Pular para o conteúdo principal

Eleições no Reino Unido: como aposta arriscada de Boris Johnson saiu vitoriosa

Vale a pena ler a análise de Laura Kuenssberg, editora de política da BBC, sobre a eleição na Inglaterra. Escreve a jornalista: Boris Johnson apostou que seria capaz de ganhar a eleição com o apoio de cidades e comunidades onde votar no Partido Conservador era quase um pecado. E venceu.
A maioria conservadora terá um efeito quase imediato no país - a menos que algo de novo aconteça, o Reino Unido vai deixar a União Europeia no mês que vem, já que Johnson vai contar com o apoio de novos parlamentares conservadores que vão aprovar sua proposta para o Brexit. A posição dele agora é forte o suficiente para subjugar qualquer oposição.
Pode haver infinitas discussões sobre a natureza deste relacionamento no longo prazo, mas não seremos mais parte do bloco econômico que integramos há quatro décadas. O Brexit, pelo menos a primeira parte - para usar o slogan de Johnson - vai acontecer.
Além disso, o resultado final, a ampla maioria conservadora, pode influenciar a capacidade do primeiro-ministro de implementar reformas.
Ele vai enfrentar oponentes diferentes - isso é claro.
A saída de Jeremy Corbyn da liderança do Partido Trabalhista é certa, falta apenas decidir quando isso vai acontecer, mas o rumo que o partido vai tomar já é alvo de uma amarga disputa. A perda é uma mistura da falta de liderança e da tortura em relação ao Brexit.
Mas explicar a derrota e planejar a mudança provavelmente envolverá meses de recriminação.
Os liberais democratas também saíram frustrados - a própria líder do partido, Jo Swinson, perdeu seu assento no Parlamento, assim como Nigel Dodds, vice-líder do Partido Unionista Democrático (DUP, na sigla em inglês). Essa eleição também proporcionou uma grande mudança no elenco político.
Mas não há nada claro sobre o que espera Johnson, mesmo com a ampla maioria que este país não via há anos.
Há grandes diferenças entre a Escócia e Inglaterra, por exemplo, e também entre as gerações políticas.
O povo acaba de conceder a Johnson uma quantidade enorme de poder político.
Dado o que está por vir, é uma moeda de troca que ele vai precisar gastar - e gastar bem.

Resultado da eleição
Os eleitores britânicos foram às urnas na quinta-feira eleger os 650 membros da Câmara dos Comuns, uma das duas Casas do Parlamento.
Com praticamente 100% das urnas apuradas, o placar mostra que os conservadores vêm em primeiro, com 364 cadeiras, seguidos dos trabalhistas com 203, do Partido Nacional Escocês (SNP) com 48 e dos liberais-democratas com 11. O Partido do Brexit, esvaziado na estratégia de apoiar Johnson, acabou sem ter conseguido um assento sequer.
Neste cenário, os conservadores terão sua mais ampla maioria no Parlamento desde a vitória da primeira-ministra Margaret Thatcher em 1987.



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Abaixo o cancelamento

A internet virou o novo tribunal da inquisição — e isso é péssimo Só se fala na rapper Karol Conká, que saiu do BBB, da Rede Globo, com a maior votação da história do programa. Rejeição de 99,17% não é pouca coisa. A questão de seu comportamento ter sido odioso aos olhos do público não é o principal para mim. Sou o primeiro a reconhecer que errei muitas vezes. Tive atitudes pavorosas com amigos e relacionamentos, das quais me arrependo até hoje. Se alguma das vezes em que derrapei como ser humano tivesse ido parar na internet, o que aconteceria? Talvez tivesse de aprender russo ou mandarim para recomeçar a carreira em paragens distantes. Todos nós já fizemos algo de que não nos orgulhamos, falamos bobagem, brincadeiras de mau gosto etc… Recentemente, o ator Armie Hammer, de Me Chame pelo Seu Nome, sofreu acusações de abuso contra mulheres. Finalmente, através do print de uma conversa, acabou sendo responsabilizado também por canibalismo. Pavoroso. Tudo isso foi parar na internet. Ergue...

Rogério Andrade, o rei do bicho

No dia 23 de novembro do ano passado, o pai de Rodrigo Silva das Neves, cabo da Polícia Militar do Rio de Janeiro, foi ao batalhão da PM de Bangu, na Zona Oeste carioca, fazer um pedido. O homem, um subtenente bombeiro reformado, queria que os policiais do quartel parassem de bater na porta de sua casa à procura do filho — cuja prisão fora decretada na semana anterior, sob a acusação de ser um dos responsáveis pelo assassinato cinematográfico do bicheiro Fernando Iggnácio, executado com tiros de fuzil à luz do dia num heliporto da Barra da Tijuca. Quando soube que estava sendo procurado, o PM fugiu, virou desertor. Como morava numa das maiores favelas da região, a Vila Aliança, o pai de Neves estava preocupado com “ameaças e cobranças” de traficantes que dominam o local por causa da presença frequente de policiais. Antes de sair, no entanto, o bombeiro confidenciou aos agentes do Serviço Reservado do quartel que, “de fato, seu filho trabalhava como segurança do contraventor Rogério And...

No pior clube

O livro O Crepúsculo da Democracia, da escritora e jornalista norte-americana Anne Applebaum, começa numa festa de Réveillon. O local: Chobielin, na zona rural da Polônia. A data: a virada de 1999 para o ano 2000. O prato principal: ensopado de carne com beterrabas assadas, preparado por Applebaum e sua sogra. A escritora, que já recebeu o maior prêmio do jornalismo nos Estados Unidos, o Pulitzer, é casada com um político polonês, Radosław Sikorski – na época, ele ocupava o cargo de ministro do Interior em seu país. Os convidados: escritores, jornalistas, diplomatas e políticos. Segundo Applebaum, eles se definiam, em sua maioria, como “liberais” – “pró-Europa, pró-estado de direito, pró-mercado” – oscilando entre a centro-direita e a centro-esquerda. Como costuma ocorrer nas festas de Réveillon, todos estavam meio altos e muito otimistas em relação ao futuro. Todos, é claro, eram defensores da democracia – o regime que, no limiar do século XXI, parecia ser o destino inevitável de toda...