Melhor livro de King com interpretação magistral de Hanks na adaptação ao cinema
(Advertência: se o leitor ainda não viu o filme nem leu o livro, esta resenha contém spoiler sobre eles.) Stephen King é um dos escritores mais vendidos no mundo, autor de uma obra vasta e que tem destaques do nível de O Iluminado, Carrie, a Estranha, Buick 8, uma obra-prima e mais recentemente, Cemitério Maldito, que ganhou uma refilmagem.
King também é um dos escritores que mais tem seus livros transformados em roteiros cinematográficos por Hollywood. Ao todo, o autor coleciona mais de 400 publicações. Entre elas estão romances, contos, poemas, antologias e livros de não ficção. Além disso, muitas dessas obras já foram adaptadas para o cinema. Aos 72 anos, Stephen King já vendeu mais de 400 milhões de cópias, com publicações de mais de 40 países.
À Espera de um Milagre é, na opinião deste colunista, que já leu bastante coisa de King, mas não tudo, claro, o melhor livro que escreveu. E o filme, uma das melhores adaptações, porque obviamente O Iluminado, com a absurda interpretação de Jack Nicholson, é a melhor, sem qualquer sobra de dúvida.
King apresenta uma história, narrada em flashback, que se passa durante a Grande Depressão, em 1932, sobre a história de John Coffey e Paul Edgecom, o primeiro um presidiário condenado à morte por duplo assassinato e o segundo, o agente penitenciário que cuida do corredor da morte – The Green Mile, porque o corredor é verde e se estende por uma milha.
É Paul quem narra, em primeira pessoa, a história, durante sua internação em uma clínica de repouso, em 1996. No filme dirigido por Frank Darabont, Paul é interpretado magistralmente por Tom Hanks e Coffey por Michael Clarke Duncan, também brilhante. Todo o elenco, por sinal, atua muito bem, e são muitos os personagens. O filme recebeu quatro indicações ao Oscar, nas categorias de melhor Filme, melhor ator coadjuvante para Clarke Duncan, melhor som e melhor roteiro adaptado. Com o tempo Paul percebe que Coffey possui capacidades de cura inexplicáveis que ele usa no próprio Paul para curá-lo de uma infecção urinária e uma segunda vez para ressucitar o ratinho Mr. Jingles, de um outro preso.
Pessoa tímida e simplória, Coffey gera empatia e se sensibiliza com os sentimentos dos que estão ao seu redor. Em uma das noites os guardas tiram clandestinamente Coffey da cela e da penitenciária para levá-lo para a casa do Diretor do Presídio, cuja esposa está com tumor cerebral inoperável, curado por Coffey.
Evidentemente, não vamos contar como o livro e filme terminam, mas explicar o que é tão interessante no enredo do livro e no filme. Em primeiro lugar, racismo. Coffey é claramente uma vítima do sistema tão bem retratado no documentário da Netflix “A 13ª Emenda”, que revela como os EUA implantaram uma política pública de encarceramento em massa para manter vigente a escravidão, na prática. Coffey é apenas mais um negro entre os 90% de pretos, pobres e brancos quase pretos de tão pobres, como canta Caetano, mantidos em cana nos EUA. Tem mais, Coffey é vítima de um erro judicial e não tem direito à apelação, ao contrário do companheiro branco e rico que tem sua pena comutada para prisão perpétua.
Outra questão trabalhada por King, presente em quase todos seus livros ficcionais, é a existência do sobrenatural, daquilo que não dominamos, não sabemos lidar, temos medo e com o qual nos assombramos. A religião trata deste tema, está em todos os textos, na Bíblia, Alcorão, Torá, está na romaria dos mutilados, na fantasia dos infelizes, no dia a dia das meretrizes, está na natureza, como canta Chico. E está na obra de Stephen King, é sua melhor contribuição para a contemporaneidade, porque deste tema, fugimos sempre, como o diabo foge da cruz. Mas é preciso enfrentá-lo, porque somos nada, somos pequenos e efêmeros. Coffey, Paul e Mr. Jingles estão aí para nos lembrar que humanos somos e como tal, um dia pereceremos, seja na cadeira elétrica ou por doença, idade, mas partiremos. Escreva mais, Stephen King, e vida os 130 anos de seus personagens! Somos e seremos sempre gratos, muito gratos. Por Luiz Antonio Magalhães em 6/12/19.
(Advertência: se o leitor ainda não viu o filme nem leu o livro, esta resenha contém spoiler sobre eles.) Stephen King é um dos escritores mais vendidos no mundo, autor de uma obra vasta e que tem destaques do nível de O Iluminado, Carrie, a Estranha, Buick 8, uma obra-prima e mais recentemente, Cemitério Maldito, que ganhou uma refilmagem.
King também é um dos escritores que mais tem seus livros transformados em roteiros cinematográficos por Hollywood. Ao todo, o autor coleciona mais de 400 publicações. Entre elas estão romances, contos, poemas, antologias e livros de não ficção. Além disso, muitas dessas obras já foram adaptadas para o cinema. Aos 72 anos, Stephen King já vendeu mais de 400 milhões de cópias, com publicações de mais de 40 países.
À Espera de um Milagre é, na opinião deste colunista, que já leu bastante coisa de King, mas não tudo, claro, o melhor livro que escreveu. E o filme, uma das melhores adaptações, porque obviamente O Iluminado, com a absurda interpretação de Jack Nicholson, é a melhor, sem qualquer sobra de dúvida.
King apresenta uma história, narrada em flashback, que se passa durante a Grande Depressão, em 1932, sobre a história de John Coffey e Paul Edgecom, o primeiro um presidiário condenado à morte por duplo assassinato e o segundo, o agente penitenciário que cuida do corredor da morte – The Green Mile, porque o corredor é verde e se estende por uma milha.
É Paul quem narra, em primeira pessoa, a história, durante sua internação em uma clínica de repouso, em 1996. No filme dirigido por Frank Darabont, Paul é interpretado magistralmente por Tom Hanks e Coffey por Michael Clarke Duncan, também brilhante. Todo o elenco, por sinal, atua muito bem, e são muitos os personagens. O filme recebeu quatro indicações ao Oscar, nas categorias de melhor Filme, melhor ator coadjuvante para Clarke Duncan, melhor som e melhor roteiro adaptado. Com o tempo Paul percebe que Coffey possui capacidades de cura inexplicáveis que ele usa no próprio Paul para curá-lo de uma infecção urinária e uma segunda vez para ressucitar o ratinho Mr. Jingles, de um outro preso.
Pessoa tímida e simplória, Coffey gera empatia e se sensibiliza com os sentimentos dos que estão ao seu redor. Em uma das noites os guardas tiram clandestinamente Coffey da cela e da penitenciária para levá-lo para a casa do Diretor do Presídio, cuja esposa está com tumor cerebral inoperável, curado por Coffey.
Evidentemente, não vamos contar como o livro e filme terminam, mas explicar o que é tão interessante no enredo do livro e no filme. Em primeiro lugar, racismo. Coffey é claramente uma vítima do sistema tão bem retratado no documentário da Netflix “A 13ª Emenda”, que revela como os EUA implantaram uma política pública de encarceramento em massa para manter vigente a escravidão, na prática. Coffey é apenas mais um negro entre os 90% de pretos, pobres e brancos quase pretos de tão pobres, como canta Caetano, mantidos em cana nos EUA. Tem mais, Coffey é vítima de um erro judicial e não tem direito à apelação, ao contrário do companheiro branco e rico que tem sua pena comutada para prisão perpétua.
Outra questão trabalhada por King, presente em quase todos seus livros ficcionais, é a existência do sobrenatural, daquilo que não dominamos, não sabemos lidar, temos medo e com o qual nos assombramos. A religião trata deste tema, está em todos os textos, na Bíblia, Alcorão, Torá, está na romaria dos mutilados, na fantasia dos infelizes, no dia a dia das meretrizes, está na natureza, como canta Chico. E está na obra de Stephen King, é sua melhor contribuição para a contemporaneidade, porque deste tema, fugimos sempre, como o diabo foge da cruz. Mas é preciso enfrentá-lo, porque somos nada, somos pequenos e efêmeros. Coffey, Paul e Mr. Jingles estão aí para nos lembrar que humanos somos e como tal, um dia pereceremos, seja na cadeira elétrica ou por doença, idade, mas partiremos. Escreva mais, Stephen King, e vida os 130 anos de seus personagens! Somos e seremos sempre gratos, muito gratos. Por Luiz Antonio Magalhães em 6/12/19.
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