Pular para o conteúdo principal

A Operação Lava Jato acabou?

Uma parcela significativa da esquerda está comemorando nas redes sociais o que seria o fim da Operação Lava Jato, iniciada em 17 de março de 2014 com a prisão do doleiro Alberto Youssef, após a formação de maioria no Supremo Tribunal Federal pela anulação de uma condenação no âmbito da Operação, o que criaria jurisprudência para todos os demais réus sentenciados, incluindo aí o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.












Cautela e caldo de galinha, no entanto, não fazem mal a ninguém, e uma análise fria dos fatos mostra que o tal fim da Lava Jato está muito longe de acontecer. Em primeiro lugar, o presidente da Corte, Dias Toffoli, disse hoje que, na sessão da próxima quarta-feira (2), vai propor uma modulação do entendimento, ou seja, uma aplicação restrita da tese a determinados casos. “Trarei delimitações a respeito da aplicação”, afirmou. Ou seja, é possível que boa parte dos condenados, incluindo Lula, permaneçam cumprindo as penas que receberam no âmbito da Operação.
Ainda que todas as sentenças fossem anuladas, no entanto, este blog duvida que isto significasse o fim da LJ. A Operação sempre teve fundo político e enquanto o ex-Juiz Sérgio Moro estiver à frente do Ministério da Justiça, a Lava Jato será prestigiada, inclusive com aporte de recursos.
A esquerda vive um dilema muito bem percebido pelo ex-presidente Lula: não dá para ir contra a condenação e prisão de notórios corruptos, seria como ser contra a luz elétrica e água encanada. No Brasil de hoje, há apenas duas unanimidades: o Operação Lava Jato é um avanço em um país que sempre tolerou a corrupção e a segunda, o Palmeiras não tem mundial.
Noves fora zero, apenas se Moro cair em desgraça e a popularidade da Operação despencar é que o cenário poderia indicar o fim da Lava Jato. Achar que acaba com uma canetada do STF é mais do que ingenuidade, é entrar em estado de negação.
Para quem quer entender mais sobre a história da LJ, o blog recomenda a série O Mecanismo, que está disponível na Netflix. A leitura de Padilha, especialmente na segunda temporada, é muito interessante.#ficaadica


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Rogério Andrade, o rei do bicho

No dia 23 de novembro do ano passado, o pai de Rodrigo Silva das Neves, cabo da Polícia Militar do Rio de Janeiro, foi ao batalhão da PM de Bangu, na Zona Oeste carioca, fazer um pedido. O homem, um subtenente bombeiro reformado, queria que os policiais do quartel parassem de bater na porta de sua casa à procura do filho — cuja prisão fora decretada na semana anterior, sob a acusação de ser um dos responsáveis pelo assassinato cinematográfico do bicheiro Fernando Iggnácio, executado com tiros de fuzil à luz do dia num heliporto da Barra da Tijuca. Quando soube que estava sendo procurado, o PM fugiu, virou desertor. Como morava numa das maiores favelas da região, a Vila Aliança, o pai de Neves estava preocupado com “ameaças e cobranças” de traficantes que dominam o local por causa da presença frequente de policiais. Antes de sair, no entanto, o bombeiro confidenciou aos agentes do Serviço Reservado do quartel que, “de fato, seu filho trabalhava como segurança do contraventor Rogério And...

Dica da semana: Nine Perfect Strangers, série

Joia no Prime traz drama perturbador que consagra Nicole Kidman  Dizer que o tempo não passou para Nicole Kidman seria tão leviano quanto irresponsável. E isso é bom. No charme (ainda fatal) de seus 54 anos, a australiana mostra que tem muita lenha para queimar e escancara o quanto as décadas de experiência lhe fizeram bem, principalmente para composição de personagens mais complexas e maduras. Nada de gatinhas vulneráveis. Ancorando a nova série Nine Perfect Strangers, disponível na Amazon Prime Video, a eterna suicide blonde de Hollywood – ok, vamos dividir o posto com Sharon Stone – empresta toda sua aura de diva para dar vida à mística Masha, uma espécie de guru dos novos tempos que desenvolveu uma técnica terapêutica polêmica, pouco acessível e para lá de exclusiva. Em um lúdico e misterioso retiro, a “Tranquillum House”, a exotérica propõe uma nova abordagem de tratamento para condições mentais e psicossociais manifestadas de diferentes formas em cada um dos nove estranhos, “...

No pior clube

O livro O Crepúsculo da Democracia, da escritora e jornalista norte-americana Anne Applebaum, começa numa festa de Réveillon. O local: Chobielin, na zona rural da Polônia. A data: a virada de 1999 para o ano 2000. O prato principal: ensopado de carne com beterrabas assadas, preparado por Applebaum e sua sogra. A escritora, que já recebeu o maior prêmio do jornalismo nos Estados Unidos, o Pulitzer, é casada com um político polonês, Radosław Sikorski – na época, ele ocupava o cargo de ministro do Interior em seu país. Os convidados: escritores, jornalistas, diplomatas e políticos. Segundo Applebaum, eles se definiam, em sua maioria, como “liberais” – “pró-Europa, pró-estado de direito, pró-mercado” – oscilando entre a centro-direita e a centro-esquerda. Como costuma ocorrer nas festas de Réveillon, todos estavam meio altos e muito otimistas em relação ao futuro. Todos, é claro, eram defensores da democracia – o regime que, no limiar do século XXI, parecia ser o destino inevitável de toda...