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Sobre o caso Ágatha 1 - Reinaldo escreve

Primeiro o texto do Tio Rei, depois voltamos com o do blog.


Duas imagens e 2 tipos morais. Ou: A “conja” do “conje” quer mais repressão

Reinaldo Azevedo

Duas imagens que remetem ao mesmo tema e que traduzem, como posso dizer?, duas qualidades morais de brasileiros.
Esta, abaixo, é uma ilustração de autoria de João Montanaro, cartunista, chargista e ilustrador de 23 anos. Artista precoce e de talento raro, começou a publicar regularmente seus trabalhos na Folha aos 14 anos.
Ele substitui, com se vê, o lema da bandeira por um trecho do pacote que Sergio Moro que aprovar para "combater a violência". O doutor quer, entre outras coisas, mudar o Artigo 23 dó Código Penal que trata da legítima defesa. No caso, o agente do Estado que cometesse as maiores atrocidades sob o pretexto de se defender estaria livre desde que pudesse alegar que agiu movido por "surpresa, medo ou violenta emoção".
A leitura de Montanaro explica o resto.


Agora vejam esta outra imagem:


Foi publicada por Rosangela Moro, a "conja" do "conje", depois da morte da menina Ágatha Félix, de 8 anos, quinta criança vítima fatal de bala perdida neste ano, com um total de 16 atingidas
A doutora, mulher do nosso moralista modelo, está preocupada com a indisciplina das crianças e com a falta de medo — e, em medo, a família é especialista — que os infantes têm hoje das autoridades.
A "conja" — e certamente ela se considera um modelo a ser seguido — acha que o medo tem de ser de tal sorte definidor da moral e dos bons costumes que ela se lembra com saudade do tempo em que temia até a "tia que ficava no portão".
Se e quando isso voltar a acontecer, o Brasil será formado por um hordas de gigantes morais, a exemplo da doutora Rosanja.
E não é um moralismo qualquer. Há algum tempo, agarrada à sua bolsa Gucci, ela deu uma palestra para outras mulheres ricas, num shopping também rico de São Paulo, sobre os males do assistencialismo.
Nada tenho contra grifes. Se gosto, tenho as que meu dinheiro pode comprar. A questão está no pudor.
No seu tempo, crianças "morriam de medo da tia". Nos tempos em que seu marido é ministro da Justiça, crianças morrem não de medo, mas de bala perdida. E o "conje" quer é mais. As mudanças que ele propõe nos artigo 23 e 25 do Código Penal legalizam, na prática, o infanticídio de pretos de tão pobres e pobres de tão pretos em nome da segurança pública.
Mas a Dona Conja anda com saudade de mais repressão…

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