A julgar pelo discurso proferido pelo presidente da República hoje na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, o Brasil está dando uma guinada radical em sua política externa. E o principal responsável pelo movimento é Olavo de Carvalho, residente em Richmond, no estado norte-americano de Virgínia, de onde escreve incansavelmente no Twitter e outras redes sociais, além de ter apadrinhado a indicação do atual chanceler e trabalhar para a nomeação de filho do mandatário para a embaixada em Washington.
O Brasil tem a prerrogativa de abrir a Assembleia Geral Especial em homenagem a Oswaldo Aranha, chanceler que presidiu a primeira sessão, realizada em 1947, e a Segunda Assembleia Geral Ordinária, no mesmo ano. As duas reuniões tiveram o papel histórico de determinar – por meio da resolução 181 da Assembleia Geral – a partição da Palestina entre árabes e judeus, abrindo caminho para a criação do Estado de Israel.
Desde então, e mesmo antes disto, a política exterior do nosso país era marcada pelo posicionamento aberto ao diálogo com todas as nações, atuando na mediação de diversos conflitos. Durante a Guerra Fria, em pleno regime militar, o Brasil participou do movimento dos não-alinhados, países em desenvolvimento que se uniram com objetivo de manter uma posição neutra e não associada a nenhum dos grandes blocos, liderados por Estados Unidos e a então União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.
Até a chegada de Bolsonaro ao poder, a política externa teve uma linha de continuidade. Sob Sarney, que reatou relações com Cuba, Collor, Fernando Henrique, Lula e Dilma, não ocorreu qualquer descontinuidade, embora o presidente petista tenha indicado um leve deslocamento para uma gestão pragmática, visando o desenvolvimento de novos negócios de empresas brasileiras no exterior, condizente com sua política de criação dos chamados “campeões nacionais” – multinacionais de capital majoritariamente nacional estimuladas por recursos do banco de fomento a ganhar espaço no Oriente Médio, África e mesmo nos mercados maduros dos EUA e Europa.
No tocante ao tratamento que o país dava ao meio ambiente, vale lembrar que sob Fernando Collor foi realizada a Conferência Rio-92, divisor de águas do debate sobre o tema.
Em que pese o caráter histriônico de várias passagens – definitivamente, o presidente incorporou o personagem criado durante a campanha de homem simplório, quase tosco, pouca cultura e muito voluntarismo para o combate ao “mal”, personificado pelo “petê” -, nunca se viu antes uma fala tão agressiva e divergente dos valores da nossa política externa tal como a conhecemos até aqui.
E todos os tópicos listados, realmente todos, estão alinhados com o que tem escrito Olavo de Carvalho. O pai do discurso de hoje sem dúvida é astrólogo, Mago da Virgínia, como se autodenomina. Ele está sendo capaz de mudar a história, alternando o posicionamento brasileiro no xadrez mundial, até o momento sem explicitar uma nova direção a seguir. O que temos para hoje, a julgar pelo que nos foi apresentado, é uma defesa extremada da política ambiental da atual gestão (qual, resta saber?) e o ataque frontal a uma ideologia que não existe mais, a um regime que já não é praticado em país algum, salvo, talvez, a Coréia do Norte. Noves fora a posição sobre gênero e costumes, que certamente arranca risos envergonhados de quem escuta, não há nada de propositivo no discurso do presidente brasileiro.
Agora é aguardar a repercussão mundial e tentar entender qual o lugar do Brasil no xadrez da política internacional. No tocante à Amazônia, o blog aposta que retrocedemos algumas casinhas e vamos ter sérios problemas para justificar os princípios de soberania nacional em relação a nossa floresta. Uma pena.
O Brasil tem a prerrogativa de abrir a Assembleia Geral Especial em homenagem a Oswaldo Aranha, chanceler que presidiu a primeira sessão, realizada em 1947, e a Segunda Assembleia Geral Ordinária, no mesmo ano. As duas reuniões tiveram o papel histórico de determinar – por meio da resolução 181 da Assembleia Geral – a partição da Palestina entre árabes e judeus, abrindo caminho para a criação do Estado de Israel.
Desde então, e mesmo antes disto, a política exterior do nosso país era marcada pelo posicionamento aberto ao diálogo com todas as nações, atuando na mediação de diversos conflitos. Durante a Guerra Fria, em pleno regime militar, o Brasil participou do movimento dos não-alinhados, países em desenvolvimento que se uniram com objetivo de manter uma posição neutra e não associada a nenhum dos grandes blocos, liderados por Estados Unidos e a então União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.
Até a chegada de Bolsonaro ao poder, a política externa teve uma linha de continuidade. Sob Sarney, que reatou relações com Cuba, Collor, Fernando Henrique, Lula e Dilma, não ocorreu qualquer descontinuidade, embora o presidente petista tenha indicado um leve deslocamento para uma gestão pragmática, visando o desenvolvimento de novos negócios de empresas brasileiras no exterior, condizente com sua política de criação dos chamados “campeões nacionais” – multinacionais de capital majoritariamente nacional estimuladas por recursos do banco de fomento a ganhar espaço no Oriente Médio, África e mesmo nos mercados maduros dos EUA e Europa.
No tocante ao tratamento que o país dava ao meio ambiente, vale lembrar que sob Fernando Collor foi realizada a Conferência Rio-92, divisor de águas do debate sobre o tema.
Mudança radical
O discurso de hoje, proferido pelo presidente na ONU, sinaliza uma ruptura em relação a todos os pontos acima. Jair Bolsonaro foi de uma clareza espantosa, deixando pouca margem para dúvidas: negou qualquer desmatamento da floresta amazônica, em um trecho que deixa ambientalistas de cabelo em pé; criticou diretamente os governos da França, Venezuela e Cuba; afirmou que o Brasil era antes de sua eleição um país “ameaçado pelo socialismo” e exaltou valores da “família”, lembrando que "sistemas ideológicos de pensamento" estariam invadindo escolas, universidades e meios de comunicação para “subverter o sexo biológico das crianças”.Em que pese o caráter histriônico de várias passagens – definitivamente, o presidente incorporou o personagem criado durante a campanha de homem simplório, quase tosco, pouca cultura e muito voluntarismo para o combate ao “mal”, personificado pelo “petê” -, nunca se viu antes uma fala tão agressiva e divergente dos valores da nossa política externa tal como a conhecemos até aqui.
E todos os tópicos listados, realmente todos, estão alinhados com o que tem escrito Olavo de Carvalho. O pai do discurso de hoje sem dúvida é astrólogo, Mago da Virgínia, como se autodenomina. Ele está sendo capaz de mudar a história, alternando o posicionamento brasileiro no xadrez mundial, até o momento sem explicitar uma nova direção a seguir. O que temos para hoje, a julgar pelo que nos foi apresentado, é uma defesa extremada da política ambiental da atual gestão (qual, resta saber?) e o ataque frontal a uma ideologia que não existe mais, a um regime que já não é praticado em país algum, salvo, talvez, a Coréia do Norte. Noves fora a posição sobre gênero e costumes, que certamente arranca risos envergonhados de quem escuta, não há nada de propositivo no discurso do presidente brasileiro.
Agora é aguardar a repercussão mundial e tentar entender qual o lugar do Brasil no xadrez da política internacional. No tocante à Amazônia, o blog aposta que retrocedemos algumas casinhas e vamos ter sérios problemas para justificar os princípios de soberania nacional em relação a nossa floresta. Uma pena.
by LAM, 24/9/219
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