritora e jornalista norte-americana Anne Applebaum, começa numa festa de Réveillon. O local: Chobielin, na zona rural da Polônia. A data: a virada de 1999 para o ano 2000. O prato principal: ensopado de carne com beterrabas assadas, preparado por Applebaum e sua sogra. A escritora, que já recebeu o maior prêmio do jornalismo nos Estados Unidos, o Pulitzer, é casada com um político polonês, Radosław Sikorski – na época, ele ocupava o cargo de ministro do Interior em seu país. Os convidados: escritores, jornalistas, diplomatas e políticos. Segundo Applebaum, eles se definiam, em sua maioria, como “liberais” – “pró-Europa, pró-estado de direito, pró-mercado” – oscilando entre a centro-direita e a centro-esquerda. Como costuma ocorrer nas festas de Réveillon, todos estavam meio altos e muito otimistas em relação ao futuro. Todos, é claro, eram defensores da democracia – o regime que, no limiar do século XXI, parecia ser o destino inevitável de toda...